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Chacina do Guamá ocorreu em apenas um minuto, confirma perícia

Imagens feitas com ajuda de computadores dão detalhes da ação que matou 11 pessoas em Belém

Tainá Cavalcante

A chacina do Guamá, que deixou 11 pessoas mortas e uma gravemente ferida, completa um mês nesta quarta-feira (19). As vítimas foram mortas a tiros, às 15h50 de um domingo (19 de maio). Tudo durou o intervalo de apenas um minuto: a festa no bar que foi cenário do vrime foi estancada por uma pausa drástica e sangrenta - imposta por tiros precisos, disparados um a um dentro do estabelecimento comercial situado na zona periférica de Belém. Mães e filhos assassinados. Em média, uma morte a cada cinco segundos. Policiais executores. Civis comparsas.

Esta terça (18), os peritos do divulgaram mecânica das execuções. São esclarecimentos chocantes aos olhos, mesmo diante das frias e computadorizadas imagens que ajudaram a reconstituir a chacina. Veja:

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CRIMES EM DETALHES 

Ao se completar 28 dias após o crime que chocou a cidade e interrompeu a vida de dezenas de pessoas - entre os vítimas mortas e familiares, que jamais seguirão como antes, entre vizinhos e testemunhas, que temem pela vida desde então -, a perícia criminal do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPCRC), pelo Instituto Médico Legal (IML), entregou a conclusão do laudo pericial da chacina.

Um prazo recorde, segundo apontam os peritos, ao considerar a complexidade do caso. Tempo arrastado, aos olhos e corações de familiares, vítimas e sobreviventes - que permanecem na dor de tantos questionamentos que insistem em resistir.

image Bar na travessa Jambu, no Guamá: palco da maior chacina urbana do Pará (Cláudio Pinheiro)

 

Em conversa com o perito criminal Jânio Arnaud, que integra a equipe de perícia da chacina e responde pela gerência do Núcleo de Crimes Contra a Vida do órgão, a reportagem da redação integrada de O Liberal conseguiu detalhes dos principais apontamentos da perícia sobre como foi a dinâmica do crime e os principais achados até então. O Ministério Público do Pará (MPPA), em denúncia oferecida na última segunda-feira (17), também deu detalhes do caso. Confira:

1. COMO ACONTECEU A AÇÃO DA CHACINA?

• De acordo com o MPPA e inquérito da polícia, oito pessoas participaram da chacina (entre executores e apoio logístico);

• O MPPA aponta que, na tarde do dia do crime, os envolvidos (com exceção do Cabo Wellington, que já estava monitorando o bar e as vítimas - que inicialmente seriam duas) se encontraram na Panificadora e Confeitaria Esquina do Pão (de propriedade de Jailson Costa), na Pariquisa com 14 de Abril. Lá eles teriam acertado os detalhes de como agiriam;

• No planejamento, definiu-se o que cada um faria no crime, entre executores e apoio logístico. O carro e o motorista que conduziriam os envolvidos foram definidos na mesma data - assim que aceitou participar da ação, o motorista foi até a padaria, de onde todos saíram;

• Os envolvidos deixaram a panificadora em um carro e uma moto. Antes, eles encobriram a placa do carro e retiraram a identificação da moto. Edivaldo dirigiu o carro. Cabo Leo seguia no banco do carona e Ian Novic no banco traseiro. Na motocicleta estavam o Cabo Josimar, que pilotava, e o Cabo Noronha, na garupa;

• No caminho, eles avisaram ao Cabo Wellington para que deixasse o local. Ele deixou e seguiu para a sua casa, onde esperou a ação terminar. Nesse momento, os dois veículos com os executores estacionaram em frente ao bar e desceram para as execuções. Exceto Edivaldo: ele ficou no carro, aguardando;

• Ian ficou na frente do bar, enquanto os policiais entraram já atirando no local. Eles executaram 11 pessoas, além de deixar outra ferida.

