Janeiro Branco: Especialista recomenda uso responsável de medicamentos para transtornos mentais
O psiquiatra do Hospital de Clínicas, Dirceu Rigoni, alerta que os hipnóticos são psicofármacos com uso restrito a casos específicos
A busca de remédios sem acompanhamento médico ou o uso da medicação como única forma de tratamento para transtornos mentais, como depressão e ansiedade sem a prática de outras recomendações como psicoterapia e atividade física, estão entre os principais alertas do Governo do Estado, neste mês de campanha do Janeiro Branco, que tem como foco o cuidado integral com a saúde mental.
Dados do Conselho Federal de Farmácia apontam que entre os anos de 2017 e 2021, a comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor apresentou crescimento no Brasil de cerca de 58%. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2019 e 2021, as vendas de medicamentos hipnóticos para insônia, como o Zolpidem, cresceram 73% para a versão de 5mg. O aumento do uso dessas medicações acende um alerta sobre os cuidados com a saúde mental, sobretudo, desde 2020. A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que somente no primeiro ano da pandemia de covid-19 casos de depressão e ansiedade aumentaram em mais de 25% entre crianças, adultos e idosos em todo o planeta.
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O psiquiatra do Hospital de Clínicas, Dirceu Rigoni, alerta que os hipnóticos são psicofármacos com uso restrito a casos específicos. “Existe a possibilidade de desenvolver dependência destes medicamentos, com necessidade de doses progressivamente maiores caso sejam usados sem indicação e, principalmente, sem o tratamento concomitante da causa de base da insônia (sua principal indicação). Outro efeito colateral possível, mais frequente no caso do uso incorreto, é o esquecimento de ações realizadas após sua tomada à noite, bem como a possibilidade de quadros de desorientação e agitação importantes", explica.
O especialista reforça que nem todos os transtornos mentais têm indicação do uso de um antidepressivo. "Mesmo nos casos em que haja a possibilidade de tratamento com antidepressivos, nos casos clássicos de ansiedade e depressão, há a possibilidade, dependendo da gravidade e dos sintomas do paciente, de ser tratado sem a medicação, com medidas como psicoterapia, terapia ocupacional, mudanças dos hábitos de vida, a exemplo do controle da alimentação, da realização de atividade física, evitando o estresse excessivo e dormindo adequadamente. Os casos que precisam da medicação não excluem a necessidade destas outras medidas", pontua Dirceu Rigoni.
Acompanhamento médico é essencial
O profissional também ressalta sobre a importância do paciente ter acompanhamento médico, principalmente, de um psiquiatra, que avalie adequadamente cada caso para estabelecer o diagnóstico correto (ou ao menos as hipóteses iniciais corretas), tendo em vista que o tratamento equivocado pode agravar o quadro.
"É fundamental ter esse acompanhamento também por conta dos possíveis efeitos colaterais, com ajustes de doses para evitar novas crises, ajustes de doses quando o paciente já está estável e talvez não precise mais do mesmo número/quantidade de medicações. E para quando houver a possibilidade, suspender gradativamente e com segurança o uso das medicações com as orientações adequadas para que o paciente tenha sua alta do serviço", informa o psiquiatra.
Serviço: A Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna é uma unidade estadual de saúde com atendimento gratuito e de referência nas áreas de Cardiologia, Psiquiatria e Nefrologia. A unidade hospitalar está localizada na Travessa Alferes Costa, nº 2000, Bairro da Pedreira.
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