'É uma engrenagem completa': COP 30 exige união dos setores produtivos, diz presidente da ACP
Presidente da ACP, Elizabete Grunvald, afirma que conferência climática é chance única de impulsionar o setor produtivo com capacitação, investimentos e novos negócios
Belém atravessa um processo de reestruturação em todos os setores da economia local. Temas como desenvolvimento sustentável e empreendedorismo estão em alta. Para a presidente da Associação Comercial do Pará (ACP), Elizabete Grunvald, o ano de 2025 representa uma oportunidade única de posicionar o Pará e a Amazônia no centro das discussões globais, além de impulsionar o setor produtivo com planejamento, capacitação e investimentos.
Em entrevista ao Grupo Liberal, ela afirma que a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) na capital paraense exige uma mobilização inédita de todos os setores, mas também abre portas para a construção de um novo ciclo de desenvolvimento.
“Essa é a primeira vez que a COP será realizada na Amazônia e precisamos estar à altura desse momento. Estamos diante de uma chance histórica de mostrar ao mundo o que somos capazes de construir com organização, união e estratégia”, afirma Elizabete.
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Confira a entrevista na íntegra:
O que vocês esperam desse ano de 2025, que tem sido um momento muito oportuno para todas as áreas aqui no Pará?
Elizabete Grunvald: Eu acredito muito que o advento de um evento do porte da conferência do clima da COP 30 em Belém é uma grande janela de oportunidades. É uma janela de oportunidades para o setor produtivo em termos de negócios. É um momento muito importante para o Brasil, para a Amazônia e para o Pará, para a gente estar colocando as nossas pautas, as nossas questões.
Esta é a primeira vez que a conferência acontece no Brasil, e a primeira vez que Belém recebe um evento grandioso como tal. Portanto, eu vislumbro esse momento desde o momento que nós soubemos que a COP ia ser em Belém lá em meio de 2023, nós já começamos a nos estruturar por entender que esse é um momento muito importante de oportunidades de negócios para o estado e para a cidade. Lógico, com esse boom da COP30 e essa porta se abrindo para o mundo inteiro, porque Belém está realmente no centro, a Amazônia e Belém estão no centro dessas discussões no mundo todo.
Quais são as expectativas para o setor comercial? A demanda vai crescer muito? Como o setor está se preparando?
Acho que a gente evoluiu muito nesse último ano, tá? De novo, quando nós soubemos lá, em meados de 2023, começamos a nos estruturar dentro da Associação Comercial.
Nós temos um conselho de câmaras setoriais e já começamos a nos organizar dentro da Câmara Setorial de Turismo, da Câmara Setorial de Gastronomia, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Seguros, Mercado Imobiliário, Síndicos e Condomínios.
Então, nós temos vários braços dentro da Associação Comercial e esses braços começaram a se organizar, com cada câmara discutindo o seu segmento, como é que nós podíamos nos estruturar melhor para aproveitar esse momento, mas, sobretudo, para estruturar o setor produtivo, para estar preparado para receber essas pessoas, para receber esse evento que é tão importante para nós.
Ao longo do último ano, nós tivemos muitas ações nesse sentido, nos organizando. E pudemos discutir com entidades financeiras do mercado financeiro, oportunidades de crédito com taxas mais competitivas. Discutimos também toda uma organização desse mercado de locação por curta temporada, que é uma das soluções da COP.
Estamos discutindo, sim, com o setor hoteleiro a melhoria da capacidade hoteleira. E aí, a gente está falando de retrofit nos hotéis. Estamos falando de iniciativas e de estimular novos hotéis, já que a demanda, e que a oferta de hotéis na cidade ainda está muito aquém do que a gente espera ter de potencial turístico na cidade. Por isso, estamos trabalhando muito esse legado.
Quero lhe dizer que nós, não só a Associação Comercial, mas todas as entidades empresariais, especialmente a Associação Comercial, vêm sim trabalhando muito para que o setor produtivo se estruture melhor, para que o setor produtivo possa entender que isso é uma oportunidade de recolocar o Pará e a cidade de Belém na rota mundial turística.
Como o setor hoteleiro tem se preparado para o aumento da demanda durante a COP?
Olha, ao longo do último ano, nós tivemos muitas ações nesse sentido, nos organizando. Discutimos com entidades financeiras do mercado financeiro, oportunidades de crédito com taxas mais competitivas. Discutimos a organização desse mercado de locação por curta temporada, que é uma das soluções da COP. Estamos discutindo, sim, com o setor hoteleiro a melhoria da capacidade hoteleira, e aí estamos falando de retrofit nos hotéis e estimular novos hotéis, já que a oferta de hotéis na cidade ainda está muito aquém do que a gente espera ter de potencial turístico na cidade. Por isso, a gente está trabalhando muito esse legado.
A senhora acha que a capacitação vai ser um fator determinante para o sucesso da COP?
Bom o ganho de viver um momento como este é exatamente a preparação do setor, mais profissionalismo nas ações, nos produtos. Quando soubemos que iríamos receber a COP, o governo do Estado criou uma plataforma chamada Plataforma Capacita COP30, com o auxílio de todas as entidades empresariais. Então, nós construímos juntos esse processo, e a gente tem cerca de 30.000 vagas ofertadas.
Temos a expectativa de ter cerca de 30.000 pessoas capacitadas e o mais importante: de forma gratuita, em pelo menos 67 atividades de cursos. Ou seja, estamos falando de hotel, garçom, maître, restaurante, loja, manutenção de ar-condicionado, eletricista, encanador.
