Preparação física é essencial para o brilho das quadrilhas juninas em Belém
Por trás da cor e da dança, há um ritmo intenso de treinos e cuidados com a saúde para garantir o espetáculo nos arraiais.
As festas juninas se aproximam, e com elas, a magia e o colorido das quadrilhas que encantam os arraiais por todo o Pará. Mas por trás da beleza das apresentações, há um intenso trabalho de dedicação, ensaios exaustivos e, acima de tudo, muita preparação física. A Quadrilha Tradição Junina do Bengui, com mais de três décadas de história, é um exemplo de grupo que prioriza a resistência de seus dançarinos para garantir o sucesso no tablado.
Fundada há 31 anos pela moradora Otília Leão, a Tradição Junina do Bengui se destaca na capital paraense pelo envolvimento comunitário e pela valorização da cultura popular.
Tales Brito, 30 anos, publicitário e brincante, explica que a quadrilha conta atualmente com 32 pares e trará para os concursos deste ano uma adaptação da obra "A Divina Comédia", de Dante Alighieri. "Durante a apresentação, a quadrilha se divide em três atos: inferno, purgatório e paraíso, retratando essa obra literária nas coreografias e nos figurinos, que usam as cores preto e branco para representar a luta entre o bem e o mal. É um espetáculo que exige muito preparo e dedicação de todos os integrantes", detalha Tales.
Esse esforço nem sempre é valorizado, segundo Fábio Barbosa, de 43 anos, coreógrafo e estilista da quadrilha. "As pessoas não valorizam muito o nosso trabalho. Acham que brasileiro é vagabundo, mas a gente faz um trabalho muito específico para apresentar um espetáculo lindo no São João. Isso nem sempre é reconhecido, nem pelo poder público", critica. Ele também ressalta o forte vínculo do grupo: "Aqui não somos só amigos, somos uma família. Representar o bairro do Bengui nos concursos é inexplicável. O bairro todo vai assistir e dá muita energia pra gente."
Desafios do Ensaio e Adaptação
Antes mesmo das apresentações oficiais, os dançarinos da Tradição Junina do Bengui enfrentam um ambiente de ensaio desafiador: os treinos diários acontecem embaixo do viaduto da Avenida Augusto Montenegro. O local improvisado exige ainda mais esforço físico, por conta do desnível do terreno e do barulho constante dos carros.
Brenda Gomes, 31 anos, miss caipira da quadrilha, compartilha os desafios. "Bebo bastante água para aguentar, porque a gente treina todos os dias aqui, subindo e descendo o viaduto. O espaço é difícil, mas a gente guarda o local e se adapta. Esse declive até ajuda, porque já prepara fisicamente para as apresentações", conta.
Antônio Marcos, 34 anos, que está no grupo pela primeira vez, também fala sobre sua experiência. "É meu primeiro ano na Tradição Junina do Bengui. Vim de Outeiro, e estar aqui é a realização de um sonho. Muita gente subestima nosso esforço. Acham que quadrilha é pra quem não tem o que fazer, mas a verdade é que muitos vivem disso, trabalham o ano inteiro por esse momento", afirma. Ele reforça a importância do preparo: "Sem alimentação adequada, a gente desmaia. É muito esforço. Cada décimo perdido numa apresentação faz diferença."
Cuidado com Corpo e Mente
Segundo o educador físico Emerson Neves, que já foi dançarino de quadrilha por três anos, o maior desafio está no equilíbrio entre corpo e mente. "Sem dúvida nenhuma, o principal é a mente de cada dançarino. Se a mente não está equilibrada com o corpo, a coordenação motora pode acabar prejudicando a quadrilha na apresentação", alerta.
Além da saúde mental, Emerson destaca a importância de cuidados diários para quem participa de atividades físicas intensas. "Uma alimentação saudável e atividade física para fortalecer os músculos são os principais cuidados. Um corpo fraco, mal alimentado, não consegue ter energia nem para o dia a dia, muito menos para dançar com tanta intensidade. Por isso, os dançarinos precisam se alimentar bem e alongar antes de cada ensaio", orienta o educador físico.
Para evitar mal-estar durante as apresentações, Emerson sugere estratégias simples: "Tem que beber bastante água para manter o corpo hidratado, consumir alimentos com açúcar natural para não baixar a glicose, e manter uma alimentação equilibrada ao longo do dia", recomenda.
Entre os exercícios que mais auxiliam os dançarinos, ele cita corrida, caminhada e musculação. "Essas práticas ajudam a melhorar o condicionamento cardiovascular, aumentam a força, a potência, a massa magra e ainda fortalecem a respiração e o sistema musculoesquelético. Tudo isso é essencial para quem vai dançar com intensidade", conclui.
*Laura Serejo (estagiária de jornalismo, sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA