‘Poemas visuais’ do artista plástico Germano mostram a arte da vida em plenitude
Algumas obras desse artista dono de um estilo vigoroso e com uma história de vida de incentivo a descobertas já podem ser conferidas na Galeria Rose Maiorana, em Belém

Em pinturas com um estilo peculiar e em fotos que revelam nuances que escapam a um olhar mais afobado do dia a dia, as imagens criadas e captadas pelo artista plástico Antônio Carlos Germano Santos, 80 anos, formam verdadeiros “poemas visuais”, capazes de provocar emoções variadas nos espectadores. Ele desenvolveu um estilo próprio pontuado por pequenos círculos que se aglutinam e também se alastram em telas e se misturam a cores fortes ou suaves para formar imagens abstratas e belas. Esse processo de criação artística se estende à fotografia, em que Germano revela ao público paisagens dentro de paisagens, a partir do aprofundamento do olhar para aspectos ‘banais’ do cotidiano, realçando formatos e contrastes naturais. Esses trabalhos em suportes diferenciados já podem ser conferidos na Galeria Rose Maiorana, no bairro do Marco, em Belém, como fruto da amizade entre esses dois artistas plásticos.
A relação de Germano com arte já é por si só um convite à reflexão. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de outubro de 1944, é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e hoje está aposentado. Quando bem jovem, Germano não pôde seguir o curso de Belas Artes por causa de problemas de família. Ele teve de ajudar no sustento da casa, e, então, foi trabalhar em um agência bancária como aprendiz de arquivista, no Rio de Janeiro. Precisamente, na Rua do Catete, perto do Palácio do Catete.
"Meu primeiro dia de trabalho foi em 7 de agosto de 1960. Essa agência de um banco chamado Banco da Bahia, que não existe mais, ficava no térreo de um prédio. No quinto andar deste prédio era a moradia e o ateliê do mestre Di Cavalcante (1897-1976), que era cliente do banco . Naquela época, nada era eletrônico, não havia compensação de cheques e quem recebia cheque de um banco no qual não tivesse conta tinha que sacar na caixa da agência do banco pessoalmente", conta Germano.
"O mestre Di, muitas vezes, jantava com amigos, clientes e modelos e pagava em cheque. Às vezes, quando iam receber os cheques a assinatura dele não conferia. Então, eu era indicado para subir até a casa dele e perguntar se ele realmente tinha dado aquele cheque e pedia para ele assinar novamente no verso. Isso aconteceu várias vezes e um dia perdi a vergonha e contei a ele minha história. Ele ouviu, me olhou e disse : 'Onde você almoça?'. Respondi: 'De marmita que minha mãe prepara e como no pequeno refeitório da agência'. 'Ele, então, me disse: 'A partir de amanhã, você vai comer sua marmita aqui em casa'. E isso durou quatro anos. Todos os dias, meu almoço era na casa do senhor Di, vendo ele misturar tintas, desenhar, pintar. Foi melhor que a faculdade. Isso foi de 1960 a 1965, no Rio de Janeiro , na rua do Catete", relata, saudoso, o artista plástico.
Germano seguiu a carreira no mercado financeiro. No entanto, o gosto pelas artes plásticas nunca o abandonou. Aos 72 anos de idade, Germano aproximou-se do mestre japonês Kasuo Wakabayshi, que faleceu em 2022, aos 94 anos.
"Vez por outra eu tomava chá na casa dele, e foi ele que me incentivou a pintar. Uma vez ele me disse: 'Você sabia que Katsushika Hokusai começou a pintar com mais de 70 anos? Por que você aos 73 não começa a pintar? Mas quando fizer, crie um DNA, que nada mais é do que fazer seus quadros serem reconhecidos por um simples olhar. Procurei esse DNA bastante, e um dia me encontrei nos círculos, nas bolinhas, círculos preenchidos ou não que tendem a fazer o espectador pensar", destaca Germano.
Ele conta que começou a pintar aos 74 anos, e sua primeira exposição se deu no Salão de Artes Plásticas " Engenheiro Júlio Capobianco", em Arceburgo, Minas Gerais, onde ganhou medalha de bronze em arte abstrata. Daí para frente, já expôs trabalhos em São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Belém e, no exterior, em Berlim, Paris, Barcelona, Dubai e Nova York, entre outros lugares.
"Meu DNA são círculos, pequenos, médios, grandes, vazios ou cheios de cor. Um trabalho abstrato feito com o intuito de fazer quem olha, pensar", ressalta Germano, que trabalha com pinturas feitas em acrílico sobre tela, no estilo abstracionista. Sobre seu processo criativo, esse artista plástico diz que "tudo vai surgindo na tela". "Pinto o fundo e depois dou asas à imaginação", detalha. Germano tem obras em diversas galerias em estados do Brasil e no exterior.
Acessos
Germano tem quatro quadros e lenços em seda inspirados nos trabalhos dele em exposição na Galeria Rose Maiorana, em Belém. Outra vertente criativa desse artista é fotografia, a partir do projeto "Nuances da Natureza", em que mostra cenas até então desconhecidas num primeiro, mas que revelam, em sua composição, uma riqueza de detalhes impressionante. A própria confecção das fotos sobre o meio ambiente (olhar, captura e edição) configura-se em uma atração a mais para os observadores.
Germano iniciou amizade e parceria artística com a artista plástica Rose Maiorana, vice-presidente do Grupo Liberal. "Rose é uma pessoa talentosa, educada, gentil, que adora e pratica uma arte cativante e bela. Seus trabalhos são lindos, com personalidade e beleza. Ela é, além de uma grande pintora, uma empresária de sucesso. Um orgulho para Belém e para o Brasil", salienta. Em solo amazônico de várzea, essa amizade começa a dar seus primeiros frutos.
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