• Quando terminaram a ação, o cabo Leo e Ian Novic entraram no carro, onde Edivaldo os aguardava. Nogueira e Noronha fugiram na moto.

• Eles seguiram em fuga pela passagem Jambu (onde o bar fica situado), ruas Barão de Mamoré, Conselheiro Furtado, travessa Castelo Branco, rua dos Pariquis e travessa Quatorze de Abril, ponto inicial da partida. De lá foram para a casa do Cabo Nogueira, seguindo Leonardo e Ian Novic em um Honda Fit, de cor prata, que foi trocado pelo Celta, objetivando retirar do contexto dos fatos delituosos o carro prata. Lá se uniu a eles Wellington Oliveira. Todos então ingeriram bebidas alcoólicas.

image "Lei do Silêncio" impera e poucos moradores comentam sobre o que aconteceu no Wanda's Bar e Recepções (Claudio Pinheiro / O Liberal)

2. TRÊS PESSOAS PARTICIPARAM DIRETAMENTE DAS EXECUÇÕES?

O MPPA indica que sim - e que todos os executores são policiais militares. São eles: Pedro Josimar Nogueira da Silva (Cabo Nogueira), José Maria da Silva Noronha (Cabo Noronha) e Leonardo Fernandes de Lima (Cabo Leo).

Já a perícia criminal aponta que, a partir do que foi coletado de evidências, por meio de vestígios analisados e aspectos do local, três a quatro pessoas podem ter participado diretamente das execuções. Diferente do que foi feito pelo MPPA, que individualizou as ações, a perícia informou que não há, no trabalho de perícia local, como definir a participação de cada um nas execuções.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)

3. AÇÃO DE EXECUÇÕES DUROU APENAS UM MINUTO

O Ministério Público não detalha como se deu exatamente a mecânica das execuções, mas a perícia diz que o ambiente é longo, com aproximadamente 35 metros de extensão, e estreito. O bar tinha quatro compartimentos: o pátio (entrada), o bar, o salão de festas e um ambiente após o salão, estilo de "quintal". Segundo o perito Arnaud, toda a ação, na leitura e interpretação da perícia, ocorreu em um minuto. "Eles devem ter entrado juntos no local e distribuído as ações em compartimentos para que, de repente, pudessem alcançar seus alvos ou surpreender as pessoas que queriam executar".

Isso significa que, para a perícia, os executores se dividiram entre os espaços para executar as vítimas. Todas as pessoas foram mortas entre o ambiente do pátio e do salão. A grande maioria entre o bar e o salão.

"O salão é mais extenso, então precisava de articulação dentro para que conseguissem alcançar todas as vítimas. Isso dá a entender que houve planejamento, que foi muito bem articulado, para obter o resultado que queriam em curto espaço de tempo", diz a perícia.

O perito também pontuou que o número de pessoas mortas, em comparativo com o de executores e projéteis encontrados no local (nove projéteis nos corpos, cinco fora - que transpassaram os corpos e saíram e um na parede), indica "bastante habilidade" dos assassinos. Ainda de acordo com ele, os números também apontam que cada um dos três atiradores participaram da morte de várias pessoas. "São poucos elementos balísticos para muitas vítimas", ressalta o perito, acrescentando que "isso deixa claro que eles foram para matar".

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)

4. COMO SE DEU A SEQUÊNCIA DAS MORTES?

A perícia criminal disse que não consegue estabelecer a sequência cronológica exata da ação, porque muitas mortes foram simultâneas - ou seja, ocorreram ao mesmo tempo. Mas um vídeo divulgado pelo IML mostra essa possível cronologia. Nas imagens, fica claro que a primeira morte foi a do DJ, que estava em um sofá logo na entrada. Não é possível, segundo a perícia, determinar se ele estava dormindo ou não. Em seguida foram assassinadas as pessoas que estavam no balcão, e depois nas mesas e no chão.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)

5. E SOBRE OS ELEMENTOS BALÍSTICOS ENCONTRADOS?

A Perícia informou que foram encontrados elementos balísticos de três calibres diferentes: ponto 40, 380 e revólver 38. Dos 15 projéteis encontrados no local, nove estavam nos corpos das vítimas, cinco espalhados no local (que indica que atingiram as vítimas e transfixaram - saíram dos corpos) e um na parede. "A gente encontrou, inclusive, somente um impacto na parede que indicava, talvez, um erro de disparo. Uma tentativa de atingir uma das vítimas e atingiu a parede. Todos os outros foram direcionados e atingiram vítimas", detalha o perito.

Ao todo, desses 15 tiros, só um elemento balístico, de revólver 38, foi encontrado. O restante (14) foi das armas ponto 40 e 380, com quantidades muito parecidas. Além dos projéteis de arma de fogo, 14 estojos balísticos foram encontrados.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)

6. COMO QUANTOS TIROS CADA UMA DESSAS PESSOAS FOI MORTA?

A média foi de dois tiros por vítima, diz a perícia. Das 11 vítimas, nove foram atingidas na região da cabeça. Dessas nove, seis foram atingidas por trás, o que demonstra que "algumas podem ter sido pegas de surpresa e outras dominadas".

Três das 11 vítimas foram atingidas por três tiros (cabeça, pescoço e tronco). Outras três vítimas foram atingidas apenas por um tiro (cabeça) e as demais (cinco) foram atingidas por dois tiros (cabeça e tronco).

De acordo com o MPPA, há indícios de que sete das onze vítimas estivessem sob efeito de drogas lícitas e ilícitas. A perícia disse que muitas (sem quantificar) estavam sob efeito de álcool e entorpecentes, o que foi constatado pelo exame toxicológico. "Isso acaba diminuindo o poder de reação e de uma possível tentativa de fuga", avaliou a perícia.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)


7. COMO AS OUTRAS PESSOAS QUE ESTAVAM NO LOCAL CONSEGUIRAM FUGIR?

A perícia afirma que todas as pessoas que fugiram saíram pelo "quintal". Muitos se abrigaram no espaço e alguns conseguiram pular um muro, de aproximadamente três metros de altura, existente na área dos fundos do bar.

image Onze mortos e um ferido: ação no Guamá desafiou sistema de segurança pública  (Cláudio Pinheiro)


8. QUEM SÃO AS PESSOAS QUE MORRERAM NA CHACINA?

- Alex Rubens Roque Silva, 41 anos;
- Flávia Teles Farias da Silva, 32;
- Leandro Breno Tavares da Silva, 21;
- Márcio Rogério Silveira Assunção, 36;
- Maria Ivanilza Pinheiro Monteiro, 52 (dona do bar onde ocorreu o crime);
- Meire Helen Sousa Fonseca, 35;
- Paulo Henrique Passos Ferreira, 24;
- Samara Silva Maciel, 23;
- Samira Tavares Cavalcante, 36;
- Sérgio dos Santos Oliveira, 38 e
- Tereza Raquel Silva Franco, 33.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)

9. QUEM TRABALHOU NA PERÍCIA?

O perito Arnaud foi enfático ao destacar que o trabalho local foi feito por dez pessoas (cinco peritos criminais e cinco auxiliares operacionais), mas todos os setores do CPCRC estiveram envolvidos para a elucidação do caso. De acordo com ele, "foi um trabalho muito dedicado para conseguir fechar o laudo em pouco tempo, considerado um tempo recorde, pela complexidade dos fatos. "Foi um trabalho em conjunto com todo o Renato Chaves, um trabalho interdisciplinar, que envolve todos os outros setores do órgão para poder formar a conclusão final do laudo pericial", ressaltou.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)


10. O QUE VAI ACONTECER COM OS ACUSADOS?

Todos estão presos. O MPPA também ofereceu, na última segunda-feira (17), denúncia contra os oito acusados. Individualizadas as condutas, todos responderão pelos crimes de homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos de reclusão) e lesão corporal (pena de 1 a 5 anos) por cada uma das vítimas.

