No Pará, registro de pessoas desaparecidas aumenta mais de 40% em 4 meses
Em 2025, de janeiro a abril, foram registrados 410 casos de desaparecimento de pessoas no Pará. Em 2024, no mesmo período do ano, foram 290 registros, aponta Segup
Houve um aumento de 41,38% nos casos de desaparecimento de pessoas no Pará no primeiro quadrimestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Em 2025, de janeiro a abril, foram registrados 410 casos de desaparecimento de pessoas no Pará. Em 2024, no mesmo período, foram 290 registros. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).
Em 2024 e 2023, de janeiro a dezembro, foram contabilizados, respectivamente, 1.044 e 1.055 ocorrências. Nos anos de 2025, 2024 e 2023, especificamente no mês de abril, foram registradas, respectivamente, 84, 76 e 95 ocorrências. A Segup informou ainda que os dados são referentes a todos os registros feitos no ato do desaparecimento. No entanto, não se pode afirmar que todas as pessoas permanecem desaparecidas, pois muitas não retornam para retificar as ocorrências e informar que já foram localizadas.
Esclarecimentos do Delegado Maurício Teixeira
O delegado Maurício Teixeira, titular da Delegacia de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil do Pará, contou que, em 2024, dos mais de mil boletins de ocorrência de desaparecimento de pessoas no Estado, 764 foram localizadas. Em 2025, até o final de abril, foram localizadas 131 pessoas. Mas as investigações continuam. “Pode ser que mais pessoas tenham sido localizadas, mas, oficialmente, essa informação ainda não chegou à Polícia Civil”, afirmou.
O fato de a pessoa vir registrar a ocorrência e, às vezes, localizar a pessoa logo em seguida, faz com que ache que não precisa informar a polícia. “Mas a gente sempre comunica que é necessário retornar, porque, senão, vai continuar constando como desaparecida no sistema”, explicou. O delegado disse que essa comunicação do desaparecimento tem que ser imediata. Quando familiares, amigos ou pessoas próximas identificarem que a pessoa fugiu da rotina, ou que há indícios de desaparecimento, devem procurar a unidade policial mais próxima e registrar o boletim de ocorrência. Assim, a polícia pode começar a investigar o desaparecimento.
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A Importância de Comunicar o Desaparecimento
É importante comunicar o desaparecimento o quanto antes, diz o delegado. É fundamental registrar rapidamente, porque o desaparecimento pode ter inúmeras causas. Uma delas é o chamado desaparecimento forçado, que pode envolver alguma infração penal. Se for comunicado imediatamente, a polícia tem mais chances de cessar qualquer ameaça ou violência.
Ele destacou os casos com mais dificuldade, que também são os mais comuns: normalmente, situações em que a pessoa desaparecida tem algum problema de saúde mental, é usuária de drogas ou está envolvida em situações que dificultam o acesso a informações. Nesses casos, há escassez de dados sobre a pessoa.
O delegado Maurício Teixeira disse que não existe uma média de tempo para localizar uma pessoa desaparecida. “Inclusive, havia aquela ideia de que era necessário aguardar 24 horas para registrar o desaparecimento. Isso acontecia porque a maioria das pessoas realmente retornava para casa nesse período. Só que, nos casos em que a pessoa não retorna, essa espera não faz sentido. Por isso, essa ideia das 24 horas não existe e nunca existiu. Identificou que a pessoa está desaparecida? Imediatamente registre o boletim de ocorrência”, orientou.
O delegado também deixou uma mensagem à sociedade, sobretudo para quem tem um familiar desaparecido. “Não desista. Nós já conseguimos localizar pessoas que estavam desaparecidas há mais de 30 anos”, disse. “Eu sei que é uma situação muito delicada, mas o papel dos familiares e das pessoas próximas é fundamental na localização. Eu diria que, inclusive, é o papel mais importante. Então, não desista. Conte com a gente. Conte também com o papel da imprensa, que tem sido fundamental nesse trabalho”, afirmou.
Desaparecimento de Crianças e Adolescentes
A delegada Cláudia Renata Guedes e Silva coordena o Serviço de Identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (Silcade), que funciona no prédio da Data (Divisão de Atendimento ao Adolescente). Ela explicou as providências a serem adotadas em caso de desaparecimento de uma criança ou adolescente.
“Os pais ou responsáveis devem estar unidos e levar o RG, a certidão de nascimento e uma foto atualizada da criança ou adolescente. Devem se deslocar imediatamente até a delegacia mais próxima — qualquer delegacia está apta a realizar o boletim de ocorrência — ou vir diretamente à Data, que funciona na avenida José Malcher, número 1031”, informou.
