Roda de samba na Feira do Açaí valoriza patrimônio histórico e impulsiona economia local

Evento ocorre de forma independente na primeira sexta-feira de cada mês, a partir da articulação da Roda de Samba Fé no Batuque com ambulantes

Fernando Assunção

A primeira sexta-feira de cada mês já é marcada na agenda cultural de Belém como dia de roda de samba na Feira do Açaí. O evento promove uma verdadeira ocupação cultural do espaço, que faz parte do Complexo do Ver-O-Peso, um dos principais cartões postais da cidade, e já foi tema de documentário e projeto de lei municipal, que torna as rodas de samba na Feira do Açaí patrimônio imaterial de Belém. Mas, por trás da animação que agita o público com samba à la paraense, existe uma articulação entre artistas e ambulantes para fazer o evento acontecer de forma totalmente independente

VEJA MAIS

image Roda de Samba Fé no Batuque faz show solidário
Com as participaões especiais de Iara Mê, Diogo Rosa e Marta Mariana, o evento vai arrecadar alimentos para Itaiteua, em Outeiro.

image Outeiro encerra festividade de São Jorge com samba e feijoada
A festa começou dia 17 e encerra neste domingo (24) com distribuição de feijoada e show do grupo Fé no Batuque.

image Fé no Batuque celebra sete anos de samba com show na Feira do Açaí, nesta sexta-feira, 5

image O grupo Roda de Samba Fé no Batuque cuida de toda a produção musical e logística do Samba na Feira (Carmen Helena / O Liberal)

 

“A falta de apoio governamental para custeio da estrutura básica necessária para realizar a roda de samba, já nos fez pensar em desistir várias vezes, porque a gente não lucra e, na verdade, ainda tiramos do bolso para garantir que o evento ocorra mensalmente. O que nos motiva a continuar é ver, a cada edição, a alegria e satisfação de cada ser ali presente, soltando a voz, o corpo e o riso no samba. A felicidade que o samba proporciona é contagiante”, destaca Geraldo Nogueira, à frente da Roda de Samba Fé no Batuque, que cuida de toda a produção musical e logística do Samba na Feira.

De acordo com Geraldo, os custos com a realização mensal do evento giram em torno de R$ 3 mil. “Tudo é custeado por recursos próprios dos organizadores com ajuda de colaborações voluntárias em dinheiro do público e dos ambulantes. Dentre os custos para realização de cada edição, estão: sistema de sonorização e iluminação, ligação de energia elétrica, pagamento de cachês artísticos, tenda de cobertura, mesas e cadeiras, transporte, água mineral e demais logística. Já conseguimos parcerias pontuais de parlamentares em algumas edições, mas não temos nenhum tipo de apoio fixo”, completa.

image "O que nos motiva a continuar é ver, a cada edição, a alegria e satisfação de cada ser ali presente, soltando a voz, o corpo e o riso no samba", destaca Geraldo Nogueira (esq.) (Carmen Helena / O Liberal)

 

 

Segundo Jack Sainha, DJ, jornalista e organizadora do Samba na Feira, o evento nasceu em dezembro de 2019 com o objetivo de promover a democratização da arte, música e lazer, e a resistência do samba e da cultura popular negra. A valorização do patrimônio histórico da capital também é uma preocupação, que já foi pautada pela organização do evento em reuniões com o prefeito Edmilson Rodrigues. “Tradicionalmente, a Feira do Açaí sempre teve esse potencial cultural de resistência, vários artistas e movimentos já realizaram, e ainda realizam, ocupações culturais com diversas propostas, como o carimbó”, pontua.

“Sem dúvida, a intenção também sempre foi chamar atenção para um lugar tão importante e bonito como a feira, mas subutilizado e marginalizado. Tantas cidades dão exemplo de valorização de seus espaços históricos, e Belém ainda está aquém nesse quesito. Queremos ver a Feira do Açaí revitalizada, valorizada, respeitada, segura, limpa, iluminada, com programações culturais, sendo fonte de renda e acessível a todos. Este ano, levamos esse pedido em audiência pública com o prefeito Edmilson, e estamos aguardando um retorno real”, complementa Jack Sainha.

Samba na Feira tem correalização dos vendedores ambulantes

Outro aspecto do Samba na Feira é o incentivo à economia local, já que o evento leva o público a comprar nos bares e lanchonetes do próprio espaço. Além disso, em volta da Roda de Samba, vendedores ambulantes realizam a venda de bebidas e comidas. Esses vendedores, aliás, assumem papel de protagonismo na realização do samba, já que ajudam a custear as despesas com estrutura e artistas. “No total, nós somos onze ambulantes e tem mais um isopor com cerveja, que a mercadoria vendida é revestida para ajudar no pagamento dos músicos”, conta a ambulante Selma da Silva, que atua no local há dois anos.

image “O Samba na Feira é um projeto que traz um bom custo-benefício para a gente, já que o evento tem um público fiel. Não dá para ficar rico, mas dá para tirar um ‘dinheirinho’", diz a ambulante Selma da Silva (ao centro) (Carmen Helena / O Liberal)

 

 “O Samba na Feira é um projeto que traz um bom custo-benefício para a gente, já que o evento tem um público fiel. Não dá para ficar rico, mas dá para tirar um ‘dinheirinho’. O que nos move é a alegria, em primeiro lugar, para enfrentar as adversidades, que são muitas, já que não temos apoio. Por exemplo, a própria iluminação da rua que dá acesso à feira é uma questão que a gente mesmo tenta resolver, colocando refletores e arcando com os gastos de energia elétrica, tudo para dar mais segurança para o brincante. A gente se une e cada ambulante ajuda com R$ 55 para essas despesas”, explica a trabalhadora.

Edição ‘Samba das Águas’ é realizada hoje (4)

Nesta sexta-feira (4), a partir das 20h, mais uma edição do Samba na Feira é realizada. Com o tema “Samba das Águas”, a edição conta com os shows da Roda de Samba Fé no Batuque e da DJ Jack Sainha, e participações da Banda do Bloco e do Carimbó Selvagem. “A temática das águas foi escolhida porque entramos na época de maior incidência das chuvas na nossa cidade, com o recado de que, mesmo com chuva, teremos samba. Além disso, fevereiro foi o mês da orixá das águas, Iemanjá, e o nosso samba acontece à beira das águas da Baía do Guajará”, explica Jack. 

Geraldo Nogueira também comemora mais uma edição do Samba na Feira. “O samba é ancestralidade e está na base da formação cultural e identitária do povo brasileiro. No Pará, e em Belém, principalmente, a cultura do samba é muito presente, seja em rodas ou no samba enredo do Carnaval, pois a nossa formação populacional reúne grande parte do povo que deu origem e mantém as manifestações culturais populares. Nossa população é negra, sobremaneira, e o negro, em Belém, é a raiz da nossa identidade, história e cultura”, finaliza o músico.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA