CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Filhos do centro-oeste dividindo a arte com a Amazônia

Nesta edição da série “Selecionados Arte Pará- 40 anos”, o leitor vai ter a oportunidade de saber um pouco mais do que vai encontrar a partir do dia 22 de setembro

Bruna Lima
fonte

Oriundos da região centro-oeste do país, os artistas Hal Wildson, de Goiás, e João Angelini, do Distrito Federal, estão entre os selecionados da Mostra Nacional do Arte Pará 2022. Os artistas carregam em seu repertório questões em comum, como meio ambiente e exploração do homem e da natureza. Nesta edição da série “Selecionados Arte Pará- 40 anos”, o leitor vai ter a oportunidade de saber um pouco mais do que vai encontrar a partir do dia 22 de setembro, quando a exposição será aberta ao público, no Museu de Arte Sacra e na Casa das Onze Janelas, no bairro da Cidade Velha.

VEJA MAIS

image Série “Selecionados Arte Pará - 40 anos” apresenta artistas da edição
A série começa com a apresentação dos artistas da categoria Mostra Nacional

image Galeria virtual exibe murais do projeto Arte em Cores
Grafite, pintura e colagem são algumas das técnicas usadas pelos artistas que coloriram 15 cidades do Pará e do Maranhão.

O Projeto Arte Pará 2022 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Centro Universitário Fibra e do grupo Equatorial Energia e com apoio institucional do grupo O Liberal e dos Institutos Inclusartiz e Pivô Arte e Pesquisa. O Arte Pará é uma realização da Fundação Romulo Maiorana.

 Hal Wildson, Goiás, 1991

 A trajetória do artista na arte tem completa relação com o lugar onde nasceu e cresceu, a região do vale do Araguaia, divisa de Mato Grosso e Goiás, lugar moldado, inicialmente, pela violência do garimpo e, hoje, pela influência do agronegócio.  “Esse é um ponto de partida importante para entender o meu trabalho. As vivências nesse lugar determinam de certo modo o meu olhar na arte, as violências enfrentadas e o abandono do estado em um contexto familiar precário, que me levaram a desde sempre buscar uma alternativa de sobrevivência em meio a tantas histórias e tragédias que circundam a minha criação no sertão do centro oeste”, destaca.

 Obra em destaque

O artista goiano inscreveu três trabalhos e teve os três selecionados. O estandarte “Teko Porã e Ubuntu”, feito de bordado sobre cetim, foi inspirado em um cartaz do acervo do Arquivo Nacional do Brasil, de 1888, produzido por uma fábrica de tecidos em que mostra um cidadão branco e um cidadão negro se cumprimentando com uma flâmula da Bandeira do Império do Brasil, comemorando o fim da escravidão do Brasil. “A mensagem mitológica do cartaz, que ilustra uma falsa democracia racial, é utilizada até hoje para colocar para debaixo do tapete o problema do racismo estrutural no Brasil. Assim, eu recrio o estandarte do cartaz propondo uma reflexão sobre a bandeira nacional, e em alternativa ao slogan “Ordem e Progresso” trago como pilares as filosofias Teko Porã e Ubuntu, destacando as matrizes indígenas e africanas”, detalha o artista sobre a obra.

O segundo trabalho se trata da Bandeira Monumento à Independência III, parte da série “Monumento à independência” composta por cinco bandeiras bordadas em cetim. “A série recria projetos de bandeiras nacionais que já existiam desde o episódio da independência do Brasil, reatualizando símbolos e buscando sintetizar os projetos de ‘Brasis’ em andamento desde a sua independência e destacando os problemas que ainda enfrentamos”, pontua.      

image
E o vídeo ‘Re-florestar nossa gente” traz a bandeira Re-Utopya elaborada em cetim. “Ela foi hasteada no tronco de uma árvore, no Parque da Independência, nas margens do córrego do Ipiranga, na cidade de São Paulo, local onde simbolicamente foi proclamada a independência, dessa ação resultou o vídeo ‘Reflorestar nossa gente”. Enquanto a bandeira “Re-Utopya” flâmula para a direita e para a esquerda ouvimos mensagens de whatsapp que troquei com amigos ao conversarmos sobre futuro, em momentos de crise se torna urgente a necessidade de sonhar, mas também de encarar a realidade para entender como chegamos até aqui”, diz o artista sobre o trabalho.

