Rodovia BR-316 é a mais mortal do Pará em janeiro, aponta PRF

Levantamento da Polícia Rodoviária Federal aponta que a via no Estado registrou, apenas no primeiro mês do ano, 18 acidentes e 5 mortes. Fevereiro já acumula dois acidentes e uma morte na rodovia. A PRF enxerga que mudanças na estrutura da via poderia salvar vidas e evitar lesões graves

Saul Anjos

O ato de conduzir veículos requer sempre grande atenção, a qualquer tempo, em qualquer via. Mas há trechos das estradas brasileiras nos quais os riscos impostos pelas condições das pistas exigem cuidados redobrados. Esse é o caso do quilômetro 75 da rodovia BR-316, entre os municípios de Castanhal e Santa Maria do Pará, no nordeste do Estado. Segundo aponta a Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma série de fatores agrava as possibilidades de acidentes de trânsito na região: a modesta estrutura viária - uma pista simples de mão dupla –, aliada a problemas na pavimentação e nos acostamentos, diz a fiscalização, faz com que "eventuais erros" ao volante sejam pagos "com a vida ou lesões graves”.

Só em janeiro deste ano, em toda extensão da BR-316, a PRF contabilizou 18 acidentes e um total de 5 mortes (mesmo número de vítimas da BR-23). Este mês, até o momento, a PRF já contou dois acidentes e uma morte na rodovia. Em janeiro de 2023, ainda segundo a PRF, foram registrados 17 acidentes na BR-316, dos quais 8 graves, que resultaram em 6 mortes, tornando-a a mais mortal daquele período. Em fevereiro do mesmo ano, a BR-316 teve 7 acidentes e nenhuma morte.

O levantamento feito pela PRF mostra dezembro de 2023 como outro mês em que a via atingiu recorde de mortes: foram 28 (empatada com a BR-010), em 100 acidentes contabilizados no trecho paraense. No mês anterior, novembro do ano passado, outros 100 acidentes e mais 12 mortes foram registrados - deixando a estrada, no ranking de casos e fatalidades, atrás apenas da BR-230, a Rodovia Transamazônica, que teve 128 acidentes e 20 mortes no mesmo período. 

BR-316 rodovia mais mortal

Mortes na pista

O mais recente acidente com morte registrado no trecho da BR-316, entre as cidades de Santa Maria do Pará e Castanhal, ocorreu no último domingo (4). Fhillipe Novaes conduzia uma motocicleta e faleceu ao se chocar com a traseira de um carro. Ele era marido da secretária de Urbanismo de Ananindeua, Adriana Cardoso. Doze dias antes, no quilômetro 69 da mesma rodovia, a colisão entre uma carreta e um carro matou quatro pessoas. Em 8 de janeiro deste ano, na altura do quilômetro 77, Paulo Vitelli de Lima, de 74 anos, conduzia um carro quando também morreu em outro acidente na BR-316 - uma batida que envolveu também um caminhão.

VEJA MAIS 

image Marido de secretária de Urbanismo de Ananindeua morre em acidente na BR-316
Acidente foi registrado na manhã deste domingo (4), no trecho que liga Castanhal à Santa Maria do Pará

image Colisão entre carreta e carro deixa quatro pessoas mortas em Castanhal
O acidente ocorreu na tarde desta terça-feira (23), no quilômetro 69 da BR-316

image Acidente entre caminhão e veículo de passeio deixa uma pessoa morta no nordeste do Pará
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que está com uma equipe no local, a pista está parcialmente interditada por conta do sinistro de trânsito

No ano passado, no final de julho, o choque entre um micro-ônibus e um caminhão matou duas pessoas. No início daquele mesmo mês, Elizeu Franco, vereador da cidade de Castanhal, também morreu num outro acidente de trânsito, no quilômetro 70 da BR-316. Em junho de 2023, um motociclista faleceu após bater contra uma carreta, no quilômetro 67 da via. Cinco meses antes, dois homens morreram, na altura do quilômetro 72 da BR-316, numa colisão envolvendo dois carros e um caminhão. 

Imprudência agrava riscos

Na terça-feira (6), a equipe da redação integrada de O Liberal foi até o quilômetro 75 registrar o movimento do trecho da BR-316 que é considerado pela PRF um dos mais perigosos da rodovia. A reportagem flagrou vários carros e, inclusive vans, realizando ultrapassagens indevidas. A PRF autuava os condutores desses automóveis, com base no artigo 61 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que trata da “velocidade máxima permitida para a via será indicada por meio de sinalização, obedecidas suas características técnicas e as condições de trânsito”. 

image Micro-ônibus e caminhão se chocam e acidente deixa dois mortos em Castanhal
Segundo a PRF, as vítima foram o condutor do micro-ônibus e uma passageira de 26 anos

image Acidente na BR-316, em Castanhal, deixa um homem morto, neste sábado (18)
Vítima é um motociclista que faleceu no local; ele ainda não foi identificado

image ​Colisão entre caçamba e caminhão deixa uma pessoa morta na BR-316
Quatro pessoas ficaram feridas e foram encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Castanhal e não há informações sobre o estado de saúde delas

Para entender o motivo por trás de todo o alto risco da BR-316, principalmente entre os quilômetros 54 a 77, o inspetor da Adrianno Ferreira, da PRF, ressalta a importância do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS), criado em 2018 pela Lei nº 13.614. “É uma Lei Federal que especifica quais são as responsabilidades de cada entidade frente ao trânsito. O PNATRANS fala, por exemplo, que tem que haver fiscalização. A PRF, então, é responsável por fiscalizar rodovias federais. Fala, também, que as vias precisam ser manutenidas, criadas e feitas de formas a se não evitar, diminuir a gravidade do acidente. Neste caso, entra o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) como responsável. Também faz parte desse ciclo de missões a serem cumpridas, o condutor, que tem que ser habilitado e andar de forma responsável, e o veículo, que precisa estar em boas condições. Então, a engenharia da via, ela é de salvaguarda do Dnit. É um ato muito importante que o Dnit sempre tem que estar sendo observado, por conta de que uma engenharia problemática pode ser a causadora de muitos sinistros de trânsito”, pondera Ferreira.

Trecho 'sem perdão' 

Dentre os ideais estabelecidos pelo PNATRANS, está o princípio “rodovias que perdoam”, que caracteriza vias federais, estaduais e municipais “projetadas e adequadas para reduzir a gravidade dos sinistros de trânsito”, segundo a PRF. E que conta com um plano de ações baseado em seis pilares: gestão da segurança no trânsito, vias seguras; segurança veicular, educação para o trânsito, atendimento às vítimas e normatização e fiscalização. “Esse conceito foi adquirido e incorporado pelo PNATRANS e vem da chamada visão zero. É uma nova forma de se olhar o sinistro de trânsito. Parte-se do preceito de que o ser humano erra. Então, se ele erra, é preciso construir vias que diminuam a intensidade daquele sinistro e, com isso, reduzam o número de mortes”, esclarece Adrianno. 

A Polícia Rodoviária Federal disse à reportagem, a partir do “rodovias que perdoam”, que a instituição executa “operações de fiscalização direcionada aos tipos de veículos que mais se envolvem em sinistros de trânsito, fiscalizações de alcoolemia, fiscalização com radar de velocidade e ações de educação para o trânsito”. Além disso, a PRF lembra que atua na "prevenção e melhoria da segurança viária", realizando a Operação OTEDIAG (Operação Temática de Diagnóstico de Pontos Críticos de Sinistralidade), que consiste em ações de mapeamento e diagnóstico de fatores de riscos à segurança de estradas, direcionadas à prevenção e redução da gravidade dos acidentes de trânsito. A nova edição da operação ocorre em fevereiro deste ano, nas rodovias federais do Pará.

Adrianno aproveitou para citar o quilômetro 75 como referência. “Nesse perímetro da BR-316, é uma pista simples. Ou seja, para fazer uma ultrapassagem, o veículo, necessariamente, precisa fazer a manobra de ir na contramão e retornar, como é natural. É uma pista que tem muitas curvas e como tem muita reta, o condutor aproveita para exceder a velocidade. Isso são alguns dos motivos pelos quais esse trecho é muito perigoso e requer, mais do que nunca, a atenção do condutor quando passar por aqui”, alerta o inspetor da PRF.

Manutenção

O Grupo Liberal procurou o Dnit para obter mais explicações e detalhes sobre a construção da BR-316 e também sobre as manutenções feitas ou planejadas para a via. O Liberal também pediu informações sobre a contribuição da autarquia federal brasileira dentro do PNATRANS e questionou se o Pará possui alguma via que se enquadra no conceito das “rodovias que perdoam”. 

Em nota, o Departamento informou que "a BR-316/PA é uma rodovia pavimentada com 274 quilômetros de extensão no Estado do Pará, sendo 67 quilômetros duplicados". O Dnit também disse que a rodovia é de "Classe Funcional IA". Ou seja: possui "acostamentos de 2,5 metros" e tem a "velocidade máxima permitida de 80 quilômetros por hora”. O Dnit também afirmou que “rotineiramente" são realizados serviços por meio do contrato de manutenção. "Informamos que o trecho em questão se encontra em boas condições e devidamente sinalizado”, avalia o Dnit. 

Mesmo assim, para evitar acidentes no quilômetro 75 ou em outros trechos da BR-316, o inspetor Campelo deixa algumas recomendações. “Solicito que os condutores tenham cuidado na hora de fazer a ultrapassagem. Só façam a ultrapassagem com segurança. Na dúvida, fique", orienta.

Segundo ele ressalta, numa colisão frontal, as velocidades dos veículos envolvidos se somam. "Vamos supor que um veículo pequeno esteja a 100 quilômetros por hora e um outro veículo na mesma velocidade. Ou seja, vai ser um choque a 200 quilômetros por hora", esclarece. "Com certeza, numa colisão frontal dessa, não sobra ninguém", pontua.

O inspetor ressalta que, principalmente na chuva, o pneu tende a perder a aderência no asfalto. "Quando o pneu está bem e não atingiu o TWI (Tread Wear Indicator, que indica o desgaste da banda de rodagem), a água vai circular pelos riscos no meio. Então, a água passa por debaixo do pneu e corre através daquele sulco, evitando a falta de aderência do pneu ao asfalto. Mas, se a velocidade dele for maior do que a determinada pelo fabricante, ele vai subir aquela película e perder a aderência com a pista, podendo aquaplanar. Ao mudar de faixa, pode colidir frontalmente. Então é primordial circular com o veículo em via pública com o pneu apto a aderir no asfalto”, pontuou o policial rodoviário federal. 

Conheça elementos-chaves das “rodovias que perdoam”:

  • Barreiras de segurança: divisórias centrais e laterais para prevenir colisões frontais e saídas de pista;
  • Acostamentos largos e pavimentados: proporcionam espaço adicional para condutores corrigirem a trajetória do veículo em caso de saída involuntária da pista, e oferecem um local seguro para parar em emergências;
  • Zonas livres de obstáculos: áreas ao lado da pista de rolamento devem ser livres de obstáculos fixos ou perigosos, como árvores, postes ou rochas, para reduzir o impacto em caso de saída de pista;
  • Sistemas de drenagem eficazes: para evitar a acumulação de água na pista, que pode causar aquaplanagem;
  • Sinalização clara e visível: bem projetada e refletiva, juntamente com marcações de pista, para orientar os condutores de forma intuitiva, especialmente em condições de baixa visibilidade;
  • Iluminação adequada: em cruzamentos, curvas perigosas e outras áreas críticas, para melhorar a visibilidade noturna;
  • Interseções seguras: utilização de rotatórias, semáforos ou outras medidas para gerenciar o fluxo de tráfego de forma segura em pontos de intersecção;
  • Uso de tecnologia: implementação de sistemas inteligentes de transporte, que fornecem informações em tempo real aos motoristas e auxiliam na gestão do tráfego;
  • Design e layout da estrada: projetos reduzem curvas fechadas e pontos cegos, e incluem faixas adicionais para ultrapassagens seguras;
  • Educação e campanhas de conscientização: embora não seja um elemento de design físico, é uma parte importante do conceito de rodovias que perdoam, pois incentiva o comportamento seguro de motoristas nas estradas.

Registros de acidentes em janeiro de 2024

  • BR-316 – 18 acidentes e 5 mortes

  • BR-308 – 1 acidente e nenhuma morte

  • BR-230 – 20 acidentes e 5 mortes

  • BR-222 – 3 acidentes e uma morte

  • BR-163 – 9 acidentes e uma morte

  • BR-155 – quatro acidentes e nenhuma morte

Registros de acidentes em fevereiro de 2024

  •  BR-316 – 18 acidentes e 5 mortes

  • BR-308 – 1 acidente e nenhuma morte

  • BR-230 – 20 acidentes e cinco mortes

  • BR-222 – 3 acidentes e uma morte

  • BR-163 – 9 acidentes e uma morte

  • BR-155 – quatro acidentes e nenhuma morte

Registros de acidentes em novembro de 2023

 

  •  BR-010 – 48 acidentes e 12 mortes
  •  BR-155 – 24 acidentes e 4 mortes
  •  BR-163 – 44 acidentes e 4 mortes
  •  BR-230 – 124 acidentes e 20 mortes
  •  BR-308 – 32 acidentes e 8 mortes
  •  BR-316 – 100 acidentes e 12 mortes

 

Registros de acidentes em dezembro de 2023

  •  BR-010 – 52 acidentes e 28 mortes
  •  BR-153 – 4 acidentes e 4 mortes
  •  BR-155 – 4 acidentes e nenhuma morte
  •  BR-163 – 48 acidentes e 12 mortes
  •  BR-222 – 16 acidentes e 8 mortes
  •  BR-230 – 76 acidentes e 20 mortes
  •  BR-308 – 4 acidentes e 8 mortes
  •  BR-316 – 108 acidentes e 28 mortes

Registros de acidentes em janeiro de 2023 

 

  •  BR-316 –  17 acidentes e seis mortes
  • BR-308 –  2 acidentes e nenhuma morte
  • BR-230 – 9 acidentes e 2 mortes
  • BR-222 – 1 acidente e nenhuma morte
  • BR-163 – 12 acidentes e 1 morte
  • BR-155 – 3 acidentes e nenhuma morte
  • BR-153 – 2 acidentes e nenhuma morte
  • BR-010 – 7 acidentes e 1 morte 

Registros de acidentes em fevereiro de 2023 

  • BR-316 – 7 acidentes e nenhuma morte

  • BR-308 – 1 acidente e nenhuma morte

  • BR-230 – 2 acidentes e nenhuma morte

  • BR-163 – 7 acidentes e 2 mortes

  • BR-010 – 1 acidente e nenhuma morte

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