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MPPA lança campanha 'Cartão Vermelho para o Racismo' neste sábado (21) no RexPa

Ação ocorre durante clássico Remo x Paysandu pela Série B, no Mangueirão, palco recente de caso de injúria racial contra uma trabalhadora durante a final do Parazão

Hannah Franco | Especial em O Liberal

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) promove, neste sábado (21), o lançamento da campanha “Cartão Vermelho para o Racismo”, no Estádio Olímpico do Pará – Jornalista Edgar Proença, o Mangueirão. A iniciativa será realizada durante o RexPa, clássico entre Remo e Paysandu, pela 13ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, com início marcado para às 18h30.

A campanha pretende transformar os estádios de futebol em espaços de respeito, inclusão e igualdade racial. A ação será conduzida pelo Procurador-Geral de Justiça Alexandre Tourinho e pelo promotor de Justiça Eduardo Falesi, representantes do MPPA.

A mobilização é uma adesão à campanha nacional iniciada no Distrito Federal, pela Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), por meio do Procurador de Justiça José Eduardo Sabo. Com o lema “Não é só falta grave, é cartão vermelho para o racismo”, a iniciativa já esteve presente em partidas organizadas pela CBF, como Vasco x Palmeiras, Aparecidense x Fluminense e Capital x Botafogo, em maio deste ano.

Durante a entrada no Mangueirão, os torcedores receberão cartões vermelhos como forma simbólica de manifestar repúdio ao racismo nos estádios. Os jogadores de Remo e Paysandu também entrarão em campo com faixas da campanha, reforçando o compromisso com a diversidade, equidade e inclusão social.

"Esse protocolo visa desenvolver ações que permitam que, no maior clássico da Amazônia, entre Remo e Paysandu, os atores envolvidos – como jogadores, arbitragem e torcedores de ambos os times – possam realmente alcançar uma conscientização maior em busca da igualdade racial", explicou o promotor Eduardo Falesi.

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Crescimento de casos de racismo

Dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol revelam um crescimento expressivo nos casos de racismo no esporte brasileiro. Em 2014, foram registrados 25 casos. Em 2023, esse número saltou para 136, mostrando um aumento de 444%. Ainda segundo o levantamento, 41% dos jogadores negros do país afirmam já ter sido vítimas de racismo em campo.

"Lamentavelmente, temos registrado casos não apenas dentro dos gramados, mas também fora deles e em outras praças esportivas, os quais merecem a devida atenção do poder público", apontou o promotor.

"Diante disso, o Ministério Público do Estado do Pará, em parceria com a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, a Secretaria de Justiça, a Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Paraense de Futebol, decidiu implementar esta ação durante o maior clássico da região, que contará com um público expressivo e permitirá reforçar a consciência de que o enfrentamento e o combate ao racismo são causas que devem ser, cada vez mais, assumidas por toda a sociedade", completou.

Injúria racial no último RexPa

Durante a grande final do Campeonato Paraense de 2025, realizada no dia 11 de maio, casos de injúria racial foram registrados no Estádio Mangueirão. A jovem Josieli Meireles, de 23 anos, trabalhava em um dos bares do estádio quando foi vítima da violência. Em entrevista exclusiva ao Grupo O Liberal, ela relatou o ocorrido.

"Quase no fim do jogo, um rapaz foi pegar uma cerveja no meu bar. Minha mãe pegou a comanda dele, onde constava apenas uma água, embora ele tivesse comprado também uma cerveja. Houve um erro na impressão do caixa e só saiu a água. Mesmo ele tendo pago os dois itens, só podíamos entregar o que estava na comanda, senão o prejuízo seria nosso. Ele teria que voltar ao caixa, pedir outra comanda e resolver lá", explicou Josieli.

"Enquanto eu entregava outra cerveja, ele pegou e tentou sair com ela. Chamei e avisei que não era dele. Ele insistiu que era, e minha mãe mostrou a comanda com apenas a água registrada. Ele não aceitou bem, e a discussão começou", completou.

Segundo Josieli, o homem aumentou o tom de voz e afirmou ser deputado — o que, mais tarde, foi comprovado como falso. “Ele me chamou de ‘preta’ e ‘cabelo de bruxa’. Eu me revoltei e pedi ajuda aos policiais”, contou. A jovem formalizou a denúncia na delegacia, e o agressor foi preso em flagrante.

“Eu estava bastante mal. Nunca tinha vivido isso. Não dessa forma. Nunca imaginei que aconteceria comigo”, desabafou.

“Fiquei muito nervosa. Só queria ir embora. Estava com vergonha, todo mundo me olhava com pena.” Na delegacia, foi confirmado que o homem não era deputado, apenas utilizava o apelido. “Ele usou isso para tentar nos intimidar, sabe?”, disse Josieli.


Torcedora do Clube do Remo e acostumada a trabalhar em dias de jogos no Mangueirão, Josieli vai participar da campanha “Cartão Vermelho para o Racismo”. “Tô com um pouco de vergonha, mas vou participar. Amanhã pode ser minha irmã, que hoje tem só 8 anos, ou até mesmo meus filhos passando pela mesma coisa. E eu não desejo isso para ninguém”, afirmou.

“A gente sabe que não tem nada de errado com a gente, que não temos defeitos... Mas a gente se questiona por um momento. E esse momento é muito ruim”, concluiu.

A campanha reforça que racismo é crime, conforme estabelece a Lei nº 7.716/1989, que prevê pena de reclusão de dois a cinco anos, além da proibição de frequentar eventos esportivos, artísticos ou culturais por até três anos.