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Restauração de embarcação histórica encontrada em obras na Doca está 98% concluída, diz Iphan

Após os trabalhos, o barco deve ser exposto no Porto Futuro, ainda sem data definida

Gabriel Pires

O processo de restauração da embarcação histórica encontrada na Doca, em agosto de 2024, está em fase de conclusão entre 98% e 100% finalizado, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Após os trabalhos, o barco, que está no estacionamento de uma faculdade particular, deve ser exposto no Porto Futuro I, ainda sem data definida. O achado arqueológico ocorreu em 12 de agosto de 2024, durante as escavações para a construção do Parque Linear, na avenida Visconde de Souza Franco, no bairro do Umarizal, em Belém.

A superintendente do Iphan no Pará, Cristina Vasconcelos, explica que a embarcação conta a história e rememora o modo de vida amazônida dos séculos passados. “Esse objeto é extremamente importante para contar nossa história, uma vez que Belém nasceu de frente para o rio. Temos uma história da comercialização pelo rio. Para o Iphan, isso é um achado extremamente importante, único no Brasil, de uma embarcação que foi deixada, não foi submersa, porque normalmente os achados são de embarcações submersas”, conta.

“Acreditamos que ela foi deixada neste local onde foi encontrada. E equipes que estavam trabalhando na obra do Parque Linear da Doca encontraram inicialmente a proa e daí nós fomos fazendo todo o acompanhamento junto com a equipe de arqueologia, a equipe de obras do local, até que nós encontramos toda a extensão de uma parte da embarcação que ela tem em torno de 25 a 30 m de comprimento. Fazer a preservação desse equipamento para o nosso patrimônio é contar a nossa história”, acrescenta Vasconcelos.

Origem

e acordo com os estudos arqueológicos e de restauro, segundo Cristina, a embarcação pode ser do século XIX e certamente era usada para o comércio. O item raro passou por um cuidadoso processo de restauração envolvendo vários profissionais. “Em agosto do ano passado, começamos a fazer todo o histórico para poder retirar essa embarcação, diante da dificuldade que nós temos por causa das nossas chuvas, do nosso clima, da estiada e das marés de subida e descida. E, com 5 meses, conseguimos tirar. Foi um processo dividido em três etapas, não foi possível tirá-la por completo”, detalha.

image Superintendente do Iphan no Pará (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

“Todo objeto encontrado não pode ser desvinculado da sua área de encontro. E nada melhor do que colocarmos a embarcação no Porto Futuro I. Isso está sendo conversado e alinhado com as secretarias de Estado e município. Ainda não se sabe a data, porque vai precisar fazer toda uma estrutura para receber um objeto tão grande e tão pesado como esse, mas a população vai ter, como se deleitar na história dessa embarcação com toda certeza”, relata Cristina.

Etapas

Sobre o processo de restauração, a museóloga que participou do processo, Doriene Monteiro, conta que, apesar do estado de corrosão do objeto, foi possível realizar todo o trabalho necessário. A estrutura estava soterrada, num lugar muito úmido, com muita lama, algumas partes do barco estavam em estado muito avançado de corrosão. Mas, para a nossa surpresa, parte desse metal ainda está saudável, justamente porque, como é um metal muito antigo, acabou resistindo às intempéries”, relata.

“A restauração começa com o básico, que é retirá-lo [de onde foi achado] e colocá-lo em um suporte para poder ter o espaço e as condições para a equipe trabalhar. Não foi um processo fácil porque se trata de um objeto de grandes dimensões e muito pesado. Foi um trabalho que envolveu uma equipe de arquitetos, conservadores, restauradores e trabalhadores da construção civil. Foi feita uma limpeza. Depois, o processo para retirada da camada de corrosão e também de desempenamento de algumas partes, porque algumas partes estavam um pouco tortas e deformadas”, explica Doriene.

image Doriene Monteiro - Arqueóloga (Foto: Carmem Helena | O)

Já nas etapas finais, produtos específicos foram aplicados sobre a embarcação para protegê-la. “E, por último, foi feita a aplicação de revestimento que protege, isola a camada de metal do ambiente e isso faz com que o processo de corrosão não ocorra ou ocorra de forma mais desacelerada. E, por ser também um objeto histórico, também não pode fazer qualquer serviço. No restauro, devemos ter um equilíbrio entre o respeito ao material e a melhor forma de protegê-lo”, destaca a museóloga.

