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BRT Metropolitano: população pede mais agilidade nas obras; entenda a demora

Novo consórcio assumiu obra atualmente orçada acima de R$ 478 milhões. Prazo para conclusão foi estendido para março de 2023.

Dilson Pimentel

As obras do BRT Metropolitano, iniciadas em 2019, têm provocado reclamações de moradores e comerciantes das proximidades, além das queixas de milhares de motoristas que dependem da rodovia BR-316, única entrada e saída da capital. As obras estreitaram as pistas, causando lentidão e engarrafamento na via. Motoristas também dizem que, nos acostamentos, há muitos buracos que, com as chuvas, ficam encobertos e, assim, causam acidentes. E, nesse período chuvoso, o trânsito fica ainda mais lento nos trechos em obras.

A obra se arrasta há alguns anos e novos prazos são anunciados. O projeto Nova BR, do Governo do Estado, inclui a implantação do sistema Bus Rapid Transit (BRT), objetivando ampliar o transporte público na RMB a partir de um sistema integrado. Ele foi iniciado em 2019, tendo como primeiro prazo de conclusão 19 meses, a contar do início da obra - ou seja, era até agosto de 2020.

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Porém, a construtora Odebrecht deixou a obra em 2021. O segundo colocado no certame, o Consórcio Mobilidade Grande Belém, formado pelas empresas Construtora Marquise e Comsa S.A, foi convocado e assumiu a obra com contrato assinado em setembro do ano passado. No contrato, o consórcio ficou responsável por executar o “remanescente de obras do sistema troncal de ônibus da Região Metropolitana de Belém, incluindo a implantação do seu sistema de controle operacional”, tendo disponível o valor total de R$ 4781,1 milhões. A partir de então, foi divulgado um novo indicativo de conclusão: dezembro de 2022. Mais recentemente, porém, o prazo foi novamente esticado para o término das obras: março de 2023.

Atualmente, segundo o governo do Estado, a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão)  financia 78% das obras, enquanto os demais 22% são recursos do tesouro estadual.

De acordo com moradores que acompanham os trabalhos e vivem a expectativa pelas melhorias, a construção do BRT Metropolitano anda devagar nos 10,8 quilômetros da BR-316, em Ananindeua e Marituba. O projeto é apontado como uma das principais obras de mobilidade urbana do Estado nos últimos oito anos - só começou a sair do papel em 2019. Ele prevê que o sistema a ser implementado interligará pontos de mobilidade urbana da Grande Belém com mais rapidez - e dará mais conforto a quem precisa se deslocar entre Belém, Ananindeua e Marituba.

Bacharel em direito e especialista em mobilidade urbana e trânsito, Rafael Cristo diz que a perspectiva da população é que essa obra possa dar certo para a Região Metropolitana de Belém. Afinal, segundo ele, os moradores já têm “trauma” de obras que começam, não terminam e causam muitos impactos às comunidades.

Rafael afirmou que, ao se executar qualquer obra vinculada à questão de trânsito, à mobilidade urbana e até mesmo à segurança viária, é importante que os executores desses serviços apontem rotas alternativas. Até porque já se sabe, de antemão, que grandes obras vão realmente causar transtornos. “Mas é ideal que você traga menos impacto aos usuários. Você pode criar formas de operacionalizações, permitindo, por exemplo, que só veículos de pequeno porte circulem naquela via. Propor, enfim, soluções a fim de evitar esses transtornos para a comunidade. Transtornos esses, aliás, que não são de hoje”, pondera Cristo.

image Obras iniciaram em 2019 e seguem causando transtornos no trânsito da Grande Belém (Cristino Martins / O Liberal)

Vigilante reclama da demora das obras

Usando uma motocicleta para se deslocar pela rodovia, o vigilante Sérgio Brito, 60 anos, diz que as obras atrapalham o fluxo dos veículos e que “não tem ninguém para organizar o trânsito”. Para ele, os trabalhos que estão sendo executados “diminuíram a faixa da pista, atrapalhando mais o trânsito”. Com isso, é preciso redobrar a atenção para não haver acidentes. “E quem paga é o cidadão”, afirmou. “Eles têm que agilizar para acabar logo com essa obra para voltar ao normal”.

O auxiliar administrativo João Martins, 46 anos, sempre tem que esperar um tempo para, de bicicleta, cruzar a rodovia e poder ir para seu local de trabalho, no bairro de Águas Lindas, em Ananindeua. Para completar, no dia em que era acompanhado pela reportagem de O Liberal, chovia - o que, em condições normais, já torna o trânsito lento na capital. “O prejuízo é grande. A gente tem horário para cumprir no trabalho e essa questão do trânsito é complicada pra gente fazer a travessia”, afirma. Esse trecho fica distante do semáforo. E, por isso, as pessoas se arriscam fazendo essa travessia entre os veículos. João também espera que a obra termine logo, “para acabar com esses transtornos”.

