Julgamento de Bolsonaro: advogados recorrem a personalidades literárias para tentar inocentar réus

Os ex-integrantes do governo federal estão sendo acusados por tentativa de golpe de Estado

Victoria Rodrigues
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os outros sete réus acusados pela tentativa de golpe de Estado promovida no dia 8 de janeiro de 2023 estão sendo julgados desde a última terça-feira (2), pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Ao longo desses dois dias de sessão, os advogados de defesa utilizaram o nome e as obras de escritores importantes da Literatura para tentar inocentar os acusados.

Para defender Jair Bolsonaro, o advogado Paulo Cunha Bueno argumentou que o julgamento possui caráter político e comparou o episódio a uma “versão brasileira do caso Dreyfus”, escrito por Émile Zola. O caso citado pelo advogado refere-se ao escândalo francês do final do século XIX, em que o capitão Alfred Dreyfus foi condenado, de forma injusta, por traição, quando na verdade o culpado era outro militar da época.

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Cunha Bueno informou ainda que deve se encontrar com Bolsonaro nesta quarta-feira (3)

Confira outros escritores que foram mencionados ao longo do julgamento:

  • Fernando Pessoa

Livro: Poema em Linha Reta
Citado por: Andrew Fernandes Farias, advogado do general Paulo Sérgio Nogueira
Resumo da obra: O “Poema em Linha Reta”, do escritor Fernando Pessoa, é conhecido por criticar a hipocrisia social e a falsa perfeição alardeada pelas pessoas. Além disso, o eu lírico denuncia a vaidade e o medo de expor fragilidades.
Argumentação: No momento do julgamento, o advogado citou o poema, mas ao mesmo tempo, ele também misturou estrofes e inventou versos. Em sua argumentação, ele diz: "Nunca vi quem tivesse falado uma bobagem, todos os meus amigos são príncipes e semideuses, todo mundo é sempre elegante". Logo depois, o advogado utilizou o trecho para alegar que a "Comissão de Transparência das Eleições (CTE) é para inglês ver".

  • Gonçalves Dias

Livro: I-Juca-Pirama
Citado por: Andrew Fernandes Farias, advogado do general Paulo Sérgio Nogueira
Resumo da obra: O poema épico-dramático "I-Juca Pirama", do escritor Gonçalves Dias, narra a jornada de redenção do protagonista ao lado de seu pai e a tribo dos Timbiras. Na trama, após poupar o pai cego da dor de perdê-lo, I-Juca Pirama precisa provar o seu valor e recuperar sua honra de guerreiro.
Argumentação: O advogado utilizou o poema para dizer que o general Paulo Sérgio Nogueira é um guerreiro nascido no nordeste. E, para desenvolver a sua argumentação no julgamento, Fernandes Farias recitou durante o julgamento: "Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte; Guerreiros, ouvi”.

  • Émile Zola

Livro: Eu acuso (Caso Dreyfus)
Citado por: Ministro Flávio Dino
Resumo da obra: O caso Dreyfus, citado pelo escritor Émile Zola em seu livro “Eu acuso”, trata-se de um escândalo político e judicial que envolveu a condenação injusta do capitão Alfred Dreyfus. Por meio de suas palavras, o autor revelou que existem responsáveis por um erro judicial que levou ao processo e à condenação.
Argumentação: Além do advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, o ministro Flávio Dino também citou o autor para comentar sobre o excesso de citações literárias no segundo dia de julgamento. “Estou curioso... seu predecessor citou Dreyfus e Émile Zola, depois Gonçalves. Agora, sua sogra”, declarou Flávio Dino.

(Victoria Rodrigues, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Heloá Canali, editora executiva em Oliberal.com)

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