No Dia Nacional de Combate ao Câncer pacientes falam da importância da humanização do tratamento

No Pará, tipos mais comuns de cânceres são de mama, colo de útero, cavidade oral, encéfalo e estômago

Byanka Arruda

No dia Nacional de Combate ao Câncer, lembrado hoje, 27, pacientes que vivem com a doença contam como começaram a enxergar a vida depois do diagnóstico de um câncer, muitas vezes sem possibilidade de cura, e a postura que adotaram diante de uma nova perspectiva de futuro ainda mais incerto. 

A empreendedora Josiane Damasceno, de 47 anos, descobriu um nódulo no seio em 2015. Na época, o câncer ainda estava pequeno, em fase inicial, e por isso foi rapidamente tratado, com chance de cura em torno de 95%. Josiane comemorou o fim do tratamento que tinha praticamente todas as probabilidades de eliminar completamente o câncer e encerrar um período de muito medo e dor. Mas, em julho de 2016, através de exames, ela descobriu que ainda estava doente com câncer de mama, mas desta vez sem chance de cura, pois a doença havia apresentado metástase óssea e pulmonar.

Após retomar o tratamento de quimioterapia, agora de forma contínua e permanente, realizada a cada 20 dias, a metástase óssea ficou inativa ainda em 2016. A metástase pulmonar, contudo, apresentou progressão durante a atual pandemia do novo coronavírus, em março deste ano. Mas, apesar da rotina de tratamentos e medicações impostas pela doença, Josiane leva uma vida normal, com otismo e esperança. "Não posso parar com a quimioterapia, mas tenho uma qualidade de vida excelente, sou uma paciente super saudável, faço atividades físicas, tenho vida social, tenho uma vida normal dentro da minha normalidade. Faço a 'quimio', fico dois ou três seguintes meio mole... Mas depois fico bem. Às vezes meu corpo fica cansado da 'quimio', que dá uma moleza logo após, mas não tenho restrição de absolutamente nada", explica. "Quando eu descobri a metástase e eu vi que não tinha cura, eu me perguntei, enfim, o que eu ia fazer com a minha vida? O que eu ia fazer com a minha finitude, que é real. A gente não fica pensando muito nisso, a gente sabe que todo mundo é finito, mas a gente não fica pensando nisso. Claro que foi muito difícil. Isso é um baque, é muito doloroso, principalmente quando a gente vai contar para a família. Mas, eu não tenho como mudar essa realidade, não há nada que independa de mim que eu possa mudar. Mas eu posso mudar a forma como eu vou encarar isso. Foi por onde eu fui, o caminho que eu fui, de entender que eu sou finita, mas que eu ainda não morri, que eu continuo aqui e eu preciso viver com qualidade", comenta. 

 

Josiane destaca a importância do protagonismo dos pacientes no tratamento contra o câncer e a necessidade de uma escuta atenta e cuidadosa por parte dos médicos. "O paciente tem que ser a principal voz no tratamento. Nós somos os protagonistas do nosso tratamento. Uma das melhores coisas que tem é o médico ouvir o paciente. O médico é meu coadjuvante, ele está lá para me servir, para me orientar, porque ele estudou para isso, mas quem decide meu tratamento sou eu, eu sou parceira dele. Os médicos hoje estão vendo o paciente como o mestre do cuidado, eles ouvem. A gente decide junto, é um direito do paciente, ele tem autonomia para isso. Por isso a importância do cuidado paliativo. Nós precisamos ser ouvidos, porque é a minha vida. Não dá mais para chegar e ficar ouvindo como se fosse uma aula e não perguntar nada. Os médicos podem ter poucos minutos de consulta, mas eles têm que estar inteiros nessas consultas. É a vida dos pacientes que está em jogo, é o futuro deles, da família deles, como vão eles vão viver a vida a partir daqueles minutos ali. Tudo isso tem que estar integrado nessa consulta", afirma. "Ali, elas não são um tumor. Elas são pessoas que têm marido, filhos, família, uma carreira e que elas precisam direcionar a vida delas de acordo com o que o médico vai falar. O câncer é uma doença que tem muito mito envolvido. E quanto mais informação chega, mais esses mitos vão se desfazendo. O medo permanece, mas a gente aprende a lidar melhor porque a gente tem a informação. A informação é sempre benéfica. O médico precisa entender que ele estudou para isso, que ele quis ser médico, mas a gente não pediu para ser paciente", reforça. 

 

Ela lembra, contudo, que muitos pacientes que convivem com a doença, ao contrário dela, não possuem condições e acesso a um tratamento humanizado, o que torna a rotina de uma pessoa que lida com um câncer muito mais difícil e dolorosa. "Mas, claro, eu tenho uma qualidade de vida excelente porque eu tenho acesso à medicação, aos cuidados paliativos, que o cuidado paliativo é fundamental. Os cuidados paliativos trabalham paralelo com a oncologia, é impossível associar um com o outro, pois eles trabalham em conjunto para aumentar a minha qualidade de vida cada vez mais. Isso eu consigo, mas não deixa de ser um privilégio, porque a maioria não tem esse acesso, coisas que quem não tem acesso infelizmente tem uma vida mais penosa, tem mais dores, não tem acesso a medicações, enfim, é um abismo enorme que a gente vê", lamenta. "Quando o paciente entra em metástase, como eu tenho, e essa metástase se agrava, como a minha que já agravou, já voltou, já fiquei bem, já fiquei mal... Em alguns pacientes a gente nota que os médicos falam que não há mais o que fazer. Eu acho muito triste que uma pessoa passe 5 anos em uma faculdade e mais as residências, estuda tanto, gasta dinheiro numa profissão que é cara... para ele chegar na frente de uma paciente e dizer que não tem o que fazer, porque ainda que não tenha mais condição de curar a doença, de tratar com 'quimio', por exemplo, mas existem os cuidados paliativos, existem meios de controlar a dor do paciente, existem formas de dar uma morte digna para ela. Existe isso, uma morte sem dor, uma morte onde a gente consiga interagir com a nossa família, que a gente consiga expressar nossos últimos desejos, existem formas de que a nossa família não nos veja sofrer, existe isso, é real e os médicos precisam entender que eles não podem privar o paciente da dignidade durante a vida e principalmente ao morrer", frisa. 

 

 

DADOS

No Pará, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) em 2019, os principais tipos de câncer registrados entre os paraenses foram câncer de mama, colo de útero, próstata, estômago e encéfalo. Já em 2020, segundo os dados parciais, os principais cânceres registrados são mama, colo de útero, cavidade oral, encéfalo e estômago. Quanto à mortalidade, em 2019 e 2020 os cânceres com maior número de óbitos são  estômago e brônquios e pulmões, em ambos os sexos.


Os principais fatores de risco para o aparecimento de um câncer são tabagismo, alimentação não saudável e ingestão de bebidas alcoólicas. Radiação, infecções, exposição ocupacional a agentes cancerígenos e sedentarismo, além de fatores genéticos também estão relacionados ao câncer.  

 

 

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