Serragem da Terra Firme: berçário de saltos e sonhos No Dia do Desporto Comunitário, O Liberal conta a história de sucesso entre Rui Marinho e a serragem da Terra Firme, espaço onde se revelam vários talentos da periferia de Belém Igor Wilson 06.04.25 8h30 Rui cresceu na serragem e viajou vários países representando o esporte (Thiago Gomes/O Liberal) Na beira do Canal do Tucunduba, em Belém, um terreno originalmente reservado para a passagem de postes de alta tensão virou, ao longo de décadas, um ponto de encontro entre juventude, criatividade e resistência. É ali, entre o pó fino da madeira descartada e os improvisos que só a periferia sabe fazer, que se formou um dos espaços de lazer mais emblemáticos do bairro da Terra Firme. A ‘serragem’ — como ficou conhecido o espaço — guarda as memórias de uma geração que transformou alagamento em acrobacia, abandono em palco, vulnerabilidade em potência. VEJA MAIS Ana Clara e a Copa Feminina em Belém: 'Sonho que mais meninas se interessem por futebol' Belém ainda não foi confirmada oficialmente como sede, mas a menina de 13 anos que joga no meio dos meninos sonha que o evento sirva de incentivo para mais meninas [[(standard.Article) Atletas e ribeirinhos de Belém geram turismo e renda através da canoa polinésia ]] Rui Marinho cresceu entre essas camadas de serragem. Nascido e criado na Terra Firme, começou ainda criança, no fim dos anos 1980, a frequentar o terreno. “A serragem começou nos anos 80, ali na beira do Tucunduba tinha muita serraria. As ruas não eram asfaltadas, só as principais. Eles acabavam jogando essa serragem na rua e virava a diversão da cirançada”, lembra. A serragem, inicialmente despejada para conter os alagamentos crônicos da região, problema que ainda persiste nas periferias, logo se tornou aliada de outras finalidades. Esportes e outras brincadeiras de rua se multiplicaram. Futebol, vôlei, pega-pega. Mas foi no salto — o mais improvável dos esportes — que Rui encontrou um caminho, se tornando um atleta profissional e viajando o mundo como representante da modalidade. Rui e colegas estimulam crianças e jovens a praticarem esportes (Thiago Gomes/O Liberaç) Os equipamentos eram construídos com o que havia. A criançada se juntava em busca de molas de colchão, pneus, tábuas reaproveitadas, pedaços de ferro. “A gente inventava trampolim de mola de carro com tábua, usava pneu de carro, mola de cama velha, a gente se inspirava nos atletas de educação física na época”, conta ele, sorrindo, enquanto observa as crianças que hoje repetem saltos que ele tanto realizou ali. Inspirado em movimentos que via à distância, muitas vezes apenas pela televisão, Rui e os amigos criaram uma espécie de circuito de treinamento livre. As competições eram espontâneas, guiadas por criatividade e muito improviso. Era só chegar e competir. As regras eram criadas por eles mesmos. Só não valia chorar, porque a mãe dificilmente ouvia. Logo uma multidão de crianças passou a ir diariamente à serragem. “Lembro que ia as vezes ver os treinos no ginásio de Educação Física. A gente pedia pra assistir os atletas, mas o pessoal não deixava a gente treinar, então a gente chegava e montava no nosso bairro a nossa área de treino. Rolava competições, cada um fazia uma acrobacia e o outro tinha que fazer o mesmo ou melhor. Vinha galera do Jurunas, da Terra Firme, Pedreira, de muitos bairros, era muito divertido”, lembra. Da serragem para o mundo O que começou como brincadeira se transformou em trajetória esportiva. Rui entrou para a seleção brasileira de saltos ornamentais, disputou os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, competiu em Mundial em Roma, em Sul-Americanos, no circuito mundial e na Copa do Mundo na China. Nada mal para aquela criança da serragem da Terra Firme. “Toda vez que eu ia para essas competições eles sempre citavam essa minha história na serragem e isso sempre foi muito gratificante pra mim”, afirma. Hoje, a área de serragem segue ativa. No emaranhado de vielas e casas da Terra Firme, crianças e adolescentes ainda sde reúnem e saltam com facilidade, utilizando molas de carros, sacas de areia, pedaços de colchões. Riem entre um salto e outro, indiferentes ao lixo e à precariedade do entorno. Em meio a um cenário de ausência estrutural, o espaço permanece vivo. Sem iluminação adequada, sem delimitações, sem equipamentos públicos, a serragem da Terra Firme sobrevive pelo esforço da própria comunidade. Rui ali é admirado por todos. Rui ainda se diverte com a criançada do bairro (Thiago Gomes/O Liberal) Profissionais de educação física, dançarinos, artistas do hip hop e treinadores visitam o local em busca de talentos. Ainda que o movimento tenha diminuído com o tempo — o avanço das telas impactaram o interesse dos mais jovens —, a essência do terreno permanece. A coletividade insiste em existir, resistir e criar. “Os jovens da minha época tinham que se virar pra arrumar o que fazer”, diz Rui. “Ou transformava o ócio em alguma coisa produtiva ou ficava no tédio. A gente criou a nossa diversão”, disse. O que começou com serragem jogada para conter a lama virou chão fértil para acrobacias, afetos e futuros. Na Terra Firme, entre ruas não asfaltadas e casas coladas umas às outras, crianças ainda correm e saltam. Ainda improvisam. Ainda acreditam. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave Jogos Olímpicos saltos ornamentais periferia terra firme belém COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Mais Esportes . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! 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