A partir do registro do B.O., o delegado colherá o termo de declaração, e o responsável deverá preencher um formulário com informações detalhadas, como redes sociais, características físicas, uso de medicação, sinais, tatuagens e autorizar a divulgação da foto atualizada da criança ou adolescente.
O Silcade também aciona a rede de proteção, que inclui o Conselho Tutelar do bairro onde ocorreu o desaparecimento, a Polícia Militar, a Polícia Rodoviária Federal, entre outros órgãos. Normalmente, são adolescentes entre 13 e 17 anos as que mais desaparecem. Em sua maioria, meninas. Os casos geralmente estão ligados a conflitos familiares — basicamente, à não aceitação das regras impostas pelos pais, que os adolescentes se recusam a seguir.
Na maioria dos casos, eles são localizados. Muitas adolescentes retornam por vontade própria. Por isso, esse trabalho é tão importante. Inclusive, quando elas retornam, os pais devem trazê-las imediatamente ao Silcade para que passem por uma escuta especializada. Essa escuta é essencial, prevista em lei, e a Data conta com profissionais competentes — psicólogos e assistentes sociais — que realizam esse atendimento. O objetivo é verificar se houve algum tipo de violação: física, sexual, moral ou psicológica. Havendo indícios, o Silcade encaminha o caso para as delegacias competentes, que darão prosseguimento à apuração do delito, explicou a delegada.
Ela também comentou sobre quais sinais pais e responsáveis devem observar em relação às crianças e adolescentes. “Qualquer sintoma físico ou psicológico, qualquer atitude diferente que o adolescente venha apresentando. Mudanças de comportamento, amizades novas e desconhecidas… tudo isso pode ser um alerta”, disse. Existem medidas preventivas que os pais podem — e devem — adotar: monitoramento online e offline das redes sociais; saber com quem seus filhos andam; conhecer os amigos e onde eles moram; participar das reuniões escolares.
Caso Luiz Paulo Teixeira do Prado
Luiz Paulo Teixeira do Prado, de 61 anos, está desaparecido há quase 10 meses. Ele saiu de casa, em Castanhal, no dia 15 de agosto de 2024, por volta das 13h15. Ele tem Parkinson, doença neurológica que afeta os movimentos da pessoa. “Eu estou atrás do meu pai todos os dias, 24 horas por dia. Fui à Delegacia de Homicídios em Belém, onde registrei a ocorrência. Fiz meu exame de DNA em Belém. Também foi feito um pedido para que eu comparecesse ao IML, para que as amostras fossem trocadas, caso algum corpo aparecesse. Desde então, vou diariamente à delegacia”, contou o filho, Paulo Sérgio. Ele fala o tempo todo com o delegado de Belém que investiga o caso.
“Todos os dias, eu e minha mulher rodamos por Castanhal, pelos interiores, pelas cidades vizinhas. A busca da nossa família é diária: nos bairros, hospitais, IMLs e unidades de saúde como a UPA de Castanhal. Visitamos o Hospital Municipal, Hospital São José, Hospital Regional. Entramos em grupos de familiares de desaparecidos até de fora da cidade e do estado”, disse.
Na sexta-feira (30), Paulo Sérgio e sua mulher estavam em uma localidade distante, a 60 quilômetros de Castanhal. “Paramos só para almoçar, e logo sairemos novamente, indo aos lugares que meu pai costumava frequentar quando ainda estava com saúde. Ele era treinador de futebol e treinou por muito tempo a seleção de Castanhal”, lembrou.
“Infelizmente, até agora, não consegui encontrar meu pai. O delegado me pergunta, às vezes, se tenho novidades. Quando tenho, eu passo; quando não tenho, digo que não. Mas sigo nessa luta diária, incansável. Hoje trabalho como motorista de aplicativo. Rodo de ponta a ponta em Castanhal, das 5h da manhã às 8h da noite, passando por todos os cantos, todas as ruas, todos os buracos. Vou a Belém uma ou duas vezes por mês. E essa é a rotina da nossa busca”, contou.
“Eu não sei se meu pai está vivo ou morto. Eu e minha mãe sempre cuidamos muito dele. Não acredito que ele esteja vivo. Os amigos mais próximos dizem que, se ele ainda estiver vivo, é muita sorte. Eles conhecem nossa luta. Os verdadeiros amigos, que conhecem bem meu pai, dizem que, se tivessem visto ele por aí, já teriam levado ele direto para casa da minha mãe. Eles sabem da doença dele, da situação”, disse. Ele passou a trabalhar como motorista de aplicativo depois que o pai sumiu. Para continuar a busca, comprou uma moto, porque já estava gastando muito com Uber. “Todo cliente que pego na moto falo do desaparecimento do meu pai, mostro a foto dele”, contou Paulo Sérgio.
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