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No dia do Orgulho Nerd, conheça o grupo paraense Black Geek White

Projeto torna a cultura pop acessível à jovens da periferia

Lucas Costa
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Se antes ser nerd era um sinônimo de bullying e introspecção, os próprios nerds fizeram questão de revolucionar a palavra em meio a uma explosão da cultura pop pelo mundo. O escritor Douglas Adams, falecido em 2001, tem seu legado nessa popularização.

“O Guia Mochileiro das Galáxias”, saga de ficção científica escrita por ele, movimentou uma série de jovens dos anos 90 e 2000, e é em referência a ela que o mundo celebra o Dia do Orgulho Nerd nesta terça-feira, 25.

A saga conta as aventuras do inglês Arthur Dent, que tem sua casa destruída por máquinas já no começo da história. Seu amigo, Ford Prefect, revela ser um alienígena disfarçado e o informa que o planeta Terra será destruído para a construção de uma via espacial.

Juntos, eles fogem e iniciam suas aventuras pela galáxia, onde encontram diversos outros personagens marcantes, como o robô depressivo Marvin, a humana Tricia McMillan e o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox.

A homenagem a Douglas Adams ocorre em todo dia 25 de maio, ou dia da toalha, que segundo o autor é o objeto essencial para dar apoio psicológico, se esquentar, ajudar em uma luta, proteger contra substâncias tóxicas e claro, se enxugar. Além disso, outro ponto marcante na data é o dia da estreia do primeiro filme da saga “Star Wars”.

O Dia do Orgulho Nerd pode representar o momento de celebrar as grandes produções dos HQs, ou filmes e séries de ficção científica populares pelo mundo todo. Mas a conexão de comunidades por meio da paixão por esse universo também é motivo para celebrar a data.

Em Belém, um projeto chamado Black Geek White conecta jovens de periferia pelo amor à cultura nerd, mas as ações vão muito além de fazer cosplay ou compartilhar histórias.

O movimento nasceu em 2017, motivado pelo interesse em ajudar jovens da periferia a ingressar em espaços de cultura pop da cidade. Letícia Moraes, uma das coordenadoras do Black Geek White, explica de onde partiu a inquietação para criar o projeto.

“O que acontece é que ainda há muitos eventos grandes como Anime Geek, Animazom. Mas por serem eventos pagos, essa juventude da periferia não tinha condições financeiras de adentrar e ter acesso a esses eventos, porque eram bem caros”, explica.

“A gente começou trabalhando a questão contra o racismo, porque também nesse mundo há muito preconceito. Os meninos da periferia, negros, não tinham muita condição de adentrar esses espaços, e dessa forma acabavam se sentindo excluídos, mesmo sendo muito nerds e gostando muito de cultura pop”.

A história do Black Geek White, ou BGW, começa por Letícia. Hoje aos 43 anos, ela relembra que também foi uma jovem sem acesso a espaços de cultura pop, mesmo sendo uma grande apaixonada. A afeição veio primeiro pela Mulher Maravilha, na falta de uma heroína negra.

“Muitos desses jovens eram conhecidos meus, e conversavam muito comigo porque também moro na periferia. Eles disseram: vamos fazer um movimento, somos jovens e também nerds, vamos fazer uma coisa para nós. Então começamos a trabalhar no movimento e começou a se inserir na cultura pop”, conta.

O próximo passo foi criar um grande evento de cultura nerd, desta vez totalmente gratuito, para que nenhum jovem deixasse de demonstrar seu amor pela cultura nerd por falta de recursos. Letícia contou com a ajuda do amigo Kennedy Kleberson para criar o Comic Pará Fest, que teve uma edição no Centur (FCP).

“Tivemos essa ideia de abrir e fazer inteiramente grátis para toda a população, para todo mundo. Fizemos o evento e conseguimos juntar amigos da cultura pop, e começamos a criar. Depois vieram outros eventos, e assim começamos a dar voz a essa juventude, e fazer com que eles adentrassem esses espaços”, relembra Letícia.

O Black Geek White nasceu no bairro do Aurá, em Ananindeua, mas atualmente tem integrantes em praticamente todos os bairros da periferia da cidade. O projeto também atua em diferentes frentes, como as de dança e TV. As audições para o grupo de dança, inclusive, são feitas sempre na Praça da Bíblia, em Ananindeua. “Tudo o que a gente faz é na periferia”, destaca Letícia.

Além das frentes, a BGW ainda procura ser uma influência positiva para os jovens da periferia no sentido de estímulo aos estudos, por exemplo. Letícia conta o caso de um dos jovens do projeto que demonstrava interesse por programação, e começou a  fazer no próprio celular. Atualmente ele trabalha como programador em uma empresa.

Recentemente o projeto também fez parceria com uma universidade particular de Belém, conseguindo um desconto de 60% para os jovens do BGW. “Aprovamos 15 jovens entre várias áreas: administração, educação física, biomedicina. Isso para nós faz toda a diferença, é o legado do projeto, de a gente fazer o bem. Ao mesmo tempo vendo eles se divertirem para que tenham uma juventude sadia”, conta Letícia, orgulhosa.

Rerisson Souza, 18, é um dos jovens integrantes do BGW. Ele descreve a participação no projeto como algo de outro universo. “É totalmente diferente. Para nós que somos de uma comunidade humilde, infelizmente não tivemos o privilégio de nascer num berço de ouro, então tivemos essa oportunidade com o BGW, de poder desenvolver um pouco mais das nossas habilidades, da dança, do falar bem, da dicção. E aqui no BGW a gente concluiu com tudo isso que somos uma família mesmo, e aqui a gente pode contar com todo mundo, não só para dançar, não só para estarem uma apresentação; mas para ajudar um ao outro, porque aqui todo mundo tem problema e estamos aqui para acrescentar a ajudar na vida de todo mundo”, diz.

Natália Carvalho, 23, também integra o grupo, e destaca a importância não apenas para os mais jovens, mas para uma comunidade em geral. “O projeto tem acrescentado muito, tem dado visibilidade aos jovens de periferia que não têm tanta oportunidade quanto os jovens de classe média e classe média-alta. Nos é ofertado cursos profissionalizantes, oportunidades de emprego, acesso a diversas áreas como a parte médica, odontológica, assim por diante. O projeto só tem acrescentado na minha vida, como de cada um que está aqui. Cada um tem sua importância dentro do BGW”, destaca.

O BGW não para, e uma novidade para ainda este ano é que os nerds já podem aguardar uma segunda edição da Comic Pará Fest. Todas as ações do projeto podem ser acompanhadas na página oficial do Facebook.

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