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'O que a gente quer é ser humanizada': Urias sobre vivência transgênero

Vivendo o sucesso de seu primeiro álbum, 'Fúria', artista falou em entrevista sobre a carreira, referências e representatividade

Lucas Costa

A cantora Urias, que vive atualmente o sucesso de seu primeiro álbum, “Fúria”, foi a convidada da edição do “Qual o Teu Papo” de quinta-feira, 31, no Instagram de Oliberal.com. Ela, atualmente em turnê pelo Brasil, se preparando também para apresentações na Europa, falou sobre a carreira, o sucesso do disco, e também temas como representatividade no Dia Internacional da Visibilidade Trans.

“No álbum eu falo sobre raiva, na verdade, e todas as coisas que me rebateram através de tudo isso”, diz Urias, sobre o disco “Fúria”, também descrito como um “produto musical que conecta áudio, vídeo e desejos pessoais”.

“Fúria” está ambientado em atmosfera noir, e transita por gêneros musicais como R&B e rap. Mesmo sendo o primeiro álbum da carreira, esta não é a estreia de Urias na música. Ela entrou na indústria fazendo covers, como “Meu Mundo É o Barro”, d’O Rappa; e “Você Me Vira a Cabeça”, de Alcione. A artista conta que na época guardou muito dinheiro para investir nas gravações, e escolheu começar com os covers pois ainda não sabia como funcionava a produção de uma música autoral do zero.

Assista a íntegra:


“Começou a dar muito certo, muita gente me conheceu com esses covers antes de lançar minhas músicas”, celebra ela, lembrando que não descartava a possibilidade de também seguir por outro caminho. “Eu estava doida para fazer, então pensei ‘não posso deixar de fazer’. Se der ruim eu apago depois”, conta.

E tudo vem dando bastante certo mesmo. Com um mês de lançamento, “Fúria” atingiu a marca de 12 milhões de streams. O projeto, que traz canções como “Tanto Faz”, “Peligrosa” e “Foi Mal”, foi muito bem recebido pelo público e crítica. Logo após o seu lançamento, por exemplo, o álbum atingiu o primeiro lugar dos mais vendidos do iTunes BR na parada de álbuns e teve dois singles dentro do top 15. “Tanto Faz” alcançou a segunda colocação; e “Foi Mal”, o décimo primeiro lugar na parada de singles, respectivamente.


Urias, que chegou a ser chamada de “fiel escudeira” de Pabllo Vittar, é um dos nomes que compõem uma potente cena de artistas queer do Brasil. Ela relembra que uma de suas grandes referências é Mel Gonçalves, que foi vocalista da Banda Uó - sucesso do início dos anos 2010.

“Eu morei com ela [Mel] durante quase dois anos, na casinha dela, e to morrendo de saudade dela, mais minhas outras amigas, como a Linn [da Quebrada], Liniker, a Pabllo nem se fala - apesar de ela fazer parte de outra comunidade, a drag, todo mundo que acompanha ela e me acompanha, sabe que ela abriu muito caminho para mim, para tudo começar a rodar de outro jeito”, conta Urias.

Um destes momentos ao lado de Pabllo Vittar, inclusive, ocorreu no último final de semana durante o Lollapalooza Brasil. Urias entrou como convidada no show de Pabllo no festival, e a reação do público foi avassaladora. Um vídeo do momento da entrada da artista chegou a viralizar.

“Eu não entendi nada, nadinha”, diz Urias sobre o momento, ainda surpresa. “Eu iria entrar no show de outra pessoa, ok. Mas quando vi o povo gritando, pensei: ‘nossa, que loucura’. É muito incrível poder pensar na possibilidade de alcançar tudo aquilo de gente. Nunca achei que ia alcançar essa galera inteira”, celebra. Assista:


O que falta na visibilidade transgênero

No Dia Internacional da Visibilidade Transgênero, Urias também fala sobre a vontade de ver mudanças de fato acontecendo, em vez da necessidade de repetir sempre o discurso de necessidade de representatividade. “Acho que o que a gente mais quer, sendo bem sincera, é poder ser normalizada, ser humanizada. Às vezes colocam a gente nesse lugar de ser uma pessoa trans, e a gente não é só isso. Somos isso também, com orgulho, mas vai chegar um dia, espero, que a gente não precise discutir gênero, que eu não precise dar uma aula de biologia toda vez que eu precisar falar até mesmo do meu trabalho”, defende Urias.

Urias também não esconde a vontade de vir a Belém para um show, mas por enquanto diz que não tem nada marcado. “Quero muito ir. Igual falei da outra vez, se dependesse de mim eu iria para todos os lugares[...]. Todo mundo fala que os shows de Belém não tem comparação, a galera quebra tudo e quero muito ir, me chamem para Belém”, pede.

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