Aumento do IOF preocupa setor produtivo no Pará e pode encarecer mercadorias
Setor empresarial e economistas alertam para os impactos da medida no crédito, na inflação e na atividade econômica
O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), autorizado por decreto do governo federal em maio, acendeu um alerta entre economistas, empresários e entidades do setor produtivo em todo o país — e no Pará não foi diferente. A elevação da alíquota, válida por quatro meses, incide diretamente sobre operações de crédito, afetando tanto pessoas físicas quanto jurídicas. Especialistas apontam que a medida pode comprometer o consumo, os investimentos e o crescimento econômico no curto e médio prazo.
Crédito mais caro: nova alíquota afeta empresas, MEIs e consumidores
Com a nova alíquota, o IOF sobre crédito para empresas passou de 1,88% ao ano para 3,5%, enquanto para microempreendedores individuais (MEIs) o salto foi de 0,88% para 1,95%. Para os especialistas, o principal problema está no aumento do custo do crédito, que tende a dificultar o acesso a capital de giro e a financiamentos voltados à manutenção de operações e à expansão dos negócios.
A presidente da Associação Comercial do Pará (ACP), Elizabete Grunvald, alerta que o impacto será maior entre pequenos e médios empresários, que já enfrentam dificuldades diante da alta carga tributária e do cenário de juros elevados.
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“Esse aumento no IOF deve resultar em retração do consumo, menor rentabilidade dos negócios e aumento da insegurança jurídica para novos investimentos”, afirma.
Especialistas veem medida como retrocesso na reforma tributária
Segundo Grunvald, a medida pode ser interpretada como um recuo em relação aos compromissos com a reforma tributária e com a modernização do sistema fiscal brasileiro.
“Nós esperávamos medidas de estímulo à economia, mas o que vemos é um movimento contrário, que tende a gerar mais desconfiança entre investidores e empreendedores.”
Alta no IOF pressiona inflação e afeta o Norte de forma mais intensa
A avaliação é compartilhada por Lúcia Cristina de Andrade Lisboa, assessora econômica da Fecomércio-PA, que destaca a ineficácia da medida como solução para os problemas fiscais do país.
“Elevar alíquotas do IOF gera instabilidade, encarece o crédito, dificulta os empréstimos para as empresas e inibe os investimentos, comprometendo o ambiente de negócios e a competitividade da economia brasileira”, diz.
Segundo Lúcia Cristina, o aumento pode gerar efeitos negativos em cadeia, como a pressão inflacionária e a piora do custo de vida — especialmente nos estados da Região Norte, onde o acesso ao crédito já é historicamente limitado.
Dieese alerta para impacto no consumo e na cadeia produtiva
O economista e supervisor técnico do Dieese no Pará, Everson Costa, também vê com preocupação a decisão do governo. Ele afirma que o aumento do IOF tem impacto direto na formação de preços, pois eleva os custos de produção e de financiamento.
“Se os preços sobem, há reflexo direto na inflação. E num estado como o Pará, com forte dependência de insumos de outras regiões e alto nível de endividamento, isso afeta toda a cadeia produtiva e o consumo final.”
Costa destaca que empresas com margens apertadas serão as mais afetadas, especialmente aquelas que dependem de crédito para estocar, investir ou pagar fornecedores.
“Isso acaba sendo repassado para o consumidor final, comprometendo a demanda e o desempenho econômico.”
Empresários cobram reversão do decreto no Congresso
Diante da repercussão negativa, entidades nacionais como o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) enviaram ofícios ao Congresso Nacional pedindo a revogação do decreto. A Fecomércio-PA apoia o movimento.
“Aumentar impostos penaliza tanto os empreendedores quanto os consumidores. O ideal seria adotar um plano de racionalização administrativa, com eliminação de desperdícios. Essa é a única alternativa saudável para o ajuste fiscal”, defende Elizabete Grunvald.
Para ela, a medida contraria os discursos do governo sobre estímulo ao setor produtivo e à geração de empregos.
“Precisamos de ações que facilitem o acesso ao crédito, e não que o encareçam. Caso contrário, o empreendedor continuará perdendo espaço para a informalidade e para concorrentes estrangeiros.”
Pará pode ser um dos estados mais prejudicados
Com um índice de endividamento acima da média nacional — ultrapassando 70%, segundo o Dieese —, o Pará tende a ser um dos estados mais impactados pelos efeitos do aumento do IOF. Para Everson Costa, o encarecimento do crédito pode gerar um efeito dominó:
“Crédito mais caro empurra muitos para novos empréstimos, criando uma bola de neve. Isso afeta receitas, despesas e o potencial de consumo e investimento no estado.”
Outro fator agravante, segundo Costa, é a dependência logística e tributária do Pará em relação a outras regiões.
“Com custos mais altos de transporte, financiamento e insumos, o preço final ao consumidor sobe. Isso prejudica a competitividade do comércio local e agrava a perda do poder de compra da população.”
Especialistas alertam: impacto fiscal pode não compensar prejuízos
Enquanto o governo federal prevê uma arrecadação adicional de mais de R$ 60 bilhões até 2026 com o aumento do IOF, especialistas alertam que esse ganho pode ser ofuscado por uma desaceleração da economia, elevação do custo de vida e maior endividamento de famílias e empresas.
“O IOF mais alto pode ser uma solução de curto prazo para o governo, mas é um problema de longo prazo para a economia como um todo”, conclui Costa.
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