Março Lilás: casos de câncer de colo de útero reduzem 33% no Pará

O tabu em torno da vacina contra o HPV, principal responsável pela doença, é um entrave para erradicá-la, diz especialista

Eva Pires
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Março Lilás é uma campanha em alusão ao mês de prevenção do câncer de colo de útero (CCU). No Pará, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), houve uma queda de 33% dos casos de 2023 em relação ao ano anterior. Conforme dados do Painel de Oncologia do Ministério da Saúde, em 2022 foram registrados 650 novos casos de câncer de colo de útero, sendo que houve registro de 405 mortes. Já em 2023, foram registrados 433 novos casos da doença com 137 mortes. Ainda não há dados parciais de 2024. A Dra. Paula Sampaio, oncologista clínica, destaca sobre a importância da vacinação e dos exames preventivos para erradicar a doença no país.

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No Brasil, a cada ano, 17 mil mulheres são diagnosticadas com essa doença, a quarta causa de morte de mulheres por câncer no país. É o terceiro tumor maligno de maior incidência na população feminina, atrás apenas do câncer de mama e do colorretal. Conforme o INCA (Instituto Nacional do Câncer), a região Norte é a única no Brasil em que a frequência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama e colorretal. A estimativa é de que serão cerca de 780 novos casos no Pará e 110 em Belém até o final do ano de 2024.

A imunização de ambos os sexos é necessária para quebrar a cadeia de transmissão do Papilomavírus humano (HPV), infecção sexualmente transmissível (IST), responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de colo do útero, que também é fator de risco para desenvolvimento de câncer de pênis, vulva, vagina, reto e de cabeça e pescoço (orofaringe/garganta).

Segundo dados da Sespa, houve um aumento em relação aos exames Papanicolaus realizados na rede estadual, considerado o principal exame preventivo. Foram registrados 246.224 em 2022 e 293.977 em 2023. Apesar disso, houve uma queda na cobertura vacinal geral contra o HPV de 2022 para 2023, de aproximadamente 5% para meninas e 17% para meninos, de 9 a 14 anos.

Para a Dra. Paula Sampaio, o tabu que persiste em torno da vacinação contra o HPV é um fator para a baixa cobertura vacinal. “Há um desconhecimento e preconceito muito grande. Muitos pais acham que o fato de vacinar a criança contra uma IST pode parecer um incentivo à atividade sexual mais precoce, quando não é a vacinação que vai liberar o início da vida sexual”, diz.

“Essa queda na cobertura vacinal é muito triste e preocupante. O Brasil é considerado um exemplo, com a vacina amplamente disponível pelo SUS e que pode ter um impacto absurdo na chance de eliminar o câncer de colo de útero nas próximas gerações. Os números são absurdos na nossa região e a cobertura é muito abaixo do que devia ser. É lamentável a perda de mulheres por CCU, uma doença totalmente evitável”, completa.

De acordo com a oncologista, o acesso à vacina contra HPV e ao Papanicolau possibilita a erradicação da doença no país, assim como caminham países como Canadá e Austrália.

“Na Austrália e no Canadá, se percebeu uma redução de 87% do casos de CCU no grupo vacinado. A vacina tetravalente, também chamada de imunização primária, é disponibilizada amplamente pelo SUS, de forma simples e segura. A faixa etária de 9 a 14 anos foi escolhida porque é onde a prevenção de anticorpos é a mais elevada e, geralmente, nessa idade, ainda não houve iniciação sexual e contato com o vírus. O imunizante costuma proteger contra os subtipos do vírus mais relacionados ao câncer”, afirma.

O exame Papanicolau consiste em uma imunização secundária, é capaz de detectar a doença na fase inicial e aumentar chance de cura. A história natural da doença propicia uma intervenção curativa em seus estágios iniciais e as lesões precursoras (lesões que podem virar câncer) são descobertas facilmente no exame preventivo e são curáveis, na quase totalidade dos casos.

