Protesto bloqueia a Alça Viária contra medida judicial que permite a instalação de aterro no Acará
Por conta do bloqueio, uma longa fila de veículos se formou, causando congestionamento no perímetro do km 32
Um protesto contra uma medida judicial que permite estudos para a instalação de um aterro sanitário - a partir de processo de licenciamento ambiental - no município do Acará bloqueou, na manhã desta terça-feira (28), um trecho da rodovia PA-483, a Alça Viária. A manifestação começou ainda nas primeiras horas do dia e causou um longo congestionamento no perímetro do km 32, onde uma fila de veículos se formou por conta da interdição, que ocupa as duas faixas da via.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram guarnições da Polícia Militar no local. As primeiras informações indicam que o protesto é realizado por moradores da região. Até o momento, não há informações oficiais sobre a extensão do engarrafamento, mas o trânsito já afeta diversos motoristas. Ônibus de viagem, carretas, caminhões e carros de passeio permanecem parados no trecho interditado. Dezenas de manifestantes também estão concentrados no local.
Comunidade relata impacto socioambiental
Sandro Cabral, um dos líderes dos movimentos contrários à implantação do aterro, afirmou à reportagem do Grupo Liberal que o ato não tem hora para terminar, mas que está sendo realizado de forma pacífica, e com liberação da via para ambulâncias e outras urgências. “São mais de 30 associações quilombolas que serão impactadas em um raio direto de 10 quilômetros, além dos efeitos socioeconômicos e ambientais. A implantação desse lixão foi autorizada por decisão do desembargador, que determinou a continuidade do estudo para instalação do aterro na comunidade de Castanhalzinho, no quilômetro 32 da Alça Viária”, comenta Sandro.
“A população está aqui para contestar essa decisão arbitrária, que afeta diretamente esse povo e tudo o que existe na região. O nosso protesto, como sempre, é pacífico. Não há queima de pneus, e todas as ambulâncias e pessoas que precisam de atendimento de saúde ou de alimentação são liberadas. Mas é preciso reivindicar para que sejamos ouvidos e para que a população de Belém, não apenas a desta comunidade, tome consciência do desastre ambiental que pretendem causar aqui”, acrescenta Sandro.
Segundo ele, o objetivo da manifestação é que as instituições envolvidas na suposta implantação do aterro deem um posicionamento aos manifestantes. “A gente tem algumas pautas que precisamos tratar, queremos que isso seja explanado até a cidade de Belém. Ainda não tem desmatamento, a população não está deixando acontecer. A empresa Ciclus da Amazônia está pleiteando fazer um lixão [na comunidade]. E tem mais o órgão que fiscaliza, a Semas, que é responsável para dar o licenciamento, está negando”, detalha o morador da região.
Posicionamento
Em nota assinada pelo prefeito municipal de Acará, Pedro Paulo Moraes, a prefeitura detalhou que “vem a público se manifestar sobre a recente decisão judicial que determinou a retomada do processo de licenciamento ambiental da empresa Ciclus Amazônia S.A., no que se refere à pretensão de instalação de aterro sanitário no território neste município”.
“A decisão judicial em questão não autoriza a instalação do aterro sanitário em Acará. Trata-se, exclusivamente, da determinação para que o processo de licenciamento ambiental tenha prosseguimento, o que inclui a imposição de condicionantes e complementações técnicas a serem analisadas pela SEMAS/PA. A Prefeitura de Acará manifesta total contrariedade à instalação de aterro sanitário no município”, detalha o comunicado.
Também de acordo com a prefeitura, estão sendo adotadas todas as medidas legais cabíveis para barrar a iniciativa. “E iremos recorrer da decisão judicial proferida no Agravo de Instrumento nº 0804262-32.2019.8.14.0000, por entender que a localização do empreendimento é incompatível com a realidade socioambiental do Baixo Acará e ameaça o modo de vida das comunidades locais, aliás, como se posicionou a Secretaria Estadual do Meio Ambiente em parecer técnico fundamentado”.
“É importante ressaltar que a Prefeitura sempre atuou com responsabilidade e transparência, defendendo o interesse coletivo e a preservação ambiental. O processo de licenciamento ambiental, embora esteja sendo retomado por força de decisão judicial, depende de rigorosa análise técnica, estudos complementares e do cumprimento de requisitos legais que ainda não foram superados. Portanto, não há decisão definitiva sobre a instalação do aterro”, acrescenta a nota.
A prefeitura pontuou, ainda, que “está ao lado das comunidades do Baixo Acará e permanecerá vigilante, mobilizada e atuando juridicamente para impedir que o município se torne receptor dos resíduos sólidos da Região Metropolitana de Belém”. “Reiteramos o nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente e a qualidade de vida da população de Acará. O governo municipal continuará firme na defesa do nosso território e das futuras gerações”, completa.
A Redação Integrada de O Liberal solicitou posicionamento ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) sobre a decisão judicial e ao Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) para que detalhem se acompanham os desdobramentos do caso.
E ainda, o Grupo Liberal também buscou as prefeituras de Belém, Ananindeua e Marituba para detalharem sobre a possível destinação dos resíduos desses municípios para o "novo aterro sanitário". A Ciclus Amazônia também foi procurada. A reportagem aguarda retorno.
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