Gaby Amarantos e o Rock Doido que somos: o maior ato pop do tecnobrega paraense

Leia o texto especial do jornalista e ator Leandro Ferreira, analisando "Rock Doido", de Gaby Amarantos.

Leandro Ferreira (especial para O Liberal)
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Com amor, à Gaby e ao Rock Doido que somos.

Quando Gaby Amarantos divulgou a capa do seu mais recente álbum, Rock Doido, inspirado em uma das capas mais icônicas de todos os tempos, o aclamado Dangerous, de Michael Jackson, eu imaginei que dali sairia algo gigante, mas não estava preparado para o que ouviria, veria e, sobretudo, sentiria: o nascimento do maior ato pop do tecnobrega paraense.

Pode ser muito cedo para o definir assim, mas a ousadia de toda a produção não me deixa escolha: Rock Doido é um desbunde sonoro, visual e estético. Bebendo, ou melhor, virando a garrafa das melhores referências, memes e clássicos da cultura popular paraense, o álbum é, após o sucesso laureado do resgate do TecnoShow, um manifesto de amor pelos fundamentos da arte de Gaby.

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Para falar sobre como Gabriela Amaral dos Santos chega aqui, é preciso lembrar rapidamente da sua carreira. Como vocalista do Tecnoshow, fez parte de um dos primeiros movimentos de saída do tecnobrega da marginalidade e a sua justíssima elevação a patrimônio cultural do estado. A voz potente logo ganhou destaque e eu lembro claramente quando cantou com a Orquestra Imperial e finalmente houve a constatação de que Gaby era uma artista para além do nicho.

Várias foram as tentativas ao longo dos anos de estabelecer o gênero no Brasil e uma delas vem com o próprio Treme, de 2012, álbum de enorme sucesso impulsionado principalmente pelo hit Ex Mai Love, tema de abertura da novela Cheias de Charme. O álbum, entre outras faixas, conta com (Ela tá) Beba Doida, Gemendo e Faz o T, clássicos do tecnobrega, mas que contam com uma limpeza sonora que de certa forma os afasta do caminho que naturalmente o gênero toma dentro do Pará, o tornando cada vez mais único.

Com Purakê, de 2021, entre outros lançamentos anteriores, Gaby tenta emplacar Arreda, faixa com participação de Viviane Batidão e Leona Vingativa, em um álbum que passeia por diversas sonoridades. Destaco esta faixa porque eu tenho a sensação de que há um pedido de licença nele para ser. É, por essência, um tecnobrega, mas não emociona como tal.

Entendendo isso, chegamos ao renascimento de TecnoShow (2022). Com produção magistral de Félix Robatto, merecidamente ganhador de um Grammy Latino, o álbum traz Gaby não somente para perto, mas para dentro de Belém, do atual contexto da periferia da cidade, a sonoridade que se renova, as aparelhagens que abrigam um novo contexto. É uma mistura da nostalgia dos anos 2000 com o frescor dos novos caminhos do tecnobrega. Gaby entendeu o futuro ancestral.

Rock Doido mergulha no que há de mais atual na cena paraense e escancara, para quem quiser sentir, o melhor a cena pode oferecer. Seguindo uma noite inteira, sem respiros ao ouvinte, nem nos interlúdios. O formato non-stop deixa a sequência o puro suco do caos que é se permitir estar no rock. É sujo, é dançante e – como uma boa marcante – emociona.

Como numa boa aparelhagem, são muitos os ritmos que se complementam nessa grande noite quente. Nada parece estar encaixado aleatoriamente, nem as participações, letras ou nuances. Até Lauana Prado parece funcionar perfeitamente nessa noite.

Há uma gana feroz para mais um Grammy, e há todas as condições para tal feito, mas o que torna Rock Doido tão grandioso e verdadeiro é a sua visualidade. Filmado com celular, em um plano sequência de tirar o fôlego de pouco mais de vinte minutos, a obra não é perfeita e por isso é tão autêntica, tão nossa. Cada cenário conversa de maneira brilhante com o avançar da noite de rock doido, cada trecho com sua narrativa.

Gaby brilha incessantemente, mas não sozinha. As participações especiais masculinas estão lá, mas o destaque, assim como no álbum, são as damas da noite. Keila e Suanny Batidão, nomes consolidados da cena do tecnobrega no Pará acompanham Gaby como suas amigas, Viviane Batidão e Lauana Prado são estrelas nos bares da Condor e Isabella Pamplona, atual Miss Beleza T Brasil serve uma beleza viciante. Scarlety Queen serve drama e, como se não fosse suficiente, ela nos presenteia com a beleza de quadrilheiras e quadrilheiros para acompanhar a versão de Crina Negra, clássico dos clássicos da quadra junina paraense.

A direção de tudo isso são das mentes talentosíssimas do Altar Sonoro, que já assinaram também os maravilhosos clipes de "Sou do Norte", de Zaynara; "Profano", de Jaloo "Mulher da Amazônia", com a própria Gaby e Zaynara. Guilherme Takshy e Naré, saibam, o nome de vocês já está na história do audiovisual paraense.

Por fim, Rock Doido é sobre não ficar parado. Se ele não te tira para dançar, tira do conforto de pensar o lugar que o tecnobrega ocupa hoje. Nos reanima, tira um sorriso do rosto e até algumas lágrimas de saudade. Pará é Rock Doido. E Gaby, nunca mais arrede, tu és tecnobrega.

Leandro Ferreira (@oleandrole) é jornalista, ator e servidor público radicado em São Paulo. Apaixonado por cultura popular, vive com saudade de casa.

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