“A restauração começou em fevereiro de 2025 e foi finalizada basicamente em julho. O que estamos fazendo agora são algumas observações e alguns retoques. Ao longo do tempo, vai exigir manutenção contínua porque a gente está trabalhando com ferro. Sempre vai ser necessário ter uma equipe que vai ser treinada para ficar verificando e fazendo as manutenções necessárias. Mas uma manutenção de grandes proporções só vai acontecer a cada 5 anos, 10 anos, dependendo muito da das recomendações dos fabricantes dos produtos que foram utilizados também”, observa.

Embarcação

Pesquisas

O arqueólogo Kelton Mendes, responsável pela pesquisa da embarcação histórica, explicou como se deu o processo desde a identificação do achado até a fase atual de estudos arqueológicos. Após a identificação, os pesquisadores registram os achados, e os relatórios são publicados no sistema do Iphan, incluindo não apenas a embarcação, mas também outros artefatos encontrados no local. As pesquisas, de acordo com Kelton, estão 60% concluídas.

image Kelton Mendes - Arqueólogo (Foto: Carmem Helena | O)

Sobre o estágio atual da investigação, Mendes afirmou que a equipe está no meio do processo. Ele detalhou que, além da curadoria e análise em laboratório, o grupo busca informações em arquivos públicos e fontes jornalísticas para correlacionar os dados arqueológicos com informações históricas já conhecidas. “Estamos num momento intermediário, que envolve várias pessoas, e buscamos compreender tanto a história das embarcações quanto a das pessoas que delas participaram”, analisa.

Mendes destacou que, além da embarcação, outros achados, como louças, cerâmicas indígenas e brasileiras mais recentes, moedas e diferentes artefatos, ajudam a reconstruir a história da ocupação europeia na região, especialmente entre os séculos XVIII e XIX. “Esses artefatos nos contam histórias sobre as pessoas que os utilizaram, desde o dono da embarcação até os trabalhadores que construíram e reformaram os objetos, incluindo indígenas e populações negras, escravizadas ou já libertas”, diz.

Confira a linha do tempo das principais ações relacionadas ao barco do século XIX:

12/08/2024: A descoberta do barco
A embarcação foi encontrada a cerca de 1 metro de profundidade, em uma área próxima ao antigo Igarapé das Almas, no trecho do canal da Doca. Segundo Kelton Mendes, arqueólogo que monitora o resgate, os segmentos encontrados pertencem à proa e à parte mesial (meio) da embarcação, que pode ter sido usada para transporte de mercadorias ou pessoas no final do século XIX e início do século XX.

11/12/2024: Resgate da proa do barco
A primeira etapa do resgate foi concluída com a retirada do fragmento da proa, que passou a ser tratado no estacionamento de uma universidade particular, onde foi montado um laboratório de conservação e restauro para análise detalhada da estrutura.

10/01/2025: Resgate do segundo segmento
A equipe de arqueologia conseguiu retirar o segundo fragmento, também da parte mesial da embarcação. Esse segmento foi transferido para o mesmo local do primeiro, onde ambos aguardavam o início do processo de restauração.

27/01/2025: Resgate do terceiro segmento
O resgate da terceira parte da embarcação, também da área mesial, foi no dia 27 de janeiro. Ao longo de cinco meses, com o acompanhamento da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) e o Iphan, o achado arqueológico passou por minuciosos procedimentos de escavação e içamento para que sofresse o mínimo de intervenção, mantendo as suas características.

Fevereiro de 2025: Início da restauração
A restauração da embarcação começou em fevereiro de 2025 e foi finalizada basicamente em julho. O que está sendo feito no momento são algumas observações e alguns retoques. 

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