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'Praia do Telégrafo': especialista explica o motivo de local não ser uma praia de fato

Semma reforça que área não deve ser usada para banho

Emanuele Correa

O bairro do Telégrafo ganhou destaque recentemente com a "descoberta" de uma praia. No entanto, o termo praia conceitua a deposição de material sedimentar inconsolidado, solto - excluindo material lamoso -, mobilizado por ondas, correntes geradas por elas, e as correntes de marés. Para a área localizada Arthur Bernardes, Passagem São Pedro, na Comunidade Beira Mar, embora popularmente chamada de praia, não se enquadra no conceito. Desta forma a “prainha do Telégrafo” se enquadra melhor como uma área de planície de maré, ou mesmo enseada de rio.

Embora o espaço não possa ser considerado de fato uma praia, ainda assim é bem cuidado por cerca de 200 famílias que compartilham este "quintal" em comum. Diel do Carmo Santos é líder comunitário e afirma que a comunidade está trabalhando para ter moradias melhores, assim como para proporcionar espaços de convivência para as famílias, principalmente, as crianças. "Cada vez a nossa comunidade está progredindo... Aqui é o fundo das nossas casas, é uma área limpa, de lazer, da comunidade beira mar. A gente se reúne, faz limpeza, faz um evento, bingo, festa de aniversário. É um ambiente muito agradável para a família. O bingo nós fizemos para levantar um centro comunitário, a prefeitura está disposta a ajudar. Estamos regularizando os documentos da associação, aqui é bem organizado", comenta.

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Área na rodovia Arthur Bernardes pertence à Marinha do Brasil

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200 famílias residem na comunidade Beira Mar e compartilham um quintal em comum que chamam de "prainha"

A pesquisadora da Faculdade de Oceanografia da UFPA, Leilanhe Ranieri, especialista em morfodinâmica de praias explica que a área de abrangência do Telégrafo tem a influência das águas da Baía do Guajará e esclarece a razão de quando a maré secar dar impressão aos moradores de ter uma faixa de areia até chegar na água. "Trata-se de uma enseada de rio, onde areias e lamas trazidas pela dinâmica das correntes de marés são depositadas em alguns trechos da margem do rio geralmente em locais que chamamos de 'zonas de sombra', áreas em que ocorre o enfraquecimento da correnteza e, consequentemente, o acúmulo de areia ou lama. Como no entorno da área há muitas embarcações ancoradas, pode ter propiciado esse acúmulo gradativamente, com o passar do tempo", esclarece.

Leilanhe diz que o desenvolvimento destas áreas de acúmulo de areia ou lama é bem comum na nossa região: "visto que temos a influência de muitos rios, que carregam muitos sedimentos e, consequentemente, também se acumulam nas suas margens", complementa a pesquisadora.

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Segundo o Corpo de Bombeiros, locais não são oficialmente proibidos, mas orientação é 'veementemente contrária ao uso do espaço'

A professora relata que naturalmente os rios têm nas suas margens depósitos de seixo, areia ou lama e que a vegetação é bem desenvolvida em áreas quentes e úmidas, como no Pará, mas que a antropização de uma área - ação do homem no meio ambiente -, como a retirada da vegetação, pode contribuir em mudanças que deixam a margem do rio mais exposta. "Essas mudanças geram impactos que podem ser negativos, como a intensificação de processos erosivos, ou acarretar apenas na maior exposição dos sedimentos (areia e lama), quando em áreas mais abrigadas por barreiras naturais ou artificiais (as embarcações, por exemplo), tal como parece ser o caso da 'prainha do Telégrafo'", conclui.

image Diel, morador da comunidade, explica que cuidar da recente e inesperada "sensação" que é a "prainha do Telégrafo" requer muitos cuidados com a área e com as pessoas que frequentam o local (Ivan Duarte / O Liberal)

Cuidados com a praia são constantes, como defende a comunidade

Dona Socorro Barbosa é fiscal na gestão da associação da Comunidade Beira Mar, mas também uma figura bem quista e respeitada no bairro, considerada a "Avó" da comunidade. Ela conta que os moradores são muito unidos, que pretendem construir o centro social para levar atividades esportivas e educacionais para as crianças. "As crianças brincam nessa área. Nós estamos fazendo o centro para aproveitar o local. As famílias gostam daqui, de tomar um banho quando a maré está cheia. Temos uma casa de apoio de um dos moradores, que tem um congelador, nós guardamos os líquidos, fazemos um churrasco. Eu gosto de estar mais em casa, mas os meninos fazem e vão me buscar para comermos", conta sobre a relação familiar.

A repercussão do vídeo sobre a "Praia do Telégrafo" preocupou os moradores, alguns até questionaram se a visibilidade é positiva ou negativa. Socorro espera que as pessoas entendam que de fato o espaço não é uma praia, por isso, não daria para fazer uma busca massiva pelo local. Preventivamente construíram um portão na frente da entrada da comunidade e um que dá acesso ao quintal da prainha, para a segurança dos moradores, principalmente, devido a comunidade ter muita criança. "Essa área, isso aqui temos para a nossa comunidade. Limpamos, trazemos as crianças da comunidade, as pessoas almoçam aqui. Ficamos receosos, que isso expandisse, não é uma praia é só um local de lazer das famílias aqui da beira mar", declara.

Diante do assunto repercutido, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém (Semma) informou que uma equipe técnica iria ao local fazer a coleta de materiais para a realização do teste de balneabilidade. Em uma segunda nota a Semma informou que "esteve no local onde teria sido descoberta uma suposta praia, no bairro do telégrafo, em Belém, na manhã desta quinta-feira (21). Durante a vistoria, os técnicos constataram que o local se trata de uma área privada, pertencente à Marinha do Brasil, onde não há qualquer liberação para o trânsito de frequentadores ou supostos banhistas. O espaço é utilizado apenas para atender as necessidades e benefícios em prol da comunidade local. A Semma reforça que a área não deve ser usada para recreação".

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