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Artistas lembram importância da resistência no Dia da Visibilidade Trans

Data é comemorada nesta terça-feira em todo o País

Lucas Costa
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O Brasil segue como o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Só em 2018, um total de 150 assassinatos foram registrados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O mês de janeiro marca a luta das pessoas transgênero pela mudança dessa realidade e nesta terça-feira, dia 29, é comemorado o Dia da Visibilidade Trans.

Para as pessoas transgênero, além de lutar pela sobrevivência, é preciso enfrentar diariamente o preconceito e diversos tipos de violências. Anastácia Marshelly, Isabella Pamplona e Maia Voleau vivem na pele a realidade de uma pessoa transgênero no Brasil, se utilizando da arte como forma de luta contra todo tipo de preconceito enfrentado por elas.

Anastácia, 18, traz em seu nome o peso de uma divindade religiosa brasileira cultuada pela realização de supostos milagres, a Escrava Anastácia. Ela conta que a personalidade nasceu de quando se reconhecia como uma bicha preta e decidiu montar uma drag queen para ativar tudo o que sentia e pensava. “Atualmente eu me acostumei a ser Anastácia e acho que hoje em dia ela não é só mais uma drag, hoje ela sou eu”, conta.

Isabella Pantoja, 21, também teve a arte como meio de seu reconhecimento próprio. Ela relembra que na infância, quando se imaginava mais velha, não enxergava uma imagem masculina. Aos 19 anos ela se montou como drag queen pela primeira vez para participar de um concurso. “Aquilo desencadeou questões enormes, porque depois da primeira vez que me maquiei, que botei um cabelão, me olhei no espelho e vi uma imagem feminina, eu fui à loucura. Isso dominou minha cabeça, e eu senti que eu nunca mais poderia sair de casa de outro jeito, porque eu me via ali, algo diferente daquilo não era mais eu, e então eu fui conhecendo essa nova pessoa”, relembra Isabella.

Para Maia, 25, o processo de reconhecimento como mulher transgênero ocorreu durante um intercâmbio em Paris. “Hoje eu sou uma mulher que tenta sobreviver e sentir prazer em viver, e isso eu consigo com a arte, e antes de qualquer definição acho importante dizer que minha identidade de gênero com o meu eu artístico andam juntos, posso até dizer que meu eu artístico nasceu com essa descoberta de um novo gênero, e com isso passei a performar de maneira diferente”, explica.

image Anastácia, Isabella e Maia trabalham como Drag Queens e outras profissões ligadas às artes (Cláudio Pinheiro)

Bailarinas, maquiadoras, modelo e atriz: artes que abriram espaço para o universo trans

Utilizando o próprio corpo como forma de expressão e luta por meio da expressão artística, Anastácia, Isabella e Maia, contam que mesmo com uma abertura maior para pessoas transgênero no meio das artes que vem ocorrendo ultimamente, ainda há muito trabalho pela frente. Anastácia atualmente trabalha como bailarina e coreógrafa, além de manter seu trabalho como drag queen.

“Acho que a dança foi a ferramenta social de mudança na minha vida, eu era muito agressiva, eu cresci num lugar onde todo mundo estava sempre brigando com todo mundo, e eu sempre estava no meio disso, sendo ameaçada de morte; e quando eu comecei a dançar foi quando eu percebi que o jeito que eu estava levando a minha vida era bem perigoso e eu poderia acabar falecendo. Então digo que a dança salvou muito a minha vida”, conta Anastácia.

Para Isabella, que teve uma infância ligada a igreja evangélica, atualmente a arte é também um ambiente onde encontra apoio com outras pessoas trans. “Eu sou maquiadora, cabeleireira, e também sou drag, bato cabelo, performo, eu canto e também faço produção de moda. A gente se apoia para caramba no talento uma da outra, já que corpos marginalizados não recebem apoio para fazer a arte e para se expressar. Então a gente meio que subsidia a arte uma da outra com o nosso talento, é uma troca e uma família. Porque você constrói uma nova pessoa ao lado de quem? Quem estava ao meu lado quando eu comecei minha transição? Eram meus amigos, que hoje me conhecem muito mais do que quem me criou”, diz Isabella, que também destaca a dificuldade de uma pessoa transgênero em trabalhar em outros setores.

Maia Voleau atualmente trabalha como modelo e atriz em produções audiovisuais, e também revela uma paixão pela moda que traduz diariamente. Ela explica ainda que mesmo que tenha uma identidade feminina, busca performá-la de diferentes maneiras. “Daí vem a coisa de performar também a masculinidade, que não deve ser algo ruim, porque as mulheres também podem ser masculinas, não é algo só do homem, então eu vivo nisso. Muito do que eu estou sentindo, tento transmitir com os meus looks, minha postura, nos meus trabalhos. Essa identidade em questão a performance pode ser fluida, eu posso muito bem mergulhar no masculino, mas isso não vai mudar o meu eu, vou continuar sendo a Maia”, explica.

Sobre os planos para o futuro, as três são otimistas. Anastácia planeja a criação de vídeos com performance para a internet, para que o público possa conhecer seu trabalho. Já Isabella diz que pretende expandir seu trabalho para cada vez mais territórios, assim como Maia. As duas planejam conhecer cada vez mais estados e países, onde possam realizar um troca de experiência com artistas locais, e expandir também os horizontes de seus trabalhos.

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