Kamala Harris: poderá uma pioneira subestimada derrotar Trump?

Candidata democrata enfrenta Trump no pleito de 5 de novembro

Danny KEMP/AFP
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A ligação que mudou tudo para Kamala Harris ocorreu em uma manhã de domingo em julho, enquanto a vice-presidente dos EUA cozinhava panquecas e montava um quebra-cabeça com suas sobrinhas-netas.

"Estávamos trabalhando no quebra-cabeça e o telefone toca, e é o Joe," disse Kamala recentemente ao apresentador de rádio Howard Stern. "Levantei para atender a ligação, e então a vida mudou."

O anúncio do presidente Joe Biden a Kamala de que ele ia desistir da corrida presidencial de 2024 desencadeou uma das transformações mais notáveis na política americana.

Anteriormente desgastada com índices de rejeição recordes para uma vice-presidente, a democrata criou, em poucas semanas, uma campanha eleitoral “do zero” e alcançou Donald Trump nas pesquisas. 

Kamala fez comícios empolgantes, arrecadou mais de 1 bilhão de dólares (cerca de R$ 5,7 bilhões na cotação atual) em fundos e trouxe o que chamou de uma explosão de alegria para um partido que havia perdido a esperança.

No entanto, à medida que a empolgação inicial diminui, Kamala está na luta de sua vida para vencer em 5 de novembro.

"Não é fácil. Normalmente, as pessoas concorrem à presidência por dois anos, e ela está disputando desde o final de julho," disse David Karol, que ensina política na Universidade de Maryland, à AFP.

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 Início difícil 

Kamala foi uma pioneira desde o momento em que entrou na Casa Branca como a primeira vice-presidente mulher, negra e de ascendência sul-asiática dos EUA.

No entanto, o caminho se mostrou difícil no início. A democrata enfrentou críticas severas de que não estava à altura do cargo, a um passo da presidência.

Já criticada por suas políticas vagas durante uma tentativa frustrada de candidatura presidencial contra Biden em 2019, ela se tornou cada vez mais notória – assim como Biden – por suas "saladas de palavras".

Designada por Biden para lidar com as raízes do problema da migração ilegal no país, Harris hesitou e deu aos republicanos uma linha de ataque sobre ser uma "czarina da fronteira" fracassada, que eles usam até hoje.

Mas as coisas começaram a mudar em 2022. Quando a Suprema Corte anulou a decisão Roe vs. Wade, que protegia o direito federal ao aborto, Kamala finalmente encontrou sua voz.

Ela se mobilizou pelo país em torno da questão e assumiu um papel cada vez mais proeminente na segunda campanha presidencial de Biden – com funcionários admitindo em privado que ela estava de olho em sua própria candidatura em 2028.

Mas poucos sonhavam que o momento para ela tentar a presidência chegaria tão cedo.

Parte disso se deve ao fato de que a vice-presidente sempre foi subestimada, tanto por alguns democratas quanto por republicanos.

Trump logo descobriria que a mulher a quem chamou de “camarada Kamala”, “maluca” e alvo de provocações machistas e racistas era uma força a ser reconhecida. No único debate entre eles, ela saiu em vantagem ao provocar o ex-presidente.

 "Momala" 

Kamala, no entanto, deixou de se apoiar abertamente em sua raça ou gênero durante a campanha.

Quando ela fala sobre seu histórico pessoal, geralmente é para mencionar sua mãe nascida na Índia, que a criou, junto com sua irmã, sozinha, enquanto seu pai, nascido na Jamaica, raramente é mencionado.

Ou então, há seu afeto muito público por Doug Emhoff, o "segundo-cavalheiro". Cole e Emma, seus enteados, a chamam de "Momala".

Ela também usou o relacionamento para criticar o companheiro de chapa de Trump, J.D. Vance, que anteriormente descreveu as democratas de alta patente como "velhas dos gatos sem filhos."

É mais comum ouvi-la focar em sua história profissional como promotora e depois como procuradora-geral da Califórnia -- contrastando-se com Trump, que tenta se tornar o primeiro americano condenado criminalmente a ocupar o Salão Oval.

Kamala também mencionou repetidamente que é proprietária de armas, ao buscar o apoio de eleitores republicanos.

No entanto, também há fraquezas. A democrata continua se sentindo desconfortável com a mídia, e sua falha em dar entrevistas por várias semanas atraiu críticas dos republicanos.

A questão agora é se ela conseguirá montar o quebra-cabeça e "quebrar o teto de vidro mais alto" dos Estados Unidos para se tornar a primeira mulher presidente do país.

"Acho que ela fez uma boa campanha. E se ela perder, algumas pessoas dirão 'ah, é porque ela não fez uma boa campanha' -- e eu acho que isso é errado," afirma David Karol.

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