Arraial do Pavulagem: família paraense vive último arrastão antes de deixar o Brasil
Cortejo deste domingo (6) marca um novo ciclo que deixará saudades no coração das integrantes do Batalhão da Estrela

O Arrastão do Pavulagem se despede dos cortejos juninos neste fim de semana. Para alguns brincantes, o último domingo percorrendo em direção à praça Waldemar Henrique será uma celebração diferente. Anna Izabel Sabbag e a filha, Daniela Sabbag, integrantes do Batalhão da Estrela, se preparam para uma nova fase da vida e vão embora para outro país. Apaixonadas pelo folguedo, as duas estão em clima duplo de despedida para viver este momento, que promete ser tão emocionante quanto as memórias que construíram juntas ao longo dos anos.
Há 37 anos o cortejo sai pelo centro histórico de Belém todos os finais de semana de junho e no primeiro de julho, ao som de tambores e toadas autorais. Fundado pelos músicos Ronaldo Silva e Júnior Soares, o Arraial tem como um dos principais adereços dos brincantes o chapéu de palha com fitas nas cores azul, vermelho, amarelo e verde.
Na época em que começou a se interessar pelo Arraial, a paraense Anna Izabel Sabbag nem imaginava que futuramente iria fazer parte do Batalhão. Naquele período, no final da década de 90, ainda no ensino médio, ela saía para prestigiar o cortejo escondida após sua aula encerrar. Hoje integrante, ela explica que esta manifestação popular, considerada Patrimônio Cultural Nacional, é um momento de resistência da cultura, reunindo música, dança e muita alegria.
VEJA MAIS
“São diversos aspectos. O fato do Pavulagem ser inclusivo é o que mais me encanta. Não tem faixa etária, diferença social. É uma família! Preciso confessar que, ao final do dia, vou para o ensaio mesmo cansada, mas ao chegar lá a energia toma conta de mim e esqueço o cansaço! É uma forma de terapia e de deixar as preocupações para trás”, explica.
Foi somente depois de muito tempo após se estabelecer em Belém que a defensora conseguiu fazer parte do Batalhão. No ano em que iria entrar, veio a pandemia da Covid-19 e ela precisou adiar o sonho. Após o período de isolamento, ela decidiu que iria retomar o desejo e saiu, pela primeira vez, junto à comunidade que desce as ruas do bairro da Campina ao redor do Boi Pavulagem.
“Graças a Deus, nós sobrevivemos a esse período e eu falei que não iria mais deixar escapar esta oportunidade. Quando o cortejo retomou, foi a primeira vez que nós saímos no Batalhão. Esse amor acabou sendo passado para a minha filha Daniela e para minha mãe, Olga, que também acompanha o cortejo.”
Para Izabel, este momento de despedida está sendo difícil, apesar de entender que é necessário para realizar outros sonhos que estão fora do Brasil. Após a conclusão do mestrado, ela e o marido conseguiram, agora em 2025, a aprovação no doutorado em uma universidade de Coimbra, Portugal, e planejam se mudar para lá com a filha.
"Ficar longe do meu Pará será mais difícil ainda e, no mês de junho (além do mês de outubro), vai rolar uma saudade e a vontade de sentir o calor do povo nas ruas durante os arrastões. Não quero dizer tchau, apenas um até logo, porque quem faz parte do Batalhão da Estrela sempre volta. O 'boizinho' azul e as estrelas do Batalhão estarão sempre em um lugar especial no meu coração", diz ela.
Amor que atravessa gerações
Além de Izabel, sua família também é envolvida sentimentalmente com o folguedo. A mãe dela, Olga, e sua filha, Daniela, também frequentam os cortejos. Desde que Daniela passou a integrar o Batalhão, a avó começou a acompanhá-la. Foram muitas memórias marcantes acumuladas ao longo da jornada com o Pavulagem, mas uma, em especial, marcou a defensora pública.
"São diversos momentos importantes! As amizades que temos, é tanto carinho envolvido. Teve uma vez que a Daniela caiu e ralou o joelho e todo mundo do Batalhão ficou em volta dela, preocupados, surgiu até água com vinagre para passar na ferida do joelho. Todo arrastão é único e poder compartilhar os sorrisos da minha filha e mãe que saem no cortejo comigo é uma sensação inexplicável. Na verdade, o Arrastão do Pavulagem é grandioso, não se explica, se sente", relembra Izabel.
Olga, avó de Daniela, explica que sua grande paixão é o Carnaval, mas o Arraial despertou um novo sentimento em seu coração. A paixão foi herdada pela Izabel. Desde garota, ela se encantou pelo arrastão. Comecei a ir nos cortejos para acompanhar minha neta, enquanto minha filha aproveitava também. Com isso, eu me apaixonei também", conta a matriarca da família.
Para Daniela Sabbag, este último arraial vai ser um domingo mágico e nostálgico. "Será muito emocionante. Geralmente, o último arrastão é o mais triste, porque é uma despedida. É o que mais aproveitamos. No nosso caso, eu e minha mãe, vamos nos despedir de forma dupla. Vou ficar longe de pessoas maravilhosas que só conheci pelo Pavulagem."
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA