Leitora do jornal O Liberal completa 100 anos com alegria, lucidez e muitas histórias
Benedita de Souza Kleinlein, conhecida como dona Zizi, celebra 100 anos neste domingo (3/8)

O sorriso aberto de Benedita de Souza Kleinlein, conhecida como dona Zizi, enche de alegria a sua família, no bairro do Marco, em Belém. Neste domingo (3), ela chega aos 100 anos de vida com alegria, lucidez e muitas história. Há décadas, ela mantém a rotina de se informar diariamente pelas páginas do jornal O Liberal. Assim como o jornal registrou a história de Belém, do Pará e do Brasil, também acompanhou a trajetória da família. “Desde nova, mocinha, eu gostava de ler O Liberal. Para mim, o jornal principal é O Liberal. Eu gosto. Todo dia eu leio”, assegura a aniversariante.
Nascida em 1925, na Santa Casa de Misericórdia, Benedita cresceu numa capital sem televisão, internet, arranha-céus ou trânsito caótico. A vida era muito diferente da vivida na capital paraense de 2025.
A Belém de 1925 estava inserida no turbulento contexto do Brasil da Revolta dos Tenentes, iniciada na famosa marcha dos 18 do Forte, em 1922, no Rio de Janeiro. Militares revoltaram-se contra a 1ª República, conhecida como República Velha ou República Oligárquica. O movimento tenentista, que surgiu como crítica à política das oligarquias agrárias, daria origem à Coluna Prestes e, anos depois, à Revolução de 1930. Os tenentes levariam Getúlio Vargas ao poder. No Pará, a revolta levaria Magalhães Barata ao governo, de 1930 a 1935.
Quando menina, Benedita foi criada em Ananindeua, onde consumia muitas frutas, como araçá e açaí, próxima a uma nascente de água mineral, na região da bacia do rio Maguari. Na adolescência, mudou-se para a casa da madrinha, em Belém, para cursar o ginasial — equivalente hoje ao ensino médio.
Foi nesse período, morando com a madrinha, que Benedita conheceu Bruno Kleinlein, descendente de uma das primeiras famílias de imigrantes alemães no Pará. Os Kleinlein haviam deixado a Alemanha rumo ao Brasil antes da 1ª Guerra Mundial (1914–1918). Bruno conheceu Benedita ainda jovem e, a pedido da família, esperou que ela amadurecesse para que pudessem se casar.
“Ficamos namorando, e a minha madrinha disse para mim: ‘Tu gostas desse rapaz? Tu vais te casar com ele?’. Eu disse: ‘Eu gosto dele; agora, se ele vai casar comigo, eu não sei’. Quando perguntaram, ele disse: ‘Vou me casar com ela’. Ele foi a Ananindeua e me pediu em casamento para os meus pais”, relembra. Os pais de Benedita não concordaram de imediato, pois consideravam a filha muito nova para se casar. O amor de Bruno fez com que ele esperasse até que Zizi estivesse pronta para o matrimônio.
O casal teve quatro filhos: