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Memórias do Cinema: Uma justa e merecida homenagem ao talento da atriz italiana

Monica Vitti morreu nesta semana e recebe homenagem especial; confira

Marco Antonio Moreira

O falecimento da atriz italiana Monica Vitti, esta semana, me provocou memórias sobre a relação entre cineastas e atores no cinema e como estes trabalhos juntos geraram filmes marcantes e especiais que são respeitados pela crítica e público. Entendo que na maioria das trajetórias cinéfilas daqueles que admiram o cinema existem referências importantes que impulsionam constantemente seu interesse em assistir mais e melhores filmes. Durante muito tempo, em um período anterior as maravilhosas tecnologias audiovisuais (filmes em VHS, DVD, canais de streaming, etc.), foi fundamental conhecer as obras de diversos diretores e perceber que, em alguns casos, seu trabalho estava vinculado ao intenso talento de vários atores/atrizes. E a busca por estes filmes, nesta época, sempre se apresentava por meio das salas de cinema.

Entre minhas primeiras referências estava Ingmar Bergman e Liv Ullman, cineasta e atriz que, juntos, realizaram obras fílmicas extraordinárias como Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972) e Face a Face (1976). Posteriormente, lembro-me de procurar com curiosidade os filmes de Alfred Hitchcock protagonizados por James Stewart e me encantei de modo especial com Vertigo (1957). No período do movimento cineclubista de Belém conheci a parceria do cineasta Michelangelo Antonioni com a atriz Monica Vitti em filmes como A Aventura (1960), A Noite (1961), O Eclipse (1961) e, posteriormente, Deserto Vermelho (1964). Estes filmes tinham uma profundidade temática que me estimulava a entender o cinema de maneira mais intensa, assim como outras produções de Bergman, Andrei Tarkovski e Jean-Luc Godard, entre outros exemplos. Mas, entre vários encantamentos por estes filmes de diversos autores, era inevitável evidenciar a presença de atrizes/atores que dignificaram e ampliaram pela sua atuação, as propostas fílmicas destes cineastas.

image Poster de 'A Noite', filme da trilogia que Antonioni realizou nos anos 1960 com o objetivo de refletir sobre os rumos do ser humano contemporâneo (Divulgação)

É impossível separar a dimensão de uma obra cinematográfica da colaboração coletiva entre um cineasta e seus atores/atrizes. Como pensar em Persona de Bergman sem Liv Ullman e Bibi Andersson? Como se lembrar de Vertigo de Hitchcock sem James Stewart e Kim Novak? Como elogiar os filmes de Jean-Luc Godard como Acossado sem Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg ou Band à Part sem Anna Karina? Como perceber a essência temática de filmes como A Aventura e O Eclipse de Antonioni sem Monica Vitti? Evidentemente, no cinema contemporâneo, outras parcerias confirmam esta premissa, como por exemplo, Zhang Yimou com Gong Li (Amor e Sedução), Pedro Almodóvar com Carmem Maura (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos), Antonio Banderas (Matador) e Penélope Cruz (Volver) e Martin Scorsese com Robert De Niro (Taxi Driver/Touro Indomável/Os Bons Companheiros/Cassino) e Leonardo Di Caprio (Gangues de Nova York/Os Infiltrados).

image 'Deserto Rosso' (ou Deserto vermelho) resultou de uma parceria entreMonica Vitti e o cineasta Michelangelo Antonioni (Divulgação)

Monica Vitti iniciou sua carreira no cinema em 1954 no filme Ridere! Ridere! Ridere! após estudar arte dramática na Accademia dell'Arte Drammatica, em Roma. Em 1957, Vitti se juntou ao Teatro Nuovo di Milano de Antonioni, e posteriormente, iniciou parceria com Antonioni em A Aventura (1960). Este filme principiou a trilogia de incomunicabilidade que Antonioni realizou nos anos 1960 com o objetivo de refletir sobre os rumos do ser humano contemporâneo. A Noite (1961) e O Eclipse (1962) fazem parte da trilogia que teve diversos atores extraordinários como Jeanne Moreau, Marcello Mastroianni e Alain Delon. Mas, certamente, Vitti se destacou em personagens de difícil intepretação que exigiram esforço e intensidade que somente uma boa atriz poderia proporcionar a narrativa fílmica.

image Monica Vitti em 'A Aventura' (Divulgação)

Em 1964, Vitti esteve brilhante em Deserto Vermelho de Antonioni, outra obra prima marcada com sua atuação. Nos anos seguintes da sua carreira, ela diversificou suas escolhas como atriz e participou de diversas produções de diferentes gêneros como Modesty Blaise (1966) de Joseph Losey, A Garota com Pistola (1968) de Mário Monicelli, Ciúme a Italiana (1970) de Ettore Scola e O Fantasma da Liberdade (1964) de Luís Buñuel. Em 1981, voltou a trabalhar com Antonioni em O Mistério de Oberwald. Em 1989, escreveu e dirigiu o filme Escândalo Secreto que foi exibido no Festival de Cannes. Vitti trabalhou em diversos programas e filmes de televisão e sua última participação como atriz foi na mini-série para TV chamada Mas você... você me ama?  dirigido por Marcello Fondato.

image Impossível perceber a essência temática de 'O Eclipse', de Antonioni, sem a presença de Monica Vitti (Divulgação)

Monica Vitti agora é imortal e sua carreira artística me lembra de um período maravilhoso do cinema quando um filme de autor tinha intenso reconhecimento da crítica especializada e do público e a atuação de um ator/atriz era evidenciada de maneira especial, única e indivisível. Mas, é necessário insistir na esperança de que  tudo seja renovado no cinema. E essa esperança pode ser impulsionada por meio de homenagens ao assistir filme com Monica Vitti e outros grandes atores/atrizes que nos deixaram exemplos maravilhosos de dedicação e talento que não podem ser esquecidos!

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