Os que atiraram responderão como autores e os demais como partícipes. Além disso, Edivaldo (motorista) e Jailson (microempresário) também responderão pelos crimes de fraude processual e porte ilegal de arma, respectivamente.

image (Claudio Pinheiro / O Liberal)


11. E A MOTIVAÇÃO?

A denúncia do MPPA e o inquérito da polícia ainda não são conclusivos sobre a motivação da chacina. Hipóteses são levantadas. A redação Integrada tenta entrar em contato com a Segup (Secretaria de Segurança Pública) para informações atualizadas sobre esse ponto.

image Jonatan Marinho, o "Diel", último a ser preso entre acusados: apoio ao transporte dos assassinos (Ary Souza/O Liberal)


ENTENDA O ENVOLVIMENTO DE CADA UM 

 

EXECUTORES:

1. Cabo Pedro Josimar Nogueira da Silva (CB Nogueira) - também dirigu a motocicleta até o local do crime;
2. Cabo José Maria da Silva Noronha (CB Noronha);
3. Cabo Leonardo Fernandes de Lima (CB Leo);

APOIO LOGÍSTICO:

4. Cabo Wellington Almeida Oliveira - identificação dos alvos no interior do bar e monitoramento do local antes da chacina (olheiro);
5. Edivaldo dos Santos Santana - dono e motorista do carro que levou os executores até o local (motorista);
6. Ian Novic Correa Rodrigues - ficou na porta do bar, enquanto os cabos Noronha, Nogueira e Leo mataram as onze pessoas (segurança do local durante a chacina);
7. Jailson Costa Serra - microempresário, dono de panificadora que abriu o local em um domingo (dia que o estabelecimento não abre) para que envolvidos planejassem o crime (concessão do local para reunião);
8. Jonatan Albuquerque Marinho (Diel) - participou das reuniões e conseguiu meio de transporte para locomoção de todos os envolvidos (articulação de meio de transporte);

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PMs acusados de participação na Chacina do Guamá (Divulgação Polícia Civil)


QUEM SÃO OS OITO ENVOLVIDOS NA CHACINA:

1. PEDRO JOSIMAR NOGUEIRA DA SILVA
“Cabo Nogueira”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: solteiro;
Profissão: policial militar;
Moradia: Belém, Condor;
Envolvimento: execução

2. JOSÉ MARIA DA SILVA NORONHA
“Cabo Noronha”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: casado;
Profissão: policial militar;
Moradia: Tracuateua;
Envolvimento: execução

3. LEONARDO FERNANDES DE LIMA
“Cabo Leo”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: solteiro;
Profissão: policial militar;
Moradia: Belém, Terra Firme;
Envolvimento: execução

4. IAN NOVIC CORREA RODRIGUES
“Japa”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: não declarado;
Profissão: não declarado;
Moradia: Belém, Condor;
Envolvimento: apoio logístico - segurança no local durante o crime

5. WELLINGTON ALMEIDA OLIVEIRA
“Cabo Wellington”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: solteiro;
Profissão: policial militar;
Moradia: Belém, Terra Firme;
Envolvimento: apoio logístico - olheiro

6. EDIVALDO DOS SANTOS SANTANA
Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: solteiro;
Profissão: agente de portaria;
Moradia: Belém, Guamá;
Envolvimento: apoio logístico - motorista

7. JAILSON COSTA SERRA
Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: casado;
Profissão: microempresário;
Moradia: Belém, Fátima;
Envolvimento: apoio logístico - concessão de local para planejamento do crime

8. JONATAN ALBUQUERQUE MARINHO
“Diel”

Nacionalidade: brasileiro;
Estado civil: solteiro;
Profissão: segurança;
Moradia: Belém, Guamá;
Envolvimento: apoio logístico - participação nas reuniões e articulação de meio de transporte para local do crime

 

 

 

image Maior chacina urbana do Pará, que aterrorizou o Guamá, completa um mês (Cláudio Pinheiro)

 

 

 

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