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Amazônia Doc terá estreia de mostra com foco na produção feminina

'As amazonas do cinema' faz parte da programação do evento, que vai de 12 e 23 de setembro, em versão online e gratuita

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O registro poético de uma viagem ao México. A narrativa de vida de cinco detentas do presídio de São Paulo. A realidade por trás do uso excessivo de agrotóxicos na região nordeste, além de questões sociais e políticas na Amazônia. Apesar da diversidade de assuntos, as obras trazem algo em comum que releva o conceito da seleção: o olhar da mulher por meio da produção audiovisual.

Estes e outros temas estão em evidência na 1ª edição do “As amazonas do cinema”, festival agregado ao 6º Amazônia Doc, que acontece entre de 12 e 23 de setembro, em versão online e gratuita, pela plataforma de streaming AmazôniaFlix, uma novidade que será lançada com a abertura do festival. 

Entre mais de 50 inscrições, foram selecionados 11 longas e 14 curtas-metragens, de diversos estados do Brasil e também Colômbia, Portugal e Equador, todos dirigidos por mulheres. De acordo com Lorenna Montenegro, crítica de cinema e uma das curadoras do Festival, a presença feminina nas produções como um todo foi avaliada. “O primeiro critério era o filme ser dirigido ou roteirizado por mulheres, mas também consideramos se tinham uma representação feminina afirmativa”, explica.

Não é à toa o nome escolhido para batizar o festival. Amazonas foram lendárias guerreiras das florestas, que lutaram contra a investida colonizadora. O ato de resistir parece ser historicamente inerente à mulher, diversas realidades que atravessam o tempo nos mostram isso. Um exemplo é o caso das mulheres venezuelanas que após forte crise em seu país de origem, chegam ao Brasil em busca de uma vida melhor com suas famílias. Esta delicada situação é retratada no curta “Adelante”, de Luiza Trindade.

image O curta documental 'Opará', de Graciela Guarani, mergulha no rio São Francisco e passeia por sua extensão dentro do Estado do Pernambuco (Divulgação)

“Há muito material que fala sobre a realidade vivida por refugiados, mas acredito que o potencial do meu filme é o tom intimista, resultado da minha aproximação com um abrigo, e o fato de darmos luz à mulheres. Elas estão a vontade em participar, ali se estabelece um lugar de fala pra elas. É fundamental a gente olhar para estas pessoas com mais empatia e solidariedade, por trás são muitas histórias de superação e dor”, comenta Luiza, que atualmente está trabalhando na produção de uma série sobre pessoas que vivem em situação de rua na capital carioca.

Subindo o Brasil, chegamos ao cenário proposto pelo curta documental “Opará”, de Graciela Guarani. A obra nos convida a mergulhar no rio São Francisco e passear por sua extensão dentro do Estado do Pernambuco, onde comunidades originárias vivem os conflitos das políticas desenvolvimentistas. “O filme conta muitas histórias de apagamento de identidades. Como o que acontece com o povo Tuxá, que vive em Rodelas, que teve seu território retalhado pela construção de uma barragem”, exemplifica a diretora.

Graciela transita por espaços de resistência desde sempre. Nasceu na aldeia Jaguapiru, dentro da reserva indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul, e há dez anos mora no sertão pernambucano. “O cinema é onde tenho minha voz política ecoada, sempre em prol da minha comunidade. Ser mulher, indígena e fazer cinema é minha luta. Além da falta de verba, sou atravessada pelo machismo e racismo, mas sigo na força ocupando um espaço historicamente feito por e para homens brancos”.

Dentro do festival, na categoria curtas-metragens o público também poderá assistir “Doce Veneno” (CE), “Recomendado” (RJ), “Nova Yorque, mais uma cidade” (SP) e a produção colombiana “Dança sem nome”, entre outros.

image O filme de Sinai Sganzerla traz a história Helena Ignez, uma das figuras mais marcantes do cinema brasileiro, principalmente por sua participação em filmes do movimento Cinema Novo (Divulgação)

Mulher, entre pesos e poesia

“A mulher da luz própria”, de Sinai Sganzerla, ilustra bem o espírito do festival. O longa nos traz a história Helena Ignez, uma das figuras mais marcantes do cinema brasileiro, principalmente por sua participação em filmes do movimento Cinema Novo.  Apesar do notável talento como atriz e diretora, deixar fluir sua energia criativa nunca foi tarefa fácil.

“Por meio da história de Helena podemos refletir sobre a condição da mulher em várias fases do Brasil. As dificuldades pelas quais ela passou e passa, sendo artista de cinema, são as mesmas que todas nós passamos, independente do que meio que vivemos. A maternidade, os espaços de trabalho, a redução de nossas identidades a estereótipos, e por aí vai”, conta Sinai, que além de assinar a direção deste e de outro filme selecionado, o curta “Extratos”, também é filha da protagonista.

E Helena Ignez está em dose dupla no “As amazonas do cinema”. Além de ter sua carreira e vida homenageadas em um dos filmes, ela também chega na competição como diretora do longa “Fakir”. Nesta obra, o público conhece o universo controverso de artistas de origem circense que extrapolam os limites do corpo em apresentações que viraram febre Brasil adentro nas primeiras décadas do século XX.

“Quando li ‘Cravo na Carne’, de Alberto de Oliveira e Alberto Camarero, sobre o faquirismo feminino no Brasil, me surgiu a ideia do filme. Lembrei da minha infância, quando aos 11 anos meu pai me levou para conhecer os faquires, lá em Salvador, cidade que nasci. Éramos campões mundiais no futebol e estávamos ali, assistindo ao campeonato da fome, pois era esse o número principal destes artistas, passar 80, 100 dias de jejum. Existe uma relação simbólica muito forte nisso”, relaciona a diretora.

image Helena Ignez está em dose dupla no festival. Além de ter sua carreira e vida homenageadas em um dos filmes, ela também chega na competição como diretora do longa 'Fakir' (Leo Lara/ Divulgação)

Outros títulos e premiação

Entre os longas selecionados para o festival estão “Portuñol” (RS), “Saudade mundão” (SP), “Currais” (CE), entre outros. Representando o cinema paraense, a cineasta Priscilla Brasil apresenta seu filme "Um conto de duas cidades de empresa”, que traz as memórias de dois lugares esquecidos, impactados por projetos desenvolvimentistas na Amazônia brasileira.

As vencedoras do Festival levarão para casa o troféu Eneida de Moraes, homenagem a uma das maiores personalidades femininas da cultura paraense e brasileira. Escritora, Eneida foi importante militante política e ativista cultural, tendo sido a fundadora do Museu da Imagem e do Som - PARÁ, em 1971, ano que ela faleceu. Além do troféu, também haverá um prêmio de distribuição, oferecido pela Estrela do Norte - Elo Company.

Este ano, após adiamentos e reinvenções, o Amazônia Doc confirmou sua realização, on-line, para o período de 12 a 23 de setembro, em versão on line, e em formato 3 em 1, agregando mais dois festivais, o 1º Curta Escolas e o 1º Festival as Amazonas do Cinema.

A realização do Instituto Culta da Amazônia, com a co-realização do Instituto Márcio Tuma; patrocínio da Equatorial Energia, por meio da Lei Semear de Incentivo à Cultura. A produção é da ZFilmes; e apoio cultural da Cultura Rede de Comunicação e Sebrae-Pa; Ufpa - Curso de Cinema, Estrela do Norte - Elo Company e Casa NaMata. Mais informações pelo site: www.amazoniadoc.com.br.

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