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Síndrome de Burnout: veja o que mudou na classificação da OMS da doença decorrente do trabalho

Caracterizada como um estresse crônico, a síndrome pode ser causada por cobranças excessivas, metas quase inalcançáveis, relações desgastadas e um ambiente de trabalho inadequado

João Paulo Jussara / O Liberal
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Exigências e cobranças excessivas, metas quase inalcançáveis, relações desgastadas e um ambiente de trabalho inadequado. Tudo isso pode levar ao desenvolvimento da síndrome de Burnout, caracterizada como um estresse crônico que causa exaustão extrema e a falta de interesse do trabalhador pela tarefa que executa, além de vários outros sintomas. Desde o dia 1º  de janeiro, entrou em vigor a nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o Burnout uma doença decorrente do trabalho.

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O psicólogo Manoel de Christo Neto explica que o Burnout tem uma dimensão emocional e física, pois pode fazer com que a pessoa fique mais agressiva, isolada, apresentando mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração e lapsos de memória. Também é comum um certo pessimismo e baixa autoestima. E pode acabar levando ao desenvolvimento de doenças ainda mais graves, como a ansiedade e a depressão.

"Do ponto de vista físico, a pessoa pode ter dores de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, que é o suor, palpitação, alteração na pressão, dores musculares, insônia, distúrbios gastrointestinais. São manifestações físicas que costumam acontecer no Burnout", diz o especialista. "Trata-se de uma alteração hormonal que é justamente o esgotamento profissional, ou seja, ela tem, necessariamente, uma vinculação com o trabalho".

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Levantamento do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) mostra que houve um crescimento de 21% nos casos de síndrome de Burnout durante a pandemia. Para o psicólogo, um dos principais motivos para o aumento é a mudança de estilo de vida que grande parte dos brasileiros teve que enfrentar. Alguns passaram a trabalhar de maneira remota, outros ficaram desempregados e também há aqueles que tiveram que continuar trabalhando pois não tinham condições de parar.

"Por exemplo, quem era profissional liberal ou vivia do trabalho informal, teve que ir para dentro de casa. E há profissões que não permitem isso, imagine um pedreiro, um encanador tendo que ficar recluso. Isso mudou completamente o estilo de vida das pessoas. Com a pandemia, serviços públicos e privados passaram a funcionar no chamado 'home office'. Um dos grandes problemas disso é que, muitas vezes, fica difícil fazer uma separação entre o horário de trabalho e o da convivência familiar", pontua Manoel de Christo.

Acúmulo de tarefas profissionais e domésticas levou professora a desenvolver Burnout

A professora de Redação Maura Izabella Bezerra foi diagnosticada com a síndrome de Burnout em 2014. Ela conta que o volume alto de textos para corrigir diariamente ajudou a desenvolver um nível elevado de estresse. Mas o acúmulo de tarefas domésticas e a rotina de cuidado com as duas filhas, que na época tinham oito e 13 anos de idade, e com os animais de estimação, também foram essenciais para que ela chegasse ao nível máximo de esgotamento físico e mental.

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"Eu não tinha mais vontade de trabalhar. Você fica sem entender o que o seu corpo está dizendo. Eu só chorava, só queria dormir. Era uma irritabilidade, qualquer coisa me aborrecia, não queria falar com ninguém. Isso mexeu com toda a minha vida. Eu pedi divórciuo depois da síndrome, porque eu entendi que, apesar do meu ex-marido ser uma excelente pessoa, ele não dividia comigo as tarefas domésticas. E isso foi o fim do casamento", relembra a professora.

Decidida a buscar ajuda, ela procurou uma psicóloga, fez oito sessões, e também foi acompanhada por uma psiquiatra. As duas profissionais, juntas, fizeram o diagnóstico: era mesmo Burnout. "Eu tive que me afastar do trabalho, fiquei três meses fora da escola, depois fui voltando devagar. Hoje em dia eu sou obrigada a pisar no freio, porque eu posso acabar adoecendo novamente. Faço terapia, sempre estou em contato com a minha psicóloga, para saber os meus limites e não ultrapassá-los. Não desejo isso que eu passei pra ninguém", afirma Maura Bezerra.

image Saiba mais sobre a síndrome de Burnout e como tratar (Alynne Cid / O Liberal)

Tratamento

O tratamento para a síndrome de Burnout, via  de regra, é feito por meio da psicoterapia. O psicólogo Manoel de Christo explica que às vezes há a necessidade do uso de medicação, e nesse caso o paciente deve ser avaliado por um psiquiatra, que vai receitar os remédios de acordo com cada caso. Podem ser usados antidepressivos, ansiolíticos e outros. Mas o tratamento sempre deve ser combinado com o atendimento psicológico. Atividades físicas também são importantes, pois favorecem a produção de hormônios que causam bem estar, como a endorfina e a serotonina.

"Também é importante que o paciente se afaste de pessoas negativas, principalmente aquelas que ficam reclamando de tudo. E às vezes é importante uma intervenção no ambiente de trabalho. Se o ambiente é favorecedor do Burnout e não houver essa alteração, é como se tivesse chovendo no molhado, porque nem todo mundo vai ter condição pessoal de lidar com um ambiente hostil. As empresas precisam estar atentas ao seu clima organizacional, para que o seu ambiente seja adequado, onde as pessoas possam se respeitar mutuamente e desenvolver o trabalho de maneira adequada, mas com bem estar", concluiu Manoel de Christo.

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