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Salomão Larêdo lança o novo romance 'Pedral Canal do Inferno'

A obra ficcional é inspirada no 'causo' que dá nome ao Pedral do Lourenço, no rio Tocantins.

Enize Vidigal O Liberal

O escritor paraense Salomão Larêdo lança o novo romance “Pedral Canal do Inferno”, pela editora Empíreo, nesta sexta-feira, 30. Ao longo de 228 páginas, o autor ancora o enredo no polêmico Pedral do Lourenço, no rio Tocantins, município de Itupiranga, Sudeste Paraense, e dali parte para uma viagem ficcional que envolve rompantes de amor, morte e a rememoração do passado numa estadia no inferno com histórias entremeadas de lendas amazônicas e mitologias gregas.

O escritor conta que a ideia do romance ficcional surgiu da leitura do livro do engenheiro cametaense Ignácio Baptista de Moura (1857- 1929), “De Belém a S. João do Araguaia - Vale do Rio Tocantins”, publicado em 1910 e editado em 1989. O livro narra que: “Ali mesmo no meio do rio, há poucos anos, tinha soçobrado a canoa grande do desgraçado Lourenço, que deu o nome a tão trágico lugar. Era um ricaço dos sertões de Goiás, que descia o rio em uma grande canoa, levando consigo 8 mil couros, cerca de 40 contos de reis, muita criação, etc., e, mais do que isso, trazia uma rapariga de rara beleza, irmã da própria esposa, que fora por ele abandonada, para raptar a cunhada da casa da velha mãe, que a adorava mais do que o amante. Ao ver o Lourenço que descia a ribanceira para tomar a canoa, levando a guiaca (bolsa) da cinta cheia de moedas de ouro, a pobre velha, estorcendo as mãos, lhe gritou de cima: ‘Vai, desgraçado; as águas da cachoeira lá estão embaixo para me vingar!’”.

O livro de Ignácio Moura segue descrevendo que, segundo a história que lhe foi contada por um remador, dias após o rapto da jovem, no decurso da viagem, a embarcação de Lourenço naufragou ao atingir o pedral levando à perda de vidas humanas, incluindo Lourenço e a cunhada, bem como da carga e do dinheiro dele. O próprio engenheiro descreve ter passado “perigoso Rebojo do Lourenção (como ficou conhecido o lugar), na viagem de canoa que empreendia em março de 1896”, conforme retrata em seu livro.

Larêdo agradece a inspiração trazida pelo livro de Ignácio Moura e reafirma que a obra é uma ficção: “Não é a história do lugar. Personagens, nomes e situações são inventados pelo autor, que apenas tomou por base física a existência do Pedral e imaginou do imaginário popular à oralidade dos contadores de histórias para enriquecer os episódios da narrativa, invenção pura”.

Avaliações

Sobre o novo livro, a professora de Literatura e poeta Rita de Cássia da Silva discorre: “A história de Pedral central tem como personagens principais Lourenço, forasteiro comerciante que negociara Luma como esposa com a mãe dela, Rude, em uma transação monetária. O marido de Rude, pescador e colhedor de castanha, criara as filhas dela como se fosse pai. A filha mais nova, Lunete, é raptada pelo cunhado Lourenço que amaldiçoado pela sogra sofre um naufrágio e morre nas águas das cachoeiras do Itaboca, do Capitariquara, do Canal do Inferno. Esse grupo, posteriormente, se encontra no inferno onde o leitor toma conhecimento das peripécias que envolvem outros personagens que representam tipos, costumes e fatos da região do Pedral do Lourenço”.

Para além da descrição geográfica e da romantização da lenda que justifica o nome do pedral na vida real, o livro de Salomão Larêdo não deixa escapar as polêmicas sobre os impactos ambientais e sociais a serem causados pelo projeto de derrocamento do Pedral do Lourenço, obra demandada há anos, que será capaz de trazer incentivos econômicos para a região.

“Pedral me devorou, remexeu. Misturei as sensações já experimentadas ao ler Mia Couto, Gabriel Garcia Marques e Mário Vargas. Um sumo de muitos sabores excitantes. Sumo e cheiro de Amazônia. Pedral é pulsante como a hora de prazer. Um livro cheio de pecados e salvações (...) Deliciosamente transforma o vulgar e primitivo em cenários instigantes de reflexões políticas, éticas”, avalia a médica, professora, pesquisadora, ex-reitora da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Marília Xavier.

Lançamento

Não haverá sessão de autógrafos no lançamento de “Pedral Canal do Inferno” devido à pandemia. O livro está disponível para venda na Livraria Fox a partir desta sexta-feira, 30, com o preço promocional de R$ 50 até o próximo domingo, 1º de agosto. Depois, passará a custar R$ 70.

A história do contador de histórias

“Pedral Canal do Inferno” é a o 42º livro publicado por Salomão Larêdo ao longo de 56 anos de atividade literária. Cametaense de 72 anos de idade, o autor também é advogado, jornalista e mestre em teoria literária pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Larêdo iniciou as aventuras na Literatura por volta dos 12 anos com um livro manuscrito na escola. A primeira obra impressa foi o livro de poesia “Senhora das Águas”, que recebeu menção honrosa da Academia Paraense de Letras, em 1982. O primeiro romance veio dois anos depois, “Sibele Mendes de Amor e Luta”, seguido de tantos outros como os mais recentes “As Icamiabas- Lenda das Amazonas-  Paíz das Pedras Verdes- romance de mulheres guerreiras sem marido e seus muiraquitãs”, de 2017; e “Cabaré dos Bandidos- Guamares”, relançada em 2018.

“Pra mim é um prazer grande de falar das nossas coisas (do Pará). Tenho consciência do dom que Deus me deu para escrever e me empenho para aprimorá-lo com escrita e leitura diários. Agradeço por proporcionar isso (leitura) para as pessoas”, declara Larêdo. “Cresci ouvindo as histórias que meus familiares contavam. Dormia embalado pelas histórias orais. Eu pensava: ‘Um dia quero conhecer esta Amazônia’. Isso tudo me inspirou a escrever histórias”.

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