Exclusivo: Gilberto Gil anuncia ópera que estreia em Belém na abertura da COP 30
A ópera I-Juca Pirama, baseada no poema de Gonçalves Dias, foi composta por Gil com o maestro italiano Aldo Brizzi, a partir de ideia original de Paulo Coelho

Meses antes do aguardado show de Gilberto Gil em Belém pela turnê de despedida Tempo-Rei – confirmado para o dia 21 de março de 2026, após mudança de data causada pelo falecimento da cantora Preta Gil – outra manifestação da vitalidade artística do compositor baiano será apresentada na capital paraense.
Como atração da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), estreia em novembro no Theatro da Paz a ópera I-Juca Pirama, composta por Gil em parceria com o maestro italiano Aldo Brizzi, a partir de ideia original do escritor Paulo Coelho. A adaptação cênica do poema clássico de Gonçalves Dias chega ao palco nos dias 10, 11 e 12 de novembro, segundo informações da casa de espetáculos, com detalhes ainda a serem confirmados. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, por telefone, Gilberto Gil falou sobre a obra.
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“Estamos em fase de viabilização do projeto. Paulo Coelho tinha sido sondado pelo maestro Aldo Brizzi para que fosse feita uma ópera de uma dessas obras literárias muito importantes que ele tem. Nessa ocasião ele sugeriu que, para especificamente esse momento da COP 30, com todo esse contexto ambientalista, se fizesse outra coisa. Foi então que ele sugeriu o poema de Gonçalves Dias, I-Juca Pirama, que tem uma dimensão dramática muito importante e que envolve questões sobre comunidades indígenas”, explica Gilberto Gil.
Paulo Coelho e Aldo Brizzi passaram, em seguida, a escrever o libreto, enquanto a missão da composição das músicas coube ao compositor junto ao maestro. “A música está feita, a composição está feita. Agora estamos na fase de viabilizar o projeto de maneira geral, com todas as pessoas envolvidas, com os indígenas envolvidos, com os músicos. Estão sendo decididas as questões da encenação propriamente dita”, afirma o artista.
É a segunda vez que Gilberto Gil compõe uma ópera com Aldo Brizzi. A primeira, intitulada Amor Azul, foi inspirada em um poema milenar hindu que narra a história de amor entre o deus Krishna e Radha, uma mortal. Gil e Brizzi criaram 41 canções inéditas para o projeto. Na segunda empreitada, Gil conta que o desafio continuou a estimular suas características como criador.
“No caso de Amor Azul, que é também o caso de I-Juca Pirama, a ideia de utilizar um talento como o meu, uma capacidade como a minha, está associado ao fato de que a ideia é trazer o campo operístico e associá-lo o mais próximo da música popular, o campo onde eu transito, onde eu trabalho. Então, o ‘Amor Azul’ é uma ópera que utiliza a nossa musicalidade desse campo da música popular brasileira, e o mesmo acontece com Juca Pirama. Há muitos exemplos da relação da música popular com a arte dramática: Chico Buarque, por exemplo, é um dos autores de música popular com uma aproximação muito grande desse campo dramatúrgico mais ligado ao teatro, com obras como Ópera dos Malandros, e Gota D’água”, diz o compositor.
O poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, publicado em 1851 no livro Últimos cantos, é considerado um ícone do romantismo brasileiro. Segundo explica a professora Rebeca Fuks, doutora em Estudos da Cultura, em texto publicado no site Cultura Genial, Dias fez parte da primeira fase do movimento, que tinha como objetivo principal “valorizar o que havia de nacional”, escolhendo as personagens indígenas como “o grande herói do movimento”. A trama do poema, que possui 484 versos divididos em 10 cantos, narra a história de um guerreiro tupi capturado por uma tribo timbira, que o prepara para um ritual de canibalismo.
(*Coordenador do Núcleo de Cultura do Grupo Liberal)
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