Pará pode ganhar até US$ 2 bilhões em 2026 com exportação após fim de tarifaço norte-americano

Fim da sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros poderá impulsionar as exportações do estado, que já se consolidou como um dos maiores exportadores do Brasil; economistas projetam um aumento nas receitas e na competitividade no mercado internacional.

Jéssica Nascimento
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O estado do Pará tem motivos para comemorar com o anúncio do fim da tarifa de 40% sobre produtos brasileiros imposta pelos Estados Unidos. A medida promete aquecer as exportações paraenses, gerando um impacto positivo nas receitas estaduais e abrindo novas possibilidades de crescimento. Economistas ouvidos pelo Grupo Liberal estimam que, no curto e médio prazo, o estado poderá ver um aumento significativo nas exportações, que podem chegar a US$ 2 bilhões ao longo de 2026.

Projeções de crescimento e impacto financeiro

Nélio Bordalo, economista paraense, projeta um ganho substancial com a eliminação da sobretaxa. Segundo ele, em 2024, o Pará exportou US$ 22,97 bilhões, e, se a tarifa afetava uniformemente todos os produtos, a revogação poderia gerar um aumento imediato de US$ 9,2 bilhões nas exportações

Para Bordalo, que integra o Conselho Regional de Economia dos Pará e Amapá (Corecon PA/AP),  esse aumento poderia ser ainda mais expressivo, de até US$ 2 bilhões no primeiro ano, caso a demanda internacional se expanda com a eliminação da taxa.

“A projeção mais otimista, com o fim da tarifa, é que o Pará experimente uma expansão de mercado, resultando em um aumento de 5% a 10% nas exportações, o que poderia significar um ganho de US$ 1 a US$ 2 bilhões a mais”, afirmou Bordalo, destacando a diversidade de produtos exportados pelo estado, como alumínio, minérios e grãos.

Genardo Oliveira, outro economista paraense, concorda que a redução da tarifa pode ter um impacto positivo, mas em uma escala menor. Ele estima que o Pará possa recuperar entre US$ 150 milhões e US$ 250 milhões em exportações, com destaque para carnes e produtos como o açaí e a castanha-do-pará. 

“O impacto será mais gradual, pois o estado ainda está renegociando contratos e parte da demanda foi redirecionada para outros mercados durante o período da sobretaxa. Mesmo assim, os ganhos são promissores”, analisou.

Recuperação gradual das receitas e mercado competitivo

Ambos os economistas são cautelosos em relação à velocidade da recuperação das receitas estaduais. Enquanto Bordalo prevê uma recuperação gradual nos próximos 12 a 24 meses, Oliveira destaca que os exportadores do Pará precisarão reconstruir suas redes de contratos com compradores norte-americanos, o que pode levar algum tempo.

“Os mercados de países desenvolvidos, especialmente os EUA, voltarão a se tornar mais atrativos, mas a consolidação de novos compradores durante a vigência do tarifaço pode atenuar o impacto imediato da revogação”, afirma Bordalo. 

Para Oliveira, embora a retomada seja gradual, o estado ganhará vantagem competitiva em relação a outros estados brasileiros, especialmente devido à sua diversidade de produtos tropicais, como açaí e castanha, que são altamente demandados nos EUA e na Europa.

Competitividade internacional e novos mercados

A competitividade dos produtos do Pará no mercado internacional será aprimorada com o fim da sobretaxa, de acordo com os economistas. Bordalo vê uma oportunidade de fortalecimento, especialmente nos mercados norte-americano, chinês e europeu

Ele lembra que o Pará tem um diferencial logístico importante, com o Porto de Vila do Conde, além da abundância de energia elétrica, que reduz custos de produção.

“A eliminação da sobretaxa ajudará a colocar o Pará em uma posição estratégica, especialmente com a China, que é uma parceira comercial importante, e com a possibilidade de aumentar as exportações para novos mercados, como a Alemanha”, observa Bordalo.

Para Oliveira, o impacto mais visível ocorrerá nas exportações de carne bovina, açaí e castanha. “O fim da tarifa permitirá que o Pará volte a competir diretamente com países como a Argentina e a Austrália no mercado norte-americano, especialmente na proteína animal”, avaliou.

Ele também destaca o potencial de produtos tropicais do Pará em mercados europeus, onde há uma crescente demanda por alimentos saudáveis e sustentáveis.

Estratégias para acelerar a recuperação fiscal

Para garantir que os ganhos da revogação da sobretaxa sejam maximamente aproveitados, Bordalo e Oliveira sugerem uma série de medidas que o governo do Pará poderia adotar para acelerar a recuperação das receitas fiscais.

Bordalo aponta a importância de ações de curto prazo, como a promoção de programas de incentivo à exportação, o fortalecimento da infraestrutura portuária e o apoio à diversificação da pauta exportadora, com foco em produtos não tradicionais

“É fundamental apoiar a diversificação de produtos, como frutas e pesca, para reduzir a dependência de commodities volúveis”, afirma o economista.

Oliveira, por sua vez, sugere que o governo invista em infraestrutura logística e sanitária para atender às exigências dos mercados internacionais, especialmente os EUA. Ele também vê a necessidade de incentivar a exportação de produtos com maior valor agregado, como derivados de açaí e castanha, e fortalecer a presença em feiras internacionais para expandir os mercados-alvo. 

“Além disso, ações para modernizar a infraestrutura portuária, especialmente em Barcarena e Santarém, serão essenciais para reduzir custos logísticos e melhorar a competitividade do estado”,  complementa Oliveira.

Fiepa destaca oportunidades e desafios no fim da sobretaxa norte-americana para o Pará

A Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) também vê com otimismo a revogação da sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, mas ressalta que o impacto imediato pode variar de acordo com os setores e produtos. 

De acordo com as análises do Centro Internacional de Negócios da federação e do Observatório da Indústria do Pará, o estado já tem mostrado um bom desempenho nas exportações, mesmo durante a vigência da tarifa, e a retomada do mercado norte-americano pode trazer novas oportunidades de crescimento para a economia local.

Em 2025, segundo a Fiepa, o Pará registrou US$ 10,85 bilhões em exportações no primeiro semestre, com os Estados Unidos respondendo por 5,2% desse total, ou US$ 569 milhões, o que representou um crescimento de 43,08% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

No entanto, entre julho e outubro de 2025, período marcado pela imposição da sobretaxa, o estado exportou US$ 8,83 bilhões, com US$ 318,1 milhões destinados aos Estados Unidos. Apesar da tarifa, as exportações para o país aumentaram 5,82% em relação ao ano anterior.

A Fiepa também destacou o impacto da sobretaxa sobre os principais produtos exportados pelo Pará para os Estados Unidos. Entre os itens mais afetados, a alumina calcinada, que sofreu uma queda de 42,67%, totalizou US$ 56,29 milhões, enquanto o ferro fundido bruto não ligado, que registrou alta de 10,42%, somou US$ 53,72 milhões. Por outro lado, as madeiras tropicais perfiladas, com um crescimento expressivo de 85,92%, somaram US$ 36,73 milhões.

Sindfrutas vê grande expectativa de aumento nas exportações de açaí com fim da sobretaxa dos EUA

Denise Martins Acosta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas do Estado do Pará (Sindfrutas), também destacou a importância da revogação da tarifa de 40% sobre produtos brasileiros, especialmente no setor do açaí, que é um dos maiores exportadores do estado. De acordo com Acosta, o fim da sobretaxa traz uma grande expectativa de recuperação nas exportações para os Estados Unidos, um dos maiores mercados consumidores da fruta paraense.

“O açaí é um produto consagrado nos Estados Unidos, mas vinha sofrendo com a queda nas vendas devido ao alto custo que o produto estava chegando ao consumidor final. Isso impactou diretamente nas exportações. Com a eliminação da tarifa, temos uma grande expectativa de aumento nas vendas, o que implica em um aumento significativo na receita das empresas exportadoras e, consequentemente, na cadeia de produtores que abastece essas indústrias”, afirmou Denise.

Ela também explicou que, embora haja uma previsão de recuperação no curto prazo, o impacto da tarifa ainda é sentido, principalmente devido à natureza sazonal da fruta. 

“Estamos caminhando para o final da safra do açaí, e as empresas que foram prejudicadas pela alta da tarifa tentarão recuperar as produções perdidas nos próximos 30 dias. No entanto, é difícil recuperar totalmente o atraso de produção que tivemos, especialmente considerando que a safra de açaí tem uma janela definida de agosto a dezembro”, completou a presidente do Sindfrutas.

Faepa destaca o potencial do Pará no agronegócio e os benefícios do fim da sobretaxa dos EUA

Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), reforçou a posição do estado como um dos maiores destaques no agronegócio brasileiro, destacando sua competitividade no mercado internacional, especialmente após o fim da sobretaxa de 40% imposta pelos Estados Unidos. 

Segundo Minssen, produtos como manga, coco, açaí e abacaxi, que estavam penalizados pela tarifa, agora têm a chance de recuperar o mercado norte-americano, um dos maiores consumidores desses itens.

“O Pará está entre os Estados brasileiros que têm destaque no agronegócio pela comercialização com qualidade e preço muito competitivos no mercado mundial. Produtos como manga, coco, açaí e abacaxi, que sofreram com a sobretaxa, terão agora a oportunidade de retomar o fluxo de exportações para os Estados Unidos,” destacou Minssen.

O diretor da Faepa também mencionou que as carnes bovinas, outro setor onde o estado tem grande competitividade, terão seu fluxo de comercialização reparado com o fim da sobretaxa. Segundo ele, mesmo que o Pará não exporte carne para os EUA, como destacado anteriormente, o aumento na competitividade do setor como um todo pode beneficiar a economia local e o mercado interno.

“As carnes bovinas, onde também temos excelência e somos muito competitivos nos preços, terão reparado seu fluxo de comercialização,” afirmou Minssen.

Minssen ainda ressaltou a importância das relações comerciais entre Brasil e EUA, destacando que, após mais de 200 anos de diplomacia entre os dois países, questões comerciais, como a tarifa imposta, sempre foram tratadas de maneira racional e diplomática.

“Por mais de 200 anos de relações diplomáticas, o comércio entre Brasil e EUA foi sempre racional. Temos qualidade e preços, e qualquer rusga política poderia ser resolvida diplomaticamente, jamais por medidas artificiais contra o mercado,” concluiu Minssen.

Sindicarne vê exportações de carne para os EUA como cenário improvável e impacto limitado nos preços internos

Daniel Acatauassú, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes no Pará (Sindicarne), explicou que, apesar das expectativas positivas em torno do fim da tarifa de 40% sobre produtos brasileiros, o setor de carne não será diretamente impactado, pois o estado não exporta carne para os Estados Unidos

Ele destacou que, embora a exportação de carne seja um fator relevante para a regulação dos preços internos, o Pará não enfrenta grandes mudanças com o fim da sobretaxa.

“Na realidade, o Pará não exporta carne para os EUA, e mesmo assim, as exportações, ao contrário do que muitos pensam, acabam regulando os preços do mercado interno. Quanto mais mercados o Brasil exporta, mais as indústrias conseguem produzir e, com isso, sobra mais carne para o mercado interno”, explicou Acatauassú.

O presidente do Sindicarne também observou que, embora o Brasil exporte apenas 30% de sua produção de carne, os preços dessa commodity sofrem influência de vários fatores, incluindo sazonalidade e aumento da demanda por determinados cortes durante festas de fim de ano, como o aumento na procura por cortes do traseiro devido ao pagamento do 13º salário.

“Os preços do boi e da carne, como são commodities, sofrem os impactos de diversos fatores. No fim do ano, cortes como o traseiro tendem a ter maior demanda, o que pode afetar os preços devido à sazonalidade. No entanto, não acredito que a queda das tarifas impacte muito nesse cenário. Vejo um ambiente normal, com preços oscilando de acordo com a oferta e a demanda, com alguns cortes subindo e outros caindo”, disse Acatauassú.

De acordo com Acatauassú, a produção de carne do Pará é de cerca de 1 milhão de toneladas por ano, das quais aproximadamente 150 mil toneladas são exportadas para outros países. No entanto, o estado consome internamente cerca de 290 mil toneladas, e o restante vai para o mercado brasileiro.

O presidente do Sindicarne reiterou que o Pará não foi diretamente afetado pelo tarifaço, já que nunca exportou carne para os EUA. Além disso, destacou que a China representa o principal destino das exportações de carne do estado, consumindo cerca de 60% das 15% da produção que é exportada.

“O Pará não foi impactado diretamente pelo tarifaço, pois nunca exportamos carne para os EUA. De toda a nossa produção, exportamos apenas 15%, e a China compra 60% dessa quantidade,” completou Acatauassú.

Sindicato de Uruará vê efeitos limitados do fim da sobretaxa nas exportações da região

Bruno Valle, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Uruará, interior do Pará, compartilhou sua perspectiva sobre o impacto do fim da tarifa de 40% imposta pelos Estados Unidos. Segundo ele, a região não experimentou grandes mudanças devido ao tarifaço, e o fim da sobretaxa também não trouxe alterações imediatas no mercado local.

“O tarifaço em si não havia impactado ainda o mercado na região, talvez pelo seu curto período de vigência, então o seu fim também não mudou nada de imediato. O receio era mais pelos impactos de seu prolongamento, mas, no momento, não vejo mudanças significativas. Os setores mais significativos da nossa região, como carne e cacau, não foram afetados de forma relevante, então, a volta ao que já era antes não altera o panorama atual”, explicou Valle.

Quando questionado sobre a possibilidade de aumento nas exportações para os Estados Unidos e o impacto disso na geração de emprego ou renda para os trabalhadores rurais de Uruará, o presidente do sindicato foi cauteloso.

“Não acredito que isso vá gerar grandes mudanças no aspecto de emprego ou renda. O que houve foi um retorno ao cenário anterior, e o período curto da vigência da tarifa não teve efeitos duradouros na nossa região. Não houve mudanças no mercado local desde que a tarifa foi implementada, e com seu fim, as condições continuam praticamente as mesmas”, afirmou.

Valle também abordou o possível impacto do fim da sobretaxa sobre os preços no mercado interno. Para ele, as exportações para os EUA não devem gerar uma queda nos preços, considerando a breve duração da tarifa.

“Não houve alterações no mercado interno causadas pelo tarifaço, talvez pela curta duração da tarifa. A queda de preços, que muitos esperam, não ocorrerá por conta disso. O que poderia afetar mais nosso mercado exportador seria se os EUA fizessem muitos acordos de livre comércio bilaterais com outros países, deixando o Brasil de fora desses acordos. Aí sim poderíamos perder mercado para outros países, o que, sim, teria um impacto negativo”, alertou Valle.



















 

 









 

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