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Dia Mundial da Alimentação: entenda como a alimentação consciente pode impactar na vida da população

A nutricionista Yonah Figueira, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-7), Yonah Figueira, comentou sobre a importância da data, insegurança alimentar, ultraprocessados e outros assuntos inerentes ao Dia Mundial da Alimentação

Fabyo Cruz
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No Dia Mundial da Alimentação, comemorado anualmente em 16 de outubro, a nutricionista Yonah Figueira, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-7), comentou sobre a importância do evento, insegurança alimentar, ultraprocessados e outros assuntos inerentes à celebração. A data foi escolhida para lembrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e tem como intuito desenvolver uma reflexão a respeito do tema em âmbito global.

O número de pessoas afetadas pela fome globalmente subiu para 828 milhões em 2021, um aumento de 150 milhões desde 2019, sendo que cerca de 2,3 bilhões de pessoas no mundo (29,3%) encontram-se em insegurança alimentar moderada ou grave, segundo relatório da ONU The State of Food Security and Nutrition in the World 2022.

 

Qual é a importância do Dia Mundial da Alimentação?

"Para nós é sempre um dia de reivindicação de vários direitos em relação à alimentação. É um dia dia que a gente trabalha também a conscientização do consumidor, buscando uma alimentação mais saudável e consciente. Nós, nutricionistas, não estamos dizendo que a pessoa não deve comer, e sim que ela tenha sua alimentação de uma forma consciente".

 

O que são e qual é a diferença da segurança alimentar para a insegurança alimentar?  

"A gente considera que a segurança alimentar é quando o indivíduo, dentro da sua condição econômica, pode ter uma alimentação saudável todos os dias, sem comprometer as outras necessidades dele, como escola e lazer. Ele tem uma alimentação regular, sustentada dia a dia, não se deparando com a questão da fome. Na insegurança alimentar, ele convive com esse medo da fome. Atualmente, alguma parcela da população tem essa alimentação, mas nem todo dia, então hoje tem o alimento mas tem o medo de não ter acesso a esse alimento. E esse medo, a insegurança alimentar, tem escalas que podem ser desde leve a grave. O que nos preocupa hoje é o aumento da insegurança alimentar grave, que é a fome propriamente dita".

 

As regiões Norte e Nordeste se destacam com maiores índices de fome. Por quê?        

"A gente sabe que existe uma grande diferença regional de PIB, arrecadação, IDH, baixa escolaridade, condições climáticas, produção, então tudo isso envolve a questão da insegurança alimentar, além do próprio salário mínimo que é praticado em cada região, e no Norte e Nordeste são os mais baixos. Em contrapartida, nós temos algumas condições de preços muito altos em determinados alimentos, como a cesta básica, que hoje compromete mais de 50% do salário mínimo do indivíduo".

 

Atualmente, há os extremos do aumento da obesidade e da má nutrição. Como o acesso da alimentação nutritiva e de qualidade pode afetar a saúde das pessoas?

"No caso da desnutrição, que tem vários fatores determinantes, como a falta de acesso ao alimento por não ter a condição econômica favorável a isso, uma das formas de fazer com que as pessoas tenham acesso são os programas sociais, as políticas voltadas para a questão da fome, que hoje a gente percebe que houve um retrocesso em relação a essas políticas. E a obesidade vem justamente por conta do consumo excessivo dos ultraprocessados, que é o que chamamos de ‘fome oculta’, ou seja, a pessoa tem acesso ao alimento, que não é o ideal, consegue saciar sua fome dele, mas não com uma propriedade nutricional boa, podendo adquirir doenças causadas pelo consumo dos ultraprocessados. Esses alimentos são preparados pela indústria com alto teor de gordura, açúcar e sódio, podendo causar também a diabetes, problemas renais e o próprio câncer".

 

Como você avalia os alimentos com alto teor de agrotóxicos?

"De 2020 para cá, nós tivemos a partir do Ministério da Agricultura a liberação de registro de mais de 400 tipos de agrotóxicos. E isso no alimento é muito danoso porque vai sendo consumido, e o consumidor muita das vezes não sente a consequência do hoje, mas daqui a cinco, dez anos, a frequência com que você consome esse alimento vai te trazer o câncer. A gente sabe que é um lado positivo o Brasil ser o maior produtor agrícola do mundo, mas ele traz essa carga do alto consumo e uso do agrotóxico, antibiótico e hormônios. Hoje há crianças com mais processo alérgico do que antes, porque antes ela comia alimentos mais naturais, até produzidos em casa. Hoje até as pessoas que vivem no meio rural foram afetadas".  

 

O nutricionista é o principal profissional  na luta contra a insegurança alimentar. Apesar disso, você acredita que os profissionais dessa área estão mais voltados apenas para prescrição dietoterápica, esquecendo do papel da educação nutricional no combate à insegurança alimentar?

"O que a gente precisa hoje é mudar a lógica de atuação profissional, por exemplo, o médico precisa trabalhar mais com a medicina preventiva e não com a medicina hospital cêntrica ou medicamentosa. E aí é o caso do nutricionista, o profissional precisa sair do campo de atuação mais da clínica e atuar mais nas questões sociais, o que não é fácil, para nós é desafiador porque você prescrever, fazer um plano alimentar para alguém que está passando fome não é fácil, é um desafio para nós, mas precisamos sim estar invertendo essa lógica, por isso, a gente vem trabalhando muito de vários fóruns de debates, conferências, para defender a questão da agricultura familiar, da produção de subsistência, o alimento vindo do campo e não da indústria alimentícia que usa muito estabilizante, aromatizante, corante e vários aditivos danosos à população".      

 

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