Alta do chocolate pressiona lojas de Belém, mas fidelidade mantém vendas em alta
Dados do IPCA/IBGE mostram que, em outubro, a alta foi de 4,41% em relação a setembro. No acumulado de 2025, o aumento chega a 17,45%, enquanto nos últimos 12 meses a variação alcança 22,83%
O preço do chocolate segue em forte escalada em Belém e já impacta o planejamento de empreendedores do setor. Dados do IPCA/IBGE mostram que, em outubro, a alta foi de 4,41% em relação a setembro. No acumulado de 2025, o aumento chega a 17,45%, enquanto nos últimos 12 meses a variação alcança 22,83%. Mesmo diante desse cenário, há quem tenha conseguido manter o movimento — e até vender mais — sem repassar integralmente os custos ao consumidor.
É o caso de uma loja no Umarizal, que há 32 anos atua no mercado. A proprietária, Silvia Oliveira, 62 anos, explica que a disparada do cacau no mercado internacional elevou de forma significativa o custo da matéria-prima. Ainda assim, diz que buscou segurar ao máximo a correção dos preços. “A gente teve aumento, realmente, muito. Mas a gente segurou, não passou tudo. Senão a gente ia acabar perdendo o cliente”, afirma.
Silvia conta que a loja tem uma base sólida de clientes fiéis e que apostar no relacionamento foi essencial para atravessar o período de pressão inflacionária. “O atendimento, o produto em si, aquela coisa assim, mexe muito com o cliente. A gente já tem aqueles clientes que têm preferência pelo nosso trabalho”, diz. Para não repassar a alta de forma brusca, a loja tem investido em detalhes como embalagens diferenciadas e pequenos brindes, que ela considera decisivos para manter a clientela próxima
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre em Belém, também teve impacto direto no movimento. Segundo Silvia, muitos consumidores passaram a ligar para confirmar se os preços eram “pré-COP” ou “pós-COP”. O humor das perguntas, no entanto, não impediu que as vendas seguissem aquecidas — inclusive impulsionadas por estrangeiros que buscavam itens típicos, como o cupuaçu azul, carro-chefe da loja. “Teve gringo aqui que chegou louco pelo cupuaçu”, relata.
Mesmo diante das altas, a empresária afirma que as vendas aumentaram — um resultado surpreendente. “Foi muita surpresa mesmo. Como eu disse, eles já vinham direto e encomendando. No sentido de valor, todo mundo gostou”, destaca. Para ela, a COP30 trouxe “um gás a mais”, refletido no crescimento do movimento antes mesmo da chegada de dezembro, um dos melhores meses do ano para o setor.
A expectativa agora é de um fim de ano ainda mais forte, impulsionado pela diversificação do portfólio. A loja aposta em panetones recheados de cupuaçu e castanha-do-Pará — e até versões inovadoras, como o panetone de açaí, que fez sucesso no ano passado. Também reforça produtos como licores, chocolates eróticos e o tradicional Monteiro Lopes com recheio regional. “A gente foi agregando mais coisas com o cupuaçu e com a castanha. Essas estratégias são uma saída para manter o cliente”, explica Silvia.
Para enfrentar a elevação dos custos, a empresária também precisou agir rapidamente. O fornecedor de Abaetetuba, que abastece a loja com castanha-do-Pará, alertou ainda entre maio e junho que os preços subiriam. “Ele disse: ‘Vamos aproveitar, porque subiu muito’. E aí a gente teve que correr”, lembra. Hoje, com quatro colaboradores, Silvia diz que a loja continua pequena, mas sustentada pela relação construída com o público ao longo de mais de três décadas.
Com a proximidade das festas de fim de ano e a permanência da alta do cacau no mercado internacional, a tendência é que o setor ainda enfrente desafios. Mas, para empreendedoras como Silvia, a receita para atravessar o período permanece a mesma: manter a qualidade, apostar no atendimento e cultivar a fidelidade.
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