Filme ‘Malês’, de Antônio Pitanga, mostra a luta contra a invisibilidade do negro no Brasil

Película tem pré-estreia em Belém nesta terça (16), no Cine Líbero Luxardo, no Centur, às 19h30, com a presença do ator e diretor do filme, Antônio Pitanga

Eduardo Rocha
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Em janeiro de 1835, em Salvador (BA), um grupo de negros organizou a Revolta dos Malês, o maior movimento com foco na liberdade de cidadãos escravizados no Brasil, com destaque para a liberdade religiosa. Essa mobilização acabou sendo sufocada, mas legou a semente de que cabe ao próprio lutar por seus direitos, posicionar-se contra injustiças e violências. Esse legado dos malês (termo tem origem no iorubá ìmàle, que significa "muçulmano") nunca saiu da cabeça do ator e diretor Antônio Pitanga, 86 anos. E, agora, ele concretizou o desejo de colocar toda essa história em filme. Surge, então, o filme “Malês" que tem pré-estreia em Belém nesta terça-feira (16), no Cine Líbero Luxardo, com sessão às 19h30, com direito à presença do ator e diretor do filme, Antônio Pitanga. Em 2 de outubro, o trabalho será exibido em circuito normal.

Antônio Pitanga também participa, pela manhã, de uma exibição especial (às 9h) seguida de debate, realizada em parceria com Universidade Federal do Pará, União Nacional dos Estudantes, (UNE), Movimento Educação Popular Emancipa e Casa Ninja Belém. Para esta sessão, a entrada será gratuita mediante retirada de ingresso na bilheteria do cinema.

A partir do movimento dos malês e de toda a luta do povo negro no Brasil, Antônio Pitanga questiona a invisilibidade de negros e negras nos centros decisórios da governança brasileira, ainda que sejam maioria na população, como destaca em entrevista ao Grupo Liberal. Pitanga tem 66 anos de carreira artística, iniciada aos 19 anos,  ao atuar no filme “Bahia de Todos os Santos”, de Trigueirinho Neto (de onde vem o nome “Pitanga”). 

Aos 86 anos de idade, Pitanga mantém o o entusiasmo de sempre quando o assunto é arte, porque, como diz, cinema e teatro serem atividades coletivas e envolverem áreas e diversas. A formação dele nos anos 1960, quando surgiu o Cinema Novo, abrangia o entendimento do que levava ao resultado final de um filme. 

image Antônio Pitanga em 'Malês', filme que ele também dirige e aborda a trajetória dos cidadãos negros em solo brasileiro (Foto: Vantoen PJR)

Atentos

Então, fazer “Malês” tem tudo a ver com Pitanga, por tratar de uma área pela qual é apaixonado, até pelo fato de ser negro. “‘Malês’ sempre esteve na minha formação, desde jovem, já que o nosso povo, povo negro, tinha conhecimento do que acontecia na Bahia, primeira capital do Brasil, pela oralidade. Sem as facilidades que se tem hoje em dia, as histórias surgiam muito do avô, o bisavô, alguém vizinho contar. Essa e tantas outras histórias que aconteceram na Bahia o Brasil não conhece. Eu falo sempre que a Bahia é o maior griô de histórias deste país, já que foi a primeira capital do Brasil”.

Pitanga sempre se interessou pela rebelião dos malês e de outras no Brasil, como é o caso  do Alfaiate, dos Búzios  e 2 de Julho ou Independência da Bahia. Como frisa Pitanga: “A Independência da Bahia é a Independência do Brasil e que acontece em 1823 e não em 1822. Em 1822, a Independência é o que a gente conhece, lá no Ipiranga, feita por dom Pedro. Mas a Independência do Brasil, para nós, baianos, acontece quando são expulsos os últimos portugueses do Brasil em 2 de julho de 1823”. 

Fazer “Malês” (além de dirigir, Pitanga interpreta Pacífico Licutan, um dos líderes do levante), significa buscar mostrar a cultura genuinamente brasileira, nos moldes de filmes de outros diretores brasileiros com os quais Antônio Pitanga conviveu, como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Júnior, Leon Hirszman e outros. Em “Malês” atuam dois filhos do diretor: Rocco e Camila Pitanga.

Levar o filme ao público sobre o movimento negro de 1835 é, no entendimento de Pitanga, fazer uma parceria com a juventude, com as universidades, quilombos, com a África,  a fim de mostrar a luta contra a discriminação, a invisibilidade, “de tirar de baixo do tapete a história”. Até porque como pontua Pitanga, “a escravidão foi uma tragédia”, e os cidadãos negros são penalizados no Brasil com preconceito, invisibilidade, preconceito contra mulheres negras, feminicídio, estupros. 

“O Brasil tem um papel muito triste nesta história, e no Século 21 ainda sofremos esse tipo de preconceito, de invisibilidade. O que vivemos hoje ainda tem resquícios do passado, ainda não nos libertamos, ainda vivemos o ‘mito da democracia racial’, ainda não conquistamos uma democracia real”, enfatiza Antônio Pitanga. Por isso, os cidadãos negros devem permanecer vigilantes diante da realidade em que o povo negro tem poucos ou quase não tem representantes nas esferas centrais de poder do Brasil. Daí, como ressalta o diretor, a importância do voto consciente.

Serviço:
"Malês”
terá estreia nacional em 2 de outubro.
Cine Líbero Luxardo, no prédio do Centur, na avenida Gentil Bittencourt, 650, em Nazaré.  
Dia: 16 de setembro
Sessão especial para estudantes às 9h, seguida de debate
Sessão pré-estreia: 19h30
Ingressos: 12 reais
A bilheteria abre uma hora antes das sessões

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