Paciente relata como descobriu a doença e rotina de tratamento

Maura Marques, assistente social, de 49 anos, descobriu o câncer em um exame preventivo de rotina ginecológica. “Foi uma sensação surreal, de que tenho um prazo, dias contados. Dez anos atrás, não tínhamos tantas informações em tempo real. Fazia preventivo a cada seis meses, ou seja, em 120 dias eu tive um câncer uterino avançado (carcinoma). Fiz histerectomia total, retirada de útero, ovário e trompas. Passei pela quimioterapia e radioterapia. A braquiterapia é um tratamento interno por emissão de radiação de uma fonte colocada dentro do corpo. Para mim foi o mais difícil”, relata.

imageA assistente social também alertou para a importância do diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo é diagnosticado, maior é a probabilidade de cura. (Foto: Cristino Martins/ O Liberal)

A assistente social também alertou para a importância do diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo é diagnosticado, maior é a probabilidade de cura. Essa fase inicial exige tratamentos menos agressivos. As chances de cura atualmente em fase precoce são muito grandes. Alguns casos, não passam pelo tratamento agressivo de quimioterapia, já tem tratamentos mais modernos via oral que facilitam para muitas mulheres com dificuldade, que residem fora do alcance do tratamento especializado”, explica.

Paula Sampaio, oncologista clínica, ainda, ressalta a importância de que as pacientes realizem o retorno dos exames no tempo adequado. “É muito comum que, na rede pública de atendimento, as mulheres realizem o Papanicolau e voltem apenas seis ou oito meses depois, já com doenças em estágio avançado, que deveriam ter sido tratadas com antecedência para garantir melhores resultados”, destaca.

Para Maura, é essencial que as mulheres se cuidem. ”O exame é escolha, o câncer não. Vá ao médico, não espere ser surpreendida, o propósito da vida é viver. Em primeiro lugar, busque Deus para dar força. Deus e a medicina andam de mãos dadas”, ressalta.

Metas das OMS contra o câncer de colo de útero 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs três metas para erradicar o câncer de colo de útero do mundo.

- Vacinação contra HPV de 90% das meninas e adolescentes de até 15 anos de idade;

- Exame Papanicolau para pelo menos 30% das pessoas com útero de 25 a 65 anos (70% antes dos 35 anos);

- Tratamento no estágio inicial do câncer para 90% da população.

Confira na íntegra a tabela de cobertura vacinal no estado:

2022

Meninas – 9 anos (14,2%), 10 anos (31,75%), 11 anos (41,35%), 12 anos (50,98%), 13 anos (56,70%), 14 anos (61,12%) e cobertura vacinal geral (45,54%);

Meninos - 11 anos (9,40%), 12 anos (20,14%), 13 anos (24,52%), 14 anos (29,77%) e cobertura vacinal geral (23,45%);

2023 

Meninas – 9 anos (18,38%), 10 anos (35,37%), 11 anos (43,18%), 12 anos (46,30%), 13 anos (54,38%), 14 anos (61,14%) e cobertura vacinal geral (43,25%);

Meninos - 9 anos (6,16%), 10 anos (10,7%), 11 anos (16,86%), 12 anos (30,74%), 13 anos (33,80%), 14 anos (36,15%) e cobertura vacinal geral (19,32%);

Serviços de prevenção no Pará

A Sespa informa que No Pará, os serviços de prevenção ao câncer obedecem a um fluxo de atendimento que se inicia na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Estratégia Saúde da Família (ESF) mais próxima da residência do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). Caso o diagnóstico indique tratamento oncológico, a paciente é encaminhada para um dos cinco hospitais estaduais de Alta Complexidade, referência em câncer, disponíveis no Pará: Hospital Ophir Loyola e Hospital Universitário João de Barros Barreto, em Belém, Hospital Regional do Baixo Amazonas do PA Dr. Waldemar Penna, em Santarém, Hospital Regional de Tucuruí e Hospital Regional Público de Castanhal.

(Eva Pires, estagiária sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do núcleo Atualidade)

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