O taxista Ranieri Oliveira, 43 anos, trabalha próximo da rua Osvaldo Cruz, em Águas Lindas. “Diminuiu a pista. Isso atrapalha o fluxo de veículos”, reclama, citando, ainda, a “buraqueira”. Nos acostamentos da rodovia, tanto no sentido Ananindeua quanto em direção a Belém, há muitos buracos. E, com a chuva, os buracos são encobertos pelas águas - e se transformam em verdadeiras armadilhas.

Os motoristas não veem os buracos, o que causa danos aos veículos e, também, provoca acidentes. “É um descaso com a população de Ananindeua. Eles não olham pra gente. Tem anos e anos fazendo isso”, afirma Cruz. O taxista arremata: para ele, a julgar pelo ritmo das obras, não há como saber quando o BRT Metropolitano ficará finalmente pronto.

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Carros à venda em loja vivem sujos de poeira

Uma loja que vende carros, situada às margens da rodovia, sofre os impactos diretos das obras. A poeira deixa os veículos sujos, o que passa uma imagem ruim para os clientes. É preciso limpar os carros várias vezes ao dia.

No local, a informação é que não é todo dia que os operários trabalham na obra do BRT. E, quando isso ocorre, e por causa dos serviços que são realizados, “a rua treme”.

Camila Vieira é consultora de vendas nessa loja, que fica no quilômetro 6. Ela disse que as obras atrapalham as vendas diárias. Um problema é o deslocamento de quem mora em Belém, porque sabe que irá enfrentar transtornos na BR. Assim, a pessoa reluta em ir até aquela loja. “Os nossos carros vivem sujos. Temos que ficar limpando toda hora”, contou. E, na frente da loja, também há lama. “A gente tem um produto, mas não pode vender como a gente quer por causa dessas obras. Atrapalha tudo”, afirmou Camila.

Bem ao lado há uma loja que vende acessórios para veículos. De imediato, nota-se a poeira no balcão de vendas, causada pelas obras. E isso porque se está no período de chuvas. “E quando é no verão? Aí é que não tem jeito”, comenta Paulo Guedes, que trabalha naquela loja. Ele é prejudicado como comerciante e como usuário da BR-316. “No comércio afeta porque os clientes são impedidos de chegar aqui com mais frequência e mais rápido”, contou. “Como usuário, o engarrafamento torna-se muito imenso, ainda mais quando tem uma batida de carro ou um carro dá um ‘prego’. O transtorno é muito grande”.

Para Guedes, que mora relativamente perto de onde trabalha, em condições normais, leva-se no máximo 15 minutos para chegar em casa. “Engarrafado, eu gasto 40 minutos”, conta ele, lembrando da promessa feita pelo atual governo estadual - de que a obra seria concluída em 18 meses. “Aí, veio a pandemia e se ampararam nisso. Agora, ninguém sabe quando vai acabar”.

image Além dos engarrafamentos, danos estão sendo causados ao pavimento da pista e piorando a trafegabilidade (Cristino Martins / O Liberal)

Projeto é discutido há mais de 20 anos

Os primeiros estudos na RMB para melhorias na entrada e saída de Belém começaram a ser elaborados ainda na década de 1990, por meio de acordos de cooperação técnica entre o governo do Estado e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica).

Na época, foi elaborado o primeiro plano de transporte para RMB. Em 2000, uma atualização foi feita visando a implantação do sistema integrado e prevendo ampliação da entrada da capital.

Três anos depois, em 2003, um novo estudo de viabilidade foi projetado, mas somente em 2010, foi atualizado. A partir disso, foi elaborada a carta consulta para empréstimo internacional junto à Jica, visando a implantação desse sistema. A garantia do investimento ocorreu em 2012.

Depois, se iniciou um longo impasse envolvendo o governo do Estado e o governo federal: por ser federal, a rodovia não poderia receber intervenções e obras da gestão estadual. Foi assim que o então presidente Michel Temer, em 2016, assinou portaria repassando a cessão do trecho à administração estadual.

Apenas em 2018 saiu resultado da licitação, vencida pela Odebrecht. E as obras iniciaram efetivamente em janeiro de 2019. E, em 2021, a segunda colocada assumiu o serviço após desistência da Odebrecht.

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