Futuro profissional: jovens vivem dilema entre sonho e pressão familiar às vésperas do Enem
Com o Enem se aproximando, estudantes vivem dilemas entre vocação, expectativa familiar e instabilidade no futuro profissional

A menos de 40 dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), jovens enfrentam a difícil missão de escolher uma profissão. A decisão é tomada ainda na adolescência, em meio a dúvidas, expectativas e à busca por aceitação familiar. Especialistas alertam que o papel da família pode ser determinante nesse processo, seja como suporte ou como fonte de pressão.
A psicóloga Melissa Fecury, coordenadora do curso de Psicologia da Faci Wyden, explica que o ambiente familiar ajuda a moldar percepções sobre sucesso e estabilidade profissional. “É dentro de casa que o jovem começa a formar suas percepções sobre o que é ‘ter sucesso’, ‘ter estabilidade’ e ‘ser alguém na vida’. Comentários, expectativas e exemplos dos pais acabam moldando, mesmo que de forma inconsciente, o que ele considera uma boa profissão”, afirma.
Interferência familiar pode gerar ansiedade e bloqueios
Segundo Melissa, quando há excesso de cobrança, a escolha pode gerar sintomas de ansiedade. “Um sinal importante é quando o jovem demonstra desmotivação ou evita falar sobre o futuro. Em alguns casos, há reações físicas, como mal-estar, ao abordar o tema”, explica.
Esse cenário é vivido pela publicitária Lorena Bastos, mãe de Maria Luísa, que pretende prestar vestibular este ano. “Minha filha decidiu seguir na mesma linha que eu. Ela quer ser publicitária também, mas ainda avalia opções como jornalismo e design”, conta. Lorena afirma que tenta oferecer orientação sem impor caminhos. “Quero que ela explore possibilidades, construa um portfólio e descubra em qual área se identifica mais.”
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Com 15 anos de carreira em agências, Lorena compartilha com a filha as realidades da profissão. “Conto tudo, desde os desafios até as oportunidades. O mercado muda o tempo todo, mas se ela gostar do que faz, encontrará seu caminho.”
Escolha autêntica é fundamental para realização profissional
Para Melissa, o equilíbrio emocional é tão importante quanto a escolha do curso. “A influência familiar é positiva quando há escuta, diálogo e liberdade. Mas quando o jovem sente que precisa atender a expectativas alheias, a escolha deixa de ser autêntica.”
Ela alerta que decisões tomadas apenas para agradar os pais podem levar à frustração. “É comum ver arrependimento e até sintomas de estresse. A realização está ligada ao propósito, e não apenas à aprovação externa.”
Lorena compartilha da mesma visão. “Acho importante entender o retorno financeiro, mas isso não é o fundamental. O principal é ela se sentir bem e gostar do que faz. Foi assim comigo: escolhi pela vocação, não pelo dinheiro.”
Empregabilidade ainda é prioridade entre universitários
Mesmo com mais acesso à informação, a geração atual enfrenta incertezas. Um levantamento do Instituto Locomotiva, em parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), revela que 59% dos universitários escolhem o curso pensando na empregabilidade. Ainda assim, 24% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para Melissa, a escolha profissional deve ser tratada como um processo. “O mercado é dinâmico. Mudar de área ou redirecionar a carreira é cada vez mais comum. A decisão não é uma sentença, mas uma construção.”
Diálogo é essencial na relação entre pais e filhos
A psicóloga recomenda que as famílias acolham as dúvidas dos filhos e compartilhem suas próprias experiências, sem impor trajetórias. “Quando há confiança, o estudante se sente mais à vontade para refletir e fazer escolhas autênticas.”
Lorena reforça: “Conhecimento é a palavra-chave, tanto para os pais quanto para os filhos. É preciso entender o que desperta o interesse, respeitar os limites e manter o diálogo aberto. Isso é o que faz a diferença.”
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