Marchinhas de Carnaval continuam vivas em repertório de artistas paraenses
Veloso Dias compõe todos os anos marchinhas para um bloco de rua
Veloso Dias compõe todos os anos marchinhas para um bloco de rua
Todos os anos o compositor paraense Veloso Dias (71), conhecido pelo sucesso “Ex Mai Love”, sucesso na voz de Gaby Amarantos, escreve uma marchinha inédita para o bloco “Os Irrecuperáveis”. Com o retorno do Carnaval, após os dois anos de pandemia de covid-19, novas marchinhas misturam o tom cômico com o ritmo carnavalesco em uma alegria para puxar os foliões pelas ruas.
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Há 20 anos, Veloso fundou o bloco “Os Irrecuperáveis” e há 18 compõe as marchinhas para o grupo. Ele já chegou a gravar um álbum com 12 músicas carnavalescas. “A satisfação da gente é essa. É ver o povo cantar a marchinha e cantar nas ruas. Consagração como compositor não tem melhor que essa”, disse. “Eu faço para dar satisfação do meu trabalho para o povo. Não busco negócio de sucesso”, complementou.
As marchinhas surgiram com a pianista e vanguardista Chiquinha Gonzaga com “Ô Abre Alas!” e até hoje são compostas para expor a vida um aspecto da vida do povo. Veloso Dias tem marchinhas com todo o tipo de temática. “O carnaval é mistura da alegria com humor. Tenho marchinhas para aprovação no vestibular que eu fiz, não posso dizer que era para substituir a do Pinduca, mas para competir”, revela.
Sobre o processo criativo, ele explica que escolhe uma temática e começa a escrever. A composição pode vir na hora, ou um mês. “Ela vem na hora ou depois de um tempo. Tem música que surge em um dia ou em duas horas, e outra que passo compondo por um mês. Eu pego, depois rasgo. Quando vem a ideia da temática faço em um dia e depois fico dando uma burilada nela geralmente em uma semana. Essa nova do bloco, eu fiz em um com a participação nos arranjos do Adalberto Peruano, que ainda colocou duas frases na música”, conta.
A ironia com assuntos polêmicos é uma forma de compor marchinhas. O cantor e compositor Elói Iglesias, um dos organizadores de um antigo concurso de marchinhas do Pará, escreveu uma marchinha que teve como inspiração a prisão de bolsonaristas que invadiram os três poderes em Brasília na tentativa de um golpe militar. Ele ainda não gravou a composição por falta de apoio financeiro.
“A música é ‘Meninos vão pra Papuda e meninas vão pra Colmeia’. Fiz essa música, mas acabei não gravando, porque tudo é custo. A gente já não tinha lucro [com o Carnaval da Cidade Velha] porque não vendíamos abadá no nosso Carnaval. A gente não conseguiu apoio para gravar”, conta.
Uma marchinha que o público poderá ouvir neste Carnaval é “Vou Lavar a égua” de Alfredo Guimarães Garcia e Márcio Montoril. Os dois começaram a trabalhar durante a pandemia de covid-19 e já produziram 50 músicas. “A criação dessa marchinha assim como a criação das outras músicas que eu faço com o Marcio Montoril é feita com cada um no seu espaço físico de trabalho. Normalmente um dos dois provoca com um tema. Dessa vez fui eu quem provoquei com a letra e lembrei do apelo do Carnaval. E perguntei que tal a gente gravar uma marchinha carnavalesca para retomar a questão das tradições de gravar essas músicas”, declarou.
Alfredo, que é escritor e jornalista, explica que a música foi feita de forma rápida. Todos os carnavais ele escreve duas marchinhas, mas ainda não havia gravado nenhuma. “A marchinha carnavalesca ‘Vou lavar Égua’ é uma dessas criações do quarto ano, de sambas marchinhas, forró e bolero. Nesse período pelo menos duas com outros parceiros, mas nenhuma havia tido esse processo de gravação industrial como essa que chega até o público”, explica.
“Vou lavar a égua” foi gravada, mixada e masterizada no T F Estúdio, na cidade de Lajedo, na Bahia, tendo como intérprete o cantor baiano Taysinho, responsável pelos arranjos. A música “Vou lavar a égua” estará disponível nas plataformas digitais a partir da próxima terça-feira, dia 07.