Lucélia Santos chega à COP 30 com espetáculo em homenagem a Chico Mendes

Com forte atuação em pautas socioambientais, atriz apresenta debates sobre direitos, memória e resistência, enquanto revive a luta de sindicalista no teatro

Bruna Dias Merabet
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Com mais de 50 anos de carreira e dezenas de personagens marcantes, Lucélia Santos segue sendo referência. A atriz chegou a Belém, a capital do Pará, com uma agenda extensa para esta COP30, que inclui painéis de debates e atuação em uma peça, ambos com ligação a Chico Mendes.

O espetáculo “Vozes da Floresta – Chico Mendes Vive” é mais que uma peça: transforma antigos registros de Chico Mendes em teatro, poesia e denúncia. Será exibido nos dias 15 e 16, no Teatro Margarida Schivasappa, às 20h e 19h, respectivamente.

image Lucélia Santos e Chico Mendes (Divulgação)

Lucélia traz à cena as mulheres que foram parte essencial da luta pela preservação da floresta, relatando a trajetória de Chico Mendes. Além disso, ela esteve em uma roda de conversa com o mesmo nome.

“Eu já tinha bastante vontade de participar de uma COP, na última até pensei em me deslocar, mas a decisão ficou muito para o final. Como esta é no Brasil, não tinha como não participar. Desde que ficou decidido que a COP seria no Norte, em Belém, eu quis trazer para cá meu espetáculo, que tem como protagonista o Chico Mendes”, pontua.

A atriz une sua trajetória artística à sua militância política. Com forte engajamento em pautas sociais, ambientais e culturais, ela está à frente de demandas que debatem os direitos dos povos indígenas, a reforma agrária e questões climáticas.

“Eu sempre tive uma atividade muito no plano social e acabou se casando com a questão ambiental lá nos anos 80, especialmente com a Fundação PV, da qual eu faço parte do grupo que fundou o Partido Verde, inclusive foi lá na minha casa. Depois, foi ficando muito pendente para a questão ambiental. A minha militância, que era social, ficou mais socioambiental. Nunca foi fácil porque há uma imensa rejeição a quem assume um papel do lado do povo, dos mais fracos e mais oprimidos. Se você observar bem, toda a questão ambiental envolve as classes sociais mais desprovidas; as que mais sofrem com a questão climática são as que menos destroem, possivelmente as que menos consomem, mas são as que mais pagam a conta”, explica.

“Vozes da Floresta – Chico Mendes Vive” foi criada por Lucélia Santos durante a pandemia, a partir do gesto de transformar antigos registros de Chico Mendes. Inclusive, a atriz conviveu com o seringueiro e sindicalista. Eles estiveram juntos em Xapuri, no Acre, há cerca de 40 anos. Na ocasião, ela gravou depoimentos e conversas com ele. Esses documentos se tornaram a base para o seu trabalho de preservação da memória de Chico Mendes.

“Os personagens que eu tenho feito na peça são bem essa junção do meu trabalho social, da minha militância e do meu ativismo ao longo dos anos e da minha carreira. Nunca fiz algo que me representasse tanto ou fosse tão próximo a mim como essa peça. Já estou fazendo isso desde 2022 e agora eu tenho que ter um plano para parar com essa produção e fazer um projeto de continuidade, para ver quais serão meus próximos passos. Estou nessa fase”, explica a artista.

image Chico Mendes e Lucélia Santos em 01 de maio de 1988 (Homero Sérgio)

Lucélia protagonizou muitas novelas que viraram clássicos da teledramaturgia mundial. No cinema, tornou-se musa do escritor Nelson Rodrigues e ganhou o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Gramado por sua atuação em Luz Del Fuego. Na China, recebeu o mais importante prêmio de sua carreira, o Troféu Águia de Ouro, com mais de 300 milhões de votos.

Usando a arte como holofote, Lucélia se destaca também como personalidade de influência internacional na luta em defesa das questões sociais e ambientais.

“Acho que o meio artístico tem bastante espaço para o debate sobre as questões climáticas e ambientais. Não sei se as pessoas usam esses espaços abundantemente como poderiam. Porque essas questões esbarram em interesses do capital amplo, claro e evidente. Não é todo artista que está disposto a se expor nesse nível, às vezes até podendo ter problemas pessoais ou conflitos de interesse por causa da questão ideológica ambiental”, diz.

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Lucélia seguiu exatamente esse pensamento: desde seus primeiros passos como atriz, já usou sua visibilidade como forma de ativismo.
“O papel do artista é grande, porque o artista tem voz e acaba influenciando as pessoas, às vezes até ensinando, porque tem gente que nunca se sensibilizou para as questões ambientais e climáticas, ou sobre esse tipo de educação ecológica. O artista tem um papel que ele pode desempenhar nesse processo de comunicação com a sociedade. Acho que é até pouco explorado; poderia ser muito mais potencializado esse papel de comunicação entre a arte, o artista e a sociedade”, opina.

Longe da TV Globo desde 2001, quando interpretou a médica Jackeline em Malhação, participou, em 2014, do quadro “Dança dos Famosos”, no programa Domingão do Faustão, dançando com o coreógrafo Renato Zóia.

Seu último projeto na dramaturgia foi em Portugal, quando integrou o elenco da novela Na Corda Bamba, da TVI, em 2019, ao lado de Edwin Luisi, com quem também formou par romântico em Escrava Isaura, maior sucesso internacional da Globo.

“Quando você me pergunta sobre legado, eu ando muito desanimada. O que eu vejo é uma confusão tão grande… Acho que as mídias sociais corroboram muito para que as pessoas sejam confundidas. Acho que existe uma imensa manipulação sobre tudo. Isso começou lá atrás, com essa difusão excessiva de fake news, que não deixa as pessoas chegarem perto da verdade ou se apropriarem da realidade.

Então, não tem como pensar em legado se você pensa que todo e qualquer tipo de ação ou de emissão de ideias é cortado, transformado e utilizado. Hoje não há mais liberdade, eu sinto isso, é uma falsa liberdade. Não existe a tranquilidade de que a informação vai chegar correta lá na outra ponta”, finaliza Lucélia.

 

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