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Brasil tem risco baixo de ser afetado por falência de bancos, afirma pesquisador

O professor Douglas Alencar defende atuação dos Bancos Centrais para conter crise em bancos estrangeiros

Fabrício Queiroz
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O mercado financeiro, governos e investidores em todo o mundo tem acompanhado com atenção desde a semana passada as notícias de crise envolvendo instituições bancárias nos Estados Unidos e na Suíça. Ainda que o sinal de alerta esteja ligado, a percepção é de que não há um risco de quebra generalizada e contaminação em outros países. Na avaliação do doutor em Economia e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Douglas Alencar, o cenário ainda é incerto, porém a tendência é que o Brasil não sofra grandes efeitos devido à estrutura do sistema bancário nacional.

Nos dias 10 e 12 de março, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, respectivamente, tiveram falência decretada e sofreram a intervenção de agentes reguladores do governo estadunidense. Já na quarta-feira (15), o Credit Suisse teve desvalorização de mais de 20% em suas ações e precisou recorrer ao Banco Central da Suíça para não quebrar. No dia seguinte, as ações do First Republic Bank tiveram queda de 30% na bolsa de Nova Iorque, acentuando as perdas de cerca de 80% do seu valor de mercado desde o colapso do SVB.

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Os eventos da última semana lembraram em parte a conjuntura da crise de 2008, quando o banco de investimento Lehman Brothers decretou a maior falência da história dos Estados Unidos. Após o anúncio da falência, correntistas tentaram retirar os recursos depositados, mas a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), que passou a controlar o SVB e o Signature Bank, garante somente saques de até US$ 250 mil, sendo que muitos clientes tinham valores maiores em conta. Para acalmar os ânimos, o presidente Joe Biden veio a público afirmar que todos os clientes receberão todos os recursos depositados.

Apesar da corrida aos bancos ser semelhante, Alencar, que pesquisa temas relacionados à economia bancária, política monetária e sistema financeiro, esclarece que há circunstâncias diferentes em cada caso. “A crise de 2008 começou no subprime, que era uma espécie de mercado secundário de títulos de dívidas. A atual crise está começando em bancos que atual no setor de tecnologia. Assim, o ponto de partida é bastante diferente”, pontua o docente, que observa que medidas mais acertadas foram tomadas agora.

image O professor da UFPA, Douglas Alencar, explica as diferenças entre as crises de 2008 e a atual (Divulgação)

“Na minha opinião, os bancos centrais aprenderam com a crise do subprime, e já no domingo passado, o presidente do Banco Central Americano (FED), Jerome Powell, anunciou que irá garantir os saques dos correntistas do banco, o que alivia o estresse sobre o sistema financeiro americano. Devemos lembrar que no começo da crise do subprime, o FED permitiu que o Lehman Brothers quebrasse, o que aprofundou a crise. Minha impressão é que o FED não irá cometer os mesmos erros”, analisa.

Ainda assim, em um contexto de economia globalizada, é esperado que as perdas que ocorrem em um país repercutam em outros, alterando o humor do mercado, elevando a fuga de capitais e aumentando a busca por liquidez. Diante disso, a economia mundial pode sofrer, mas o professor Douglas Alencar considera que o Brasil está em uma posição mais segura.

“Com a incerteza aumentando, aumenta também o que nós, economistas, chamamos de preferência pela liquidez, ou seja, todos dos participantes da economia passam a reter moeda, reduzindo assim a possibilidade de aumento do emprego, dos empréstimos e do consumo. Então, sim, a depender da resposta dos bancos centrais, a crise pode chegar no Brasil. Mas como estamos tratando de uma crise bancária, ao menos em relação ao sistema financeiro brasileiro, podemos ficar mais tranquilos, dado que o sistema financeiro brasileiro é um dos mais regulados do mundo. Mas tudo depende do grau de incerteza que iremos vivenciar e a resposta dos bancos centrais, principalmente dos Estados Unidos e Europa”, acrescenta o pesquisador.

Para analistas do mercado internacional, as quebras recentes dos bancos estariam relacionadas com problemas de gestão de cada instituição e com os efeitos pontuais sentidos pelo setor, logo não seriam sintomáticos de uma fragilidade generalizada do sistema. No caso do Credit Suisse, por exemplo, os indícios apontam que há fraudes nos balanços contábeis da instituição.

Já em relação ao SVB, os problemas de liquidez teriam surgido com o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que vem subindo como forma de conter a inflação. Diante do temor atual e da divulgação de dados que indicam que novos aumentos nos juros podem levar à desaceleração do país, a expectativa é que a estratégia do governo seja revista. “Me parece que a redução do ritmo de aumento das taxas de juros americanas é benéfica no curto, médio e longos prazos”, frisa Alencar.

Como forma de conter a disseminação da crise, o pesquisador defende ainda a atuação do sistema financeiro no socorro aos bancos. Além disso, os investidores brasileiros com aplicações no exterior podem optar por alocar mais recursos no país em virtude da segurança oferecida pelo mercado nacional.

“Os Bancos Centrais devem adotar medidas para elevar a liquidez do sistema bancário, caso a crise se espalhe. Os investidores internacionais devem na medida que a crise aumente, transferir seus recursos para outros bancos. Contudo, dependendo do grau de incerteza, internalizar os recursos pode ser uma atitude interessante, considerando que o sistema financeiro brasileiro é bastante robusto”, opina o professor Douglas Alencar.

A semana de crise nos bancos estrangeiros

  • 10 de março – O Silicon Valley Bank (SVB) foi tomado por reguladores bancários depois de relatar perdas de US$ 212 bilhões em ativos - o equivalente a mais de R$ 1,12 trilhão - e de US$ 175 bilhões em depósitos (cerca de R$ 920 bilhões) no quarto trimestre de 2022. Foi a maior falência dos EUA desde 2008.
  • 12 de março – No domingo foi decretada a terceira maior falência do país, ocorrida no Signature Bank. A instituição tinha ativos totais de cerca de US$ 110,36 bilhões (R$ 580 bilhões) e depósitos totais equivalentes a mais de R$ 460 milhões.
  • 15 de março – Os resultados financeiros do último trimestre de 2022 já haviam apontado que o Credit Suisse perdeu sua base de clientes. Na quarta-feira, o conselho de administração do Saudi National Bank, que é o maior investir do Credit Suisse negou fazer um maior aporte de investimentos na instituição. Com isso, as ações do banco chegaram a cair mais de 20%.
  • 16 de março – O Credit Suisse anunciou o pedido de empréstimo de US$ 54 bilhões ao Banco Central da Suíça, o que fez o mercado reagir bem. Porém, no mesmo dia, o First Republic Bank teve queda de 30% em suas ações e notas rebaixadas por uma agência de classificação de risco. Em reação, um grupo de credores socorreu o banco com um depósito de US$ 30 bilhões.
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