Tacacazeiras celebram possível reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil 

O pedido de registro do Ofício de Tacacazeiras começou em 2010

Andreia Santana
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“Eu nasci com o tacacá”, resume a tacacazeira Neide Sobrinho, de Belém, sobre o ofício que aprendeu com a avó, de quem herdou o dom e o amor por preparar a iguaria. O trabalho das tacacazeiras, já reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Pará, pode agora se tornar Patrimônio Cultural do Brasil, graças a uma consulta pública aberta pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um feito comemorado por Neide e outras pessoas que vivem da venda de uma das comidas típicas mais queridas da região Norte.

“É um marco na nossa história, porque faz com que a sociedade reconheça a importância do nosso ofício, valorizando um prato que não é apenas comida, mas uma história viva da nossa ancestralidade, vinda dos nossos antepassados. Também é uma forma de garantir que as novas gerações conheçam o saber, o fazer e deem continuidade a essa tradição tão representativa da nossa região, que é a nossa cultura: o tacacá”, afirma Neide sobre a proposta.

Além de administrar o ‘Tacacá Tradicional’, localizado em frente à Praça Santuário, no bairro de Nazaré, Neide também é vice-presidente da Associação das Tacacazeiras, que atualmente conta com 28 associadas. No entanto, ela afirma que há muitas outras tacacazeiras pelas ruas de Belém e em todo o estado.

“O tacacá sempre começou em bancas de rua, que a gente fala, é um símbolo da nossa cultura, da nossa tradição, e se tornou um hábito das pessoas procurarem uma banca de tacacá toda tarde, mesmo com o tempo quente, e isso faz com que a gente tenha mais visibilidade”, contou.

No entanto, muitas pessoas que vivem da venda de tacacá ainda sofrem dificuldades no dia a dia, o que pode melhorar consideravelmente com o reconhecimento nacional.

“Tem equipamentos que as trabalhadoras não têm condição de manter, alguns possuem equipamentos mais sofisticados e outros não têm. E a gente sente dificuldade na hora de fazer empréstimos para melhorar nosso trabalho, nem todo mundo consegue. Eu acho que isso [o reconhecimento] faz com que tenhamos mais respeito no olhar do próximo e dos governantes, para assegurar que tenhamos mais dignidade”, disse.

O  estudante de direito da UFPA, Fabrício Castro Mendes, conta que na sua opinião o tacacá é mais que comida, é tradição e memória viva da Amazônia. “Quando a gente sente o cheiro do tucupi do camarão e jambu que pra mim é o melhor ingrediente do mundo , já vem aquele sentimento de casa, de fim de tarde na calçada, sabe?”, pontua.

Para o estudante, reconhecer o trabalho das tacacazeiras é motivo de muito orgulho. “Elas não estão só vendendo tacacá, estão mantendo viva uma cultura que vem de geração em geração”, acrescenta o jovem.

A consulta

O pedido de registro do Ofício de Tacacazeiras começou em 2010, quando o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) solicitou sua inclusão no Livro dos Saberes, como parte da documentação de celebrações e saberes ligados à mandioca no Pará, já registrados no Inventário Nacional de Referências Culturais desde 2006. Em 2024, o processo avançou com a pesquisa e elaboração do dossiê em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), aproximando o ofício do reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil.

A atual consulta pública do Iphan está aberta até o dia 19 de novembro, e qualquer pessoa pode enviar sua opinião, sugestões ou informações sobre o assunto para o e-mail conselho.consultivo@iphan.gov.br, através do Protocolo Digital disponível no site oficial do instituto, ou por correspondência para o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (SEPS 702/902, Centro Empresarial Brasília 50, Bloco B, Torre Iphan, 5º Andar, Brasília-DF, CEP 70390-135).

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