Superação: atletas percorrem até 140 km durante a Ultramaratona do Círio

Em meio às manifestações religiosas do povo paraense em outubro estão as que se conectam ao esporte. E uma delas é a Ultramaratona do Círio. Uma mistura de resistência física e demonstração de devoção à Nossa Senhora de Nazaré que está de volta após dois anos por conta da pandemia da covid-19.

A "Ultra" é uma corrida que acontece na sexta-feira que antecede o Círio de Nazaré, quando atletas saem da imagem do Cristo, em Castanhal, e seguem pela BR-316 até a chegada na Basílica Santuário de Nazaré, em Belém. Alguns atletas chegam a percorrer de 70 a 140 quilômetros.

O educador físico e personal trainer Luiz Gonzaga Lima, de 52 anos, que iniciou na corrida em 2007 para sair da obesidade, vai disputar pela primeira vez a “Ultra do Círio”. “Sempre tive vontade de fazer essa prova e agora que surgiu a oportunidade. Mesmo sem tempo para fazer um trabalho adequado, o foco vai ser em rodar entre 5 km e 12 km durante a semana, intercalando com a musculação, e nos finais de semana chegando até 20 km, no máximo, pois um atleta de endurance [resistência] tem que condicionar sua mente a levá-lo sempre ao quilômetro seguinte”, revela.

Gonzaga (Ivan Duarte)

Para o atleta, a resiliência e a fé têm conexão direta com sua infância, assim como entre o esporte e a procissão católica. “O Círio me traz a figura de meu pai e de minha avó. [Eles] Não deixavam de assistir a saída de Nossa Senhora e muitas vezes os acompanhei quando era menino. O Círio deixa a cidade leve, a fé está em cada canto por onde passamos e não tenho dúvida que muitas lágrimas, pedidos e agradecimentos vão acontecer durante esse percurso dos 70 km”, fala, com emoção.

Seguindo com foco na preparação, Gonzaga relata o que espera encontrar ao final da prova. “De estar renovado, de reencontro comigo mesmo, de agradecimentos pela vida, afinal tivemos dois anos muito difíceis”, reforça.

Corredora vai para a sétima 'Ultra'

Quem vai participar também da ultramaratona, porém no sentido contrário (Belém – Castanhal), é a contadora, nissei e atleta amadora Aline Kikuchi, de 41 anos, popularmente conhecida como “Japa Ultra”. “A corrida sempre existiu na minha vida, desde quando me entendo por gente, quando criança sempre participei de competições de corridas na Associação Japonesa de Castanhal. Corridas de 50 m, 100 m e revezamento, porém, depois que entrei na faculdade e da maternidade, ela ficou adormecida até 2014”, relembra.

O interesse de Aline pela corrida foi tanto que há oito anos ela fundou com amigos um grupo de corrida denominado “Superando Limites”. De lá para cá, foram várias competições, seis anos só de Ultra do Círio. Japa chegou a participar das provas de 70 km, 90 km, 140 km e uma com duração de 24 horas.

São meses de preparação até a realização da ultramaratona (Gabriel Lourenço/Especial para O Liberal)

A atleta conta como se preparou para a edição deste ano. “Três treinos no meio da semana, de 12 a 15 km e no fim de semana um 'longão', de 20 a 30 km. Os treinos vão se intensificando para encarar esses 70 km. Também treinei funcional com reforço muscular para melhorar minha resistência e evitar as lesões”, afirma, cheia de motivação.

Quanto aos sentimentos que envolvem o desafio no período Nazareno, Japa revela: “Já participei também do Círio, acho muito lindo e admiro a fé de cada um que vai agradecer por alguma graça alcançada. Já estou me imaginando na chegada, esse ano vai ser muito mais especial, pois vamos fazer a Ultra voltando para casa [Castanhal]. Terminará no Cristo, onde esperamos que todos os familiares estejam na linha de chegada”, finaliza.