Dona Onete (re)encontra suas raízes afro-indígenas no show ‘Quatro Contas’ no Psica 2025

Festival em Belém, no mês de dezembro, vai contar com apresentação inédita da Diva do Carimbó Chamegado, gravando um audiovisual contando sua saga amazônica

Eduardo Rocha

O carimbó tem origens negras e indígenas e conta a vida de quem vive nessa região, incluindo ainda ribeirinhos e cidadãos de núcleos urbanos. Por isso, nada mais natural, ancestral até, que a rainha do carimbó chamegado, a cantora e compositora Dona Onete, filha de Cachoeira do Arari, em pleno Marajó, no norte do Pará, fazer um show (para virar audiovisual) sobre suas raízes afro-indígenas. E isso vai se tornar realidade em dezembro, durante o Festival Psica, em Belém, inclusive, com música inédita da artista. Aos 86 anos e com a vitalidade de sempre, a cantora mostrará ao público composições vai passear por novos sons sem deixar de lado o carimbó, sua marca na música paraense.

Sobre essa nova atração em sua trajetória artística, Dona Onete conversou, com a Reportagem do Grupo Liberal na terça-feira (9), dia de apresentação do line up do Psica. Ela conta que já havia sido convidada para o Psica, mas nunca dava certo, por causa de compromissos, mas agora chegou a vez. “A gente está querendo levar um show (“Quatro Contas – Live in Psica”) fazendo uma mudança na minha história. Então, eu vou mostrar outras coisas que o público precisa saber”, diz a Diva.

“Vou cantar ‘Quatro Contas’ (em homenagem a caboclas encantadas da Amazônia) e nessa ‘Quatro Contas’ eu vou colocar música da nossa proteção religiosa, que não é candomblé, é batuque mesmo, Mina Nagô (religião afro-brasileira), né? Vou continuar cantando banguê, coisa que dos nossos velhinhos lá do interior de Igarapé-Miri, Mocajuba, Cametá. Banguê, que há mais de 150 anos já existe isso. Só eu tenho mais de 80, e já havia quando eu comecei a me entender como gente; aos 8 anos, já havia cantadas banguê depois das ladainhas”.

“Então, eu trago de novo o samba, muitas coisas, o carimbó mesmo, que agora se tornou Patrimônio Cultural Imaterial lá no Rio de Janeiro (Dia Municipal desse gênero), 18 de junho, dia do meu aniversário. Eu recebi um diploma lá, depois, fui fazer um grande show na Lapa. Então, eu já lutei pelo carimbó; agora, estou lutando pelo banguê e por outra nossa história, Mina Nagô”, destaca a cantora.

Essa temática afro-religiosa, como frisa Dona Onete, norteou o samba-enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós", vice-campeão do Carnaval 2025 do Rio de Janeiro com a escola Grande Rio. A cantora destaca que esse tema está na quadrilha junina e busca tirar um pouco da sanfona e coloca o banguê, “a mesma coisa para dançar uma quadrilha, principalmente o nosso banzeiro”.

Cantos

A cantora e compositora repassa que está preparando uma música para o Círio Fluvial. “Não sei se vai sair, porque não me dão tempo de pensar, com tanta coisa para fazer; mas já está mais ou menos, não sei se vai dar para cantar agora na Varanda da Fafá”, diz.

Simultaneamente, trabalha o show de suas raízes afro, nos moldes do primeiro CD  (“Feitiço Caboclo" (2012) que gravou com o cantor e compositor Marco André. O título do show “Quatro Contas” remete à história e identidade religiosa de Dona Onete, que nasceu em Cachoeira do Arari, no Marajó, e viveu por muito tempo em Igarapé-Miri, no nordeste do Pará, onde, inclusive, se casou e atuou como professora. “A minha história é mirijoara, porque eu sou filha do Marajó, de Cachoeira do Arari, mas quase toda a minha cultura vem de Igarapé-Miri”, ressalta Odete.

A diva do carimbó chamegado conhece muito da Amazônia, e, então, ao unir o estudo convencional com os saberes regionais, construiu sua trilha na música. “Ser uma mulher amazônida é ser uma mulher feliz. Ela tira o sapato do pé e anda quilômetros a pé, se derem para ela carregar ela carrega uma torá de mandioca pra mais de 30 quilos na costa e ainda vai ralar essa mandioca, para ajudar a fazer farinha. Nós temos uma coisa que ninguém tem, homem ou mulher: o nosso charme”.

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