Enfim, todas as atividades que, de alguma maneira, envolvem a cadeia produtiva, especialmente do turismo. Até o mês passado, já conseguimos capacitar cerca de 15.000 pessoas, e a nossa meta até o final do ano é chegar a cerca de 30.000. Então, essa é uma ação bem importante. Porque, veja, Gabi, é uma ação que agrega valor.
Na hora em que você estrutura melhor o seu negócio, quando você tem um atendimento melhor, quando você tem uma compreensão melhor da gestão financeira, do controle de estoque, você necessariamente vende mais. E, na hora que você vende mais, consegue investir mais no seu negócio e crescer. Então, esse é o nosso papel: melhorar o ambiente de negócios. E essa ação de capacitação agrega um valor para muito além da COP.
O objetivo, claro, é nos prepararmos melhor para esse evento, mas todo o nosso trabalho não é só para o momento da COP. Todo o nosso trabalho é para a melhoria do ambiente de negócios, para melhor estruturação e oportunidades para o setor produtivo.
E quanto à questão da hospedagem, o que está sendo feito?
A hospedagem é, sim, um desafio muito grande. Eu sempre tenho dito que, salvo as grandes metrópoles do mundo, nenhuma cidade está totalmente preparada para receber 50 mil pessoas num período curto de 15 dias. Mas esse é um tema para o qual a gente tem se preparado muito.
Dentro da Associação Comercial, a gente tem uma Câmara de Mercado Imobiliário e uma de Síndicos e Condomínios para discutir, inclusive, a locação por curta temporada, que é uma das soluções para a COP. Além do setor hoteleiro e das vagas em hotel, a gente precisa ter outras soluções que vão compor essa quantidade de hospedagens que precisamos para o evento.
Estamos discutindo a locação por curta temporada, os preços... De repente, você vai colocar sua casa a um milhão de reais o aluguel? Eu falei: "Não, Gabi, sua casa não vale um milhão de reais." Você vai precisar conversar com uma imobiliária, com um corretor, para te orientar, para administrar isso melhor, para avaliar o seu imóvel. Alguém vai dizer: "Gabi, teu imóvel não vale um milhão. Teu imóvel vale 10 mil, teu imóvel vale 100 mil." Vamos avaliar isso.
Então, a gente está contando muito com o mercado imobiliário, com os corretores de imóveis, com as imobiliárias e com os proprietários, para que a gente pratique preços razoáveis. Claro que nós sabemos que os preços vão se elevar, porque é cultural em grandes eventos.
Mas a gente precisa realmente pensar que, se praticarmos preços abusivos — e aí eu estou falando tanto da locação por curta temporada quanto do setor hoteleiro —, podemos estar dando um tiro no pé do mercado, da cidade, da conferência, mas sobretudo do legado que queremos deixar para a cidade. Porque nós esperamos muito que essas pessoas que venham discutir as mudanças climáticas voltem.
Que elas voltem com as suas famílias, que voltem com seus amigos — e é nisso que estamos apostando muito como legado para a cidade: que Belém, o Estado do Pará, a região amazônica entrem novamente na rota mundial de turismo, para que a gente possa estimular e aquecer esse mercado.
Então, quero lhe dizer que estamos avaliando muitas possibilidades.
Estamos em diálogo constante com o setor hoteleiro para alinhar tudo isso, para entender como está a disponibilidade. Porque temos ouvido muito: “Meu Deus, não tem mais nenhum hotel na cidade, não tem mais nenhum quarto na cidade, como nós vamos receber?” Então, o setor hoteleiro está se autoadministrando. Claro que esse setor sofreu muito ao longo da pandemia, porque os hotéis fecharam as portas.
Eles tiveram, sim, que se reorganizar internamente, fazer um retrofit. Estão investindo muito na melhoria das unidades que ficaram dois anos paradas. E você sabe o que é uma unidade parada por dois anos — o quanto tudo deteriora. Então, claro que os hotéis estão enfrentando dificuldades para se reorganizar nesse processo e, consequentemente, os preços aumentam.
É um desafio orquestrar tudo isso. O governo do Estado tem um comitê estadual, a prefeitura tem um comitê, e a Secretaria Extraordinária da Presidência da República também tem um comitê. Então, essas três instâncias, junto com o setor produtivo, têm atuado de forma muito próxima para dar conta desses desafios e ver como podemos trabalhar para minimizar e mitigar essas questões.
Quais setores a senhora acha que vão ser mais exigidos durante a preparação para a COP?
É exatamente isso. Não dá para dizer que, neste momento, há um setor mais importante do que o outro, porque tudo faz parte de um conjunto. Na hora em que eu recebo um turista, um delegado da conferência ou uma delegação estrangeira, essa delegação precisa se hospedar, precisa se alimentar, precisa de mobilidade urbana — e aí estamos falando de transporte, ônibus, carros.
Essa delegação, eventualmente, pode ter um problema de saúde, e vamos precisar garantir atendimento médico. Ela vai precisar de mais voos, então estamos falando de acesso aéreo. Vai chegar por um aeroporto que precisa ter uma sala de embarque e desembarque mais adequada. Vai precisar de conectividade.
Portanto, veja: são muitos setores. Não dá para olhar para apenas um e dizer que ele é mais importante. Agora, tudo isso está sendo orquestrado, sim.
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