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Estoques de medicamentos para hanseníase foram prejudicados pela pandemia de covid-19

OMS fez apelo para que a gestão da crise da pandemia não prejudicasse a meta de erradicação da doença

Eduardo Laviano
fonte

Há trinta anos, a Assembleia Mundial da Saúde adotou uma resolução para eliminar a hanseníase como um problema de saúde pública. Hoje, a principal preocupação dos organismos internacionais é garantir que a doença não seja negligenciada por conta da pandemia de covid-19, que se tornou o centro das atenções do mundo nos últimos 18 meses.

Edmilson Picanço é coordenador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, que existe há 40 anos. Além do desconhecimento sobre a doença atrapalhar o combate à hanseníase, ele lembra que os estoques de medicamentos, que são distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, foram prejudicados por conta da pandemia.

"A produção não foi interrompida durante a pandemia, mas houve problema no transporte e abastecimento de diversos países por conta da pandemia, que se intensificou no mês de agosto de 2020 até janeiro de 2021, principalmente os medicamentos do esquema PQT, o principal doado da Organização Mundial de Saúde, feito pelo laboratório Novart, na Índia", afirma ele. Os estoques, segundo Picanço, já estão sendo regularizados.

De acordo com dados do Movimento, hoje, o estado do Pará está em quinto lugar entre as 27 unidades da federação quando o assunto é número de casos. São diagnosticados entre 3 mil e 3,5 mil casos por ano, em números notificados, ou seja, de pacientes que chegam ao posto de saúde.

 

Erradicação da hanseníase é meta mundial

A resolução adotada na em 1991 reivindicou a eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública em nível global até o ano 2000. Para isso, definiu-se uma taxa de menos de um caso por 10 mil habitantes, o que foi alcançado.

Apesar do avanço mundial no controle da doença, a hanseníase ainda não é uma doença do passado. Todos os anos, cerca de 200 mil novos casos são relatados, e ainda há regiões endêmicas e pontos críticos de hanseníase espalhados em muitos países.

As metas incluem zero pacientes com hanseníase em 120 países e uma redução de 70% em novos casos detectados mundialmente até 2030. Yohei Sasakawa, Embaixador da Boa Vontade para a causa nomeado pela Organização Mundial da Saúde, lembra que é necessário um trabalho conjunto.

"São metas ambiciosas, portanto, serão necessários compromissos dos governos nacionais para que sejam alcançadas. Sei que são tempos difíceis, mas não devemos permitir que a hanseníase seja negligenciada em meio à covid-19, principalmente observando que o impacto da pandemia do coronavírus tem sido particularmente forte em comunidades já marginalizadas, como as das pessoas afetadas pela hanseníase", avalia.

Estima-se que cerca de três a quatro milhões de pessoas estão vivendo com deficiências visíveis ou deformidades causadas pela hanseníase, enquanto o estigma e a discriminação em relação às pessoas com a doença ainda persistem.

O Brasil tem a maior taxa de incidência da hanseníase, com aproximadamente 13 novos casos para cada 100 mil habitantes, segundo dados de 2019 do Ministério da Saúde. O tema ganhou, recentemente, amplitude mundial na voz da engenheira química Julia Gama, brasileira que conquistou o segundo lugar no Miss Universo e é embaixadora da causa no Brasil desde 2014. Na internet, diversas pessoas afirmaram não saber que a doença ainda era uma realidade para tantos brasileiros antes de ser abordada por Gama.

 

image Medicação para hanseníase não parou de ser produzida na pandemia (Prefeitura de Cuiabá / Reprodução)

Avanço da ciência extinguiu necessidade de isolamento

Picanço lembra que o Pará possui duas ex-colônias de hansenianos: uma em Marituba e outra em Vila Santa Antônio do Prata (com cerca de 150 pacientes). Em Marituba, e ex-colônia se tornou o bairro Dom Aristides, que conta com 200 pessoas vivendo no bairro com a doença e aproximadamente 60 deles, abrigados. Em 1949, o isolamento forçado dos hansenianos nos chamados leprosários virou lei federal, que vigorou até 1986.

Anteriormente, em 1920, houve a regulamentação dos leprosários, que funcionavam como cidades, com escolas, praças, dormitórios, delegacias, prisões e cemitérios. Estes espaços passaram a ser organizados como uma cidade, com escolas, praças, delegacias, prisões e até cemitérios. Chegaram a existir cerca de 40 leprosários em todo o Brasil.

A legislação permitia separar os filhos dos pacientes que engravidassem dentro das colônias. Ainda bebês, eram enviados em cestos à educandários e preventórios, espécie de creches de filhos considerados órfãos, mesmo tendo pais vivos. Foi o caso de Edmilson e dos irmãos.

"Existe muito preconceito. A hanseníase de hoje é vista como o que era a lepra do passado, que está na Bíblia. Embora tenha uma lei que combata o termo lepra, isso ficou na cabeça das pessoas. Até a década de 90, pessoas diagnosticadas eram separadas da sociedade em razão de uma medida profilática sanitária que hoje é reconhecidamente errônea", diz Picanço.

A hanseníase pode ser classificada como paucibacilar, com poucos ou nenhum bacilo nos exames, ou multibacilar, com muitos bacilos. A forma multibacilar não tratada possui potencial de transmissão. A doença é transmitida por meio da tosse ou contato com o muco nasal de uma pessoa infectada. Hoje em dia, porém, a comunidade científica corrobora a ideia de que a doença tem um nível infeccioso muito baixo e que não há razão para isolar as pessoas diagnosticadas.

"É preciso fortalecer a política pública em torno da doença e investir no diagnóstico precoce da doença, e claro, na prevenção. É preciso investir também na chamada busca de contato, com exames nos familiares do paciente. A melhor forma de prevenção é a informação também", afirma o coordenador.

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