Arte Pará

“É a primeira vez que participo de um salão nacional; para mim é muito especial ver meu trabalho circular em um projeto com tanta importância e que dá voz para esse Brasil plural, para além do eixo de arte sudestino”.

 Arte Contemporânea

“A arte contemporânea, ou esse lugar de status da arte, sempre pareceu um lugar distante para mim, sempre me pareceu elitista demais, difícil de entender, feita para pessoas de um mundo diferente do meu. A arte que eu aprendi na escola não era para pessoas como eu. Na minha trajetória, que eu chamo de "a marcha para o sudeste" entendi um pouco de como funciona esse eixo de arte sudestino e como é importante quebrar essas barreiras.  Hoje acredito que a arte é esse lugar construído em torno do simbólico, acredito que habitar o simbólico é também ter nas mãos a capacidade de construir ou reinventar uma realidade”.

image É Pará Isso: Festribal, a batalha entre tribos em forma de arte
Os bastidores de Juruti na véspera do Festribal foram contadas por Fábio Barbosa, embaixador do projeto É Pará Isso

image É Pará Isso: conheça o espaço que mistura biblioteca, galeria de arte e café no Jurunas
Isabela Nascimento, criadora de conteúdo do projeto "É Pará Isso", apresenta o Gueto Hub, que tem como grande missão difundir cultura em Belém

João Angelini, Distrito Federal, 1980

O artista destaca que possui um trabalho bem diverso e que se apoia na pesquisa de linguagens, de gestos e de processos. Por isso, a amplitude de categorias é grande. Possui trabalhos de vídeo-animação, instalação, música, pintura, gravura, performance, além de que também trabalha diretamente com teatro.

image

 “Eu começo a me entender como artista, exatamente nesse lugar do curioso, de entender como as coisas funcionam, como é que o cinema opera, como é que o vídeo é capaz de reproduzir uma imagem em movimento, que estrutura é essa e por que que a gente vê as coisas em movimento”, reflete o artista.

 Obra em destaque

O trabalho do Arte Pará se chama “Suberinas”, que se trata de um conjunto de oito pratos e com imagens de árvores do Cerrado. E as imagens foram feitas com as cinzas e as fuligens, que o artista recolheu com a queimada. As imagens das cinzas estão fixadas na superfície do prato. “Então, quando você expõe o prato e ao verticalizá-lo, já cai um monte dessas cinzas e esse trabalho vai desaparecendo ao longo da exposição.  Às vezes de maneira mais acelerada, às vezes de maneira mais lenta. Por exemplo, se tem muito barulho no ambiente, cai muito mais rápido essas cinzas. O trabalho não é uma pintura, não é uma gravura, também não é bem um objeto. Eu gosto de categorizar o trabalho como performance, mesmo não tendo corpo humano ali presente”.

Arte Pará

Para o artista existem várias camadas de importância ter sido selecionado no Arte Pará. Primeiro, como artista periférico ao sistema bandeirantista, ele acredita que é uma oportunidade de colocar o trabalho em circulação e interlocução com agentes nacionais. “Outra coisa muito importante é exatamente que essa interlocução não esteja acontecendo nesse centro hegemônico. Eu acho que quando a gente fica objetivando única e exclusivamente São Paulo ou Rio de Janeiro como foco para nossa exibição, comercialização ou circulação da nossa obra, nós estamos inevitavelmente nos sujeitando a extrativismo colonial bandeirante. Então, fico muito feliz de poder botar um trabalho meu para circular, para entrar em diálogo com outros trabalhos e outros artistas incríveis numa situação diferente da hegemônica”.

Arte Contemporânea

Institucionalmente falando, acho o universo da arte contemporânea muito interessante. É um espaço que em um ponto de vista é muito livre. E é legal essas possibilidades de gestos, categorias. Agora num ambiente institucional dentro do sistema capitalista, como o nosso, ela carrega todos os vícios, sequelas e violências que esse sistema promove”

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱

Palavras-chave

Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA