Paysandu: psicólogo explica como saúde mental pode afetar desempenho de jogadores em campo
Papão passou por crises fora dos gramados, o que pode ter afetado os jogadores psicologicamente e, consequentemente, os resultados em campo
O Paysandu não tem vivido bons momentos dentro e, principalmente, fora de campo. Em meio a crises de bastidores, o desempenho dos jogadores tem ficado abaixo do esperado e o time se aproximou da zona de rebaixamento da Série B após nove jogos sem vitórias. Com um elenco sem acompanhamento psicológico adequado, a saúde mental afetada por crises pode ser um dos principais fatores que afetam o dinamismo do time em campo.
Para entender como isso pode ocorrer, o Núcleo de Esportes de O Liberal conversou com o psicólogo Maurício Marques, que explicou a importância do acompanhamento psicológico para atletas de alto rendimento. Segundo ele, todos os atletas de alto rendimento deveriam ter acompanhamento psicológico para lidar com a alta pressão que sofrem no dia a dia.
“O atleta profissional hoje é totalmente de alto rendimento. E hoje, o psicólogo está na maioria das comissões técnicas, como está o nutricionista, fisioterapeuta, ou preparador físico. As questões emocionais são tão importantes quanto as outras, no sentido de que a pressão no alto rendimento é muito grande. Inclusive, atletas profissionais de futebol e atletas olímpicos tendem a ter duas a três vezes mais depressão quanto transtornos de ansiedade por todas as demandas que têm. Então, o jeito de estar melhor preparado é lidar com todas as situações que todos passam, independente de divisão, de salário. O esporte, pode ser, sim, mais estressante do que um trabalho comum”, explicou.
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Maurício explica ainda que as crises no clube podem, sim, ter sido um fator crucial que afetou o desempenho de atletas em campo. Vale lembrar que, o Paysandu não possui psicólogos na comissão técnica. Para momentos específicos, o clube contrata um "motivador" para o elenco, como no jogo decisivo para o acesso para a Série B, em 2023, quando o clube convidou um ex-combatente do Bope para dar palavras de apoio ao elenco.
“As crises vão afetar o atleta porque o ambiente fica tenso. Eu já trabalhei em equipe de estudante, perto do rebaixamento, parte alta, parte baixa da tabela, então sei que se cria um clima psicológico, uma atmosfera, um clima motivacional, muitas vezes de pressão para o resultado. Às vezes existem questões salariais, todo mundo fica chateado quando não ganha, quem está jogando fica chateado porque não dá resultado, quem não está jogando fica chateado porque não consegue jogar, tem troca de treinador. São muitos fatores. Então, os resultados podem ser afetados diretamente”, disse.
“Claro que pode existir um trabalho com o treinador, com a comissão técnica e diretoria para que esses climas do ambiente externo não entre no vestiário. Mas para isso é preciso conhecer o grupo, precisa estar sendo feito um trabalho dentro do clube, do grupo, da comissão. Não é algo de um dia para o outro. É preciso estar no dia a dia ali, ter essa confiança dos atletas. Então tudo isso ajuda os atletas a estarem um pouco mais resistentes ou não tomarem para si tanta pressão”, continuou.
O profissional reitera a importância de um acompanhamento psicológico frequente para qualquer grande clube de futebol, já que existem problemas a longo prazo e além dos grupais, os individuais de cada atleta, que podem afetar o time na totalidade.
“Em um clube, o psicólogo tem trabalhos grupais para lidar com questões de comunicação, de clima motivacional e várias estratégias para diminuir a ansiedade por resultados, a ansiedade pessoal, são todas habilidades treináveis, mas como qualquer outro tipo de treino, o psicológico é necessário ter essa sequência, ter frequência, não é uma palestra mágica, uma conversa que vai mudar tudo, é um trabalho de médio e longo prazo, dentro dos vínculos a serem criados, é necessário estar presente”, finalizou.
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