Golpe do ‘falso advogado': OAB Pará registra mais de 70 casos
Para conter o avanço da fraude, a entidade lançou uma cartilha informativa e criou um canal institucional de denúncias para auxiliar nas investigações da Polícia Civil

A atuação de criminosos que se passam por advogados para aplicar golpes financeiros em clientes tem crescido no Pará. Conhecida como o golpe do “falso advogado”, a prática tem sido monitorada pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA), que já contabiliza mais de 70 denúncias desde março deste ano. Para conter o avanço da fraude, a entidade lançou uma cartilha informativa e criou um canal institucional de denúncias para auxiliar nas investigações da Polícia Civil.
O presidente da Comissão de Apoio à Advocacia Criminal e Júri da OAB-PA, Paulo Nascimento, disse à reportagem do jornal O LIBERAL que o golpe tem afetado advogados e clientes em diversas regiões do estado. “Não é um problema restrito à Região Metropolitana. Temos relatos de vítimas em Xinguara, Santarém, Marabá, Belém e Ananindeua. Inclusive, eu mesmo já fui vítima: usaram minhas fotos, número de processos e até meus dados para enganar clientes”, relata.
O golpe, geralmente praticado por meio de mensagens via WhatsApp, envolve a solicitação de pagamentos via Pix para supostos custos processuais. Os criminosos usam dados reais de processos — muitas vezes obtidos em sistemas públicos — para tornar a fraude mais convincente. Em alguns casos, clonam ou criam perfis falsos com nome, foto e até o logotipo do advogado ou escritório.
Para Nascimento, o golpe representa não apenas um prejuízo financeiro, mas um ataque à confiança entre advogado e cliente. “É uma quebra de credibilidade da profissão. Por isso, estamos agindo com firmeza, junto à Polícia Civil, para proteger a advocacia e, sobretudo, evitar que mais pessoas sejam enganadas”, afirma.
Modus operandi
A engenharia social é a principal arma dos golpistas. Com mensagens urgentes e linguajar jurídico, eles convencem as vítimas de que há valores judiciais a serem liberados mediante pagamento imediato de custas. Uma das mensagens simuladas diz: “Olá, [Nome do Cliente]. Aqui é Dr. João Silva, advogado responsável pelo seu processo. Tenho uma boa notícia: sua ação foi finalizada com êxito, e há um crédito judicial disponível para saque. Para que o valor seja liberado, é necessário o pagamento antecipado das custas processuais no valor de R$ 1.500,00. O prazo final é hoje”.
Com o aumento das ocorrências, a OAB-PA passou a centralizar denúncias por meio do e-mail institucional denuncia@oabpa.org.br e a elaborar relatórios bimestrais que são encaminhados à Polícia Civil. A iniciativa é parte de uma articulação institucional para dar suporte às investigações e orientar advogados e a população.
Orientações e prevenção
Entre as principais recomendações da OAB-PA está a de nunca realizar pagamentos via Pix sem antes confirmar diretamente com o advogado ou o escritório por canais oficiais. “Advogado não pede Pix para liberar valores. Existe um procedimento legal a ser seguido, com boletos de custas emitidos oficialmente, mas que não condicionam o recebimento de valores”, explica Nascimento.
A entidade também orienta que, em caso de mensagens suspeitas, os clientes entrem em contato com seus advogados pelos números já conhecidos ou, em caso de dúvida, consultem diretamente a OAB. Advogados são instruídos a orientar seus clientes sobre os canais legítimos de comunicação e a monitorar o uso indevido de seus nomes e dados pessoais.
A cartilha da OAB-PA ainda oferece um passo a passo sobre o que fazer se você for vítima: registrar boletim de ocorrência, comunicar o advogado ou escritório, reunir provas (como prints e áudios) e acionar o banco para tentar a devolução dos valores via Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Banco Central.
Procurada pela Redação Integrada de O Liberal, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que “o golpe do falso advogado pode configurar estelionato, além de falsidade ideológica ou de identidade”. A corporação disse ainda que “as ocorrências são registradas como estelionato, sem categorização específica”. E orienta que “contatos suspeitos devem ser comunicados à delegacia mais próxima para que sejam investigados".
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