Apreensão de ouro no Pará em 2025 é 40 vezes maior que em anos anteriores

Transporte de ouro ilegal no estado tem sido um dos alvos de operações da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal

Andréia Santana | Especial para O Liberal
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Em 2025, a apreensão de ouro no Pará já é mais de 40 vezes superior ao total confiscado nos dois últimos anos. Somente neste ano, mais de 40 kg do metal, avaliados em mais de R$ 16,8 milhões, foram interceptados em uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que ocorreu em 6 de agosto, em Altamira (PA), uma carga que sozinha superou de forma expressiva o volume total registrado em 2023 e 2024. Essa foi a segunda maior apreensão de ouro da história das rodovias federais.

A carga era transportada pela BR-230 (Transamazônica) em uma caminhonete ocupada por quatro pessoas: dois adultos, um adolescente e uma criança. Os adultos foram encaminhados à Polícia Federal (PF) e os menores às autoridades competentes. A diferença em relação aos anos anteriores é expressiva: em 2024, foram apreendidos apenas 0,019 kg de ouro, avaliados em R$ 7.827,82, enquanto, em 2023, o total chegou a 0,751 kg, equivalente a R$ 314.623,95.

De acordo com a PF, responsável pela investigação da origem e destinação do ouro, o crime organizado aproveita a infraestrutura ilegal de contrabando de drogas para também realizar o tráfico do metal.

“Houve a entrada de organizações de tráfico de drogas na América Latina que expandiram suas atividades para a mineração ilegal de ouro, aproveitando rotas e infraestruturas já estabelecidas para o contrabando de drogas. Assim, as receitas do ouro são então reinvestidas em outras operações criminosas por meio de lavagem de capitais”, informou a PF em nota.

O superintendente da PRF no Pará, Haroldo Teixeira, destaca que o retorno financeiro alto e rápido, além da facilidade no transporte, atrai o investimento das organizações criminosas, que levam o ouro para países vizinhos da região.

“O ouro é uma moeda muito valorizada. Os indicativos que a gente tem mostram que os países na região fronteiriça com a Amazônia pagam muito mais por ele, então esse ouro sai daqui para lá. É um investimento que traz um retorno muito rápido, é um transporte que não chama muito a atenção, pelo fato de não ter cheiro, então o cão não vai identificar, e é fácil de ser escondido. Para o crime organizado, é um investimento com retorno bastante rápido. Ele pode ser levado para fora do país, ser trocado com armamentos, com drogas, então é uma moeda de troca que é muito valorizada e muito mais rápida de você receber esse dinheiro que está negociando de forma ilegal”, explicou.

Transporte de ouro legal

Para quem transporta ouro no Brasil, é preciso possuir uma Guia de Transporte e Custódia de Ouro, um documento eletrônico emitido pela Agência Nacional de Mineração que comprova a origem legal do ouro. Além disso, a emissão de Nota Fiscal Eletrônica de Ouro Ativo Financeiro é obrigatória para instituições autorizadas a operar com ouro. O superintendente Haroldo Teixeira alerta para a atenção à origem do produto, para não correr riscos.

“Toda a exploração de uma jazida de ouro precisa obedecer à legislação ambiental. Portanto, praticamente todo transporte feito individualmente é geralmente ilegal, porque precisa estar amparado de acordo com a legislação ambiental em vigor. É preciso ter licenças e recolher impostos, o que não acontece quando se faz um transporte ilegal. Há necessidade de uma licença ambiental para que se promova a exploração da mina ou do garimpo”, explicou.

imageHaroldo Teixeira, superintendente da PRF no Pará (Thiago Gomes / O Liberal)

AMAS

Em 2023, o governo federal lançou o Plano Amazônia: Segurança e Soberania (AMAS), uma iniciativa para fortalecer a presença do Estado na região amazônica, combatendo crimes ambientais e promovendo a segurança e soberania da região. Segundo o superintendente da PRF, o plano fortaleceu a fiscalização no Pará.

“O AMAS fortaleceu nossa fiscalização em grande parte das rodovias que cortam o estado do Pará. Há grande suspeita de que o ouro dessas apreensões tem origem em garimpos ilegais, principalmente em territórios indígenas do nosso estado. Temos o exemplo da terra Yanomami, que durante muito tempo ficou sem fiscalização eficiente, e agora estamos atuando na desintrusão da terra indígena. Recentemente, em julho, houve a operação de desintrusão na terra Kayapó, na área de Redenção, no sul do Pará. Com isso, percebemos a necessidade de fortalecer a fiscalização em torno dessas terras, que possuem grande influência do crime organizado atuando nos garimpos, na extração de madeira e no tráfico de drogas”, contou.

Atuação da PF e PRF

No Pará, atualmente existem cinco delegacias administrativas da PRF e, recentemente, 100 novos policiais reforçaram o efetivo. Com isso, de acordo com o superintendente, são realizadas ações e operações rotineiras para coibir o tráfico de ouro, drogas e outros crimes nas rodovias do estado.

“Hoje a PRF atua operacionalmente integrada com ações de inteligência. Além dos serviços rotineiros, em cada dia da semana há um comando específico de fiscalização, seja para combate ao crime, tráfico de ouro, drogas, armas, pessoas, aves silvestres ou outros crimes ambientais. Além disso, realizamos fiscalizações de segurança viária. Integrados a esses comandos específicos, com levantamento de informes de inteligência sobre os principais trechos, como a BR-230, que corta o Pará de leste a oeste, e que se transformou em um grande corredor devido à migração do crime organizado para a região norte, principalmente o tráfico de drogas vindo da região do Amazonas, temos fortalecido muito a fiscalização”, contou.

A PF possui a Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente (DAMAZ), uma nova diretoria na estrutura organizacional da instituição, que atua diretamente na proteção e segurança do meio ambiente e da Amazônia, dos povos originários e comunidades tradicionais, enfrentando crimes ambientais e conexos através de articulação e atuação integrada.

“A criação da Diretoria é um passo importante do governo diante do aumento recente do desmatamento, dos conflitos agrários, da mineração ilegal, das mudanças climáticas e do crescimento da economia verde. Com a nova Diretoria e a reformulação das delegacias especializadas no combate a crimes ambientais, o trabalho entre a unidade central e as regionais ficará mais integrado. Isso também permitirá uma estratégia mais eficiente e uniforme”, informou a PF em nota.

Denúncia

Quem quiser denunciar tráfico ilegal de ouro, crimes ambientais ou outras infrações pode utilizar o canal virtual Comunica PF, que permite relatar crimes investigados pela Polícia Federal, com a opção de manter o anonimato. Também é possível entrar em contato diretamente com a Superintendência Regional da PF no Pará pelo telefone (91) 3214-8014.

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