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Sustentabilidade: pesquisa da UFPA transforma caroços de açaí em asfalto sustentável

Como possível solução ambiental, a pesquisa integra o Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão de Biomassa e Resíduos

Gabriel Pires

Na Amazônia, o açaí é mais que alimento no dia a dia, mas gera, também, renda e pode se tornar uma alternativa ecológica para o setor de pavimentação. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolveram um asfalto sustentável, o bioasfalto, feito a partir de resíduos do caroço de açaí. Com isso, é possível reduzir a poluição causada pelo asfalto “tradicional”, que libera compostos tóxicos no meio ambiente. Como possível solução ambiental, a pesquisa integra o Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão de Biomassa e Resíduos

image Bioasfalto: açaí pode se tornar alternativa ecológica para o setor de pavimentação. (Carmem Helena / O Liberal)

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O professor Nélio Machado, do Instituto de Tecnologia da UFPA e vice-coordenador do laboratório, destaca que a proposta do estudo visa a valorização e o fortalecimento das cadeias produtivas do açaí no Pará. Atualmente, segundo o professor, as pesquisas estão em fase de testes. "O bioasfalto é o resíduo do processo de fracionamento do bio-óleo da pirólise dos caroços do açaí, ou seja, é o resíduo do resíduo. Pode ser utilizado com substituto do asfalto de petróleo, portanto, é um bioproduto sustentável", esclarece. 

“O asfalto verde pode ser utilizado como um ligante asfáltico, juntamente com o próprio querosene, que é produzido. E agregando-se, ao seixo e areia. Assim como o resíduo, o resíduo da mineração, produzindo um capeamento sustentável para as estradas ou outros tipos de espaços para transporte”, afirma o professor. Nélio lembra que o bioasfalto "possui as mesmas características do asfalto de petróleo".

Mas, para que o caroço do açaí se torne o asfalto sustentável, há vários processos químicos envolvidos. E o objetivo é transformar esse produto em um ligante para produção de agregado asfáltico: “Através de um processo conversão, a termoquímica, transformamos a biomassa residual no bioasfalto. Após o processo de transformação termoquímica, é gerado uma fase líquida, chamada de bio-óleo, que será usada para produzir, além do bioasfalto, gasolina, querosene e diesel verde”, descreve o pesquisador. 

“Nós temos a coleta [dos caroços de açaí]; o pré-tratamento de secagem, moagem e peneiramento; a impregnação química, que é impregnar quimicamente caroços com uma base; a pirólise; depois, a separação desse bio-óleo da fase aquosa; a destilação do bio-óleo, produzindo gasolina verde, querosene verde, diesel leve verde, diesel leve pesado e bioasfalto que é um produto de fundo”, relata o professor sobre os processos até que o fruto se torne o asfalto "verde".

image Nélio Machado, professor do instituto de tecnologia da UFPA. (Carmem Helena / O Liberal)

Solução

Com essa solução, os caroços do açaí também deixam de ser um problema na gestão de resíduos sólidos e tornam-se uma matéria-prima na produção do bioasfalto. “Temos como objetivo mostrar que nós podemos propor um modelo de desenvolvimento sustentável, baseado na transformação e na aplicação sistemática dos recursos da biodiversidade. E, em particular, no nosso caso específico, resíduos agroindustriais, mas esse modelo pode ser utilizado de uma forma geral”, destaca o pesquisador.

A expectativa é que o bioasfalto possa, futuramente, substituir o asfalto proveniente do petróleo. “Nós, Amazônidas, temos competência e podemos ser os protagonistas dessa transformação. Estamos avançando e tentando patentear esse processo e o produto também. Ele pode ser patenteado na indústria [o bioasfalto]. É uma tecnologia que já dominamos. Inclusive, tínhamos uma unidade piloto, com capacidade de 150 litros, que era a única no Brasil. E aqui mesmo, na Faculdade de Engenharia Civil, são feitos todos os testes de caracterização desse ligante asfáltico”, frisa Nélio.

Benefícios

Um dos diferenciais do bioasfalto é a não emissão de compostos poluentes, como no caso do asfalto tradicional, conforme pontua o pós-doutorando Lucas Bernardes, que também participa da pesquisa. Entre outros benefícios, ele cita: "a não dependência de materiais de petróleo. E, também, porque a gente tem como valorizar produtos que a gente tem aqui. Em termos de vantagens, o bioasfalto é praticamente idêntico ao asfalto. Não se tem grandes diferenças muito grande na questão de propriedades, seria mais na questão de ganho ambiental”, relata.

Remédio

Para além do bioasfalto, o açaí também pode virar um medicamento natural com ação cicatrizante, como demonstra a pesquisa do farmacêutico Sávio Monteiro, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular (PNBC). “A ideia principal é com o bio-óleo do incorporar numa pomada e fazer testes em animais para verificar a atividade cicatrizante dessa pomada. Estamos ainda nas fases iniciais da pesquisa. O projeto já foi submetido ao comitê de ética em pesquisa animal. Estamos aguardando só a liberação para ter acesso aos animais que vão ser testados”, pontua.

Investimento

O laboratório onde as pesquisas são realizadas integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de título “Prospecção de biocompostos amazônicos com potencial ação contra agentes infecciosos emergentes e/ou resistentes para obtenção de produtos farmacêuticos”, o INCT PROBIAM. As verbas para as pesquisas de parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). No total, são cerca de mais de 5 milhões investidos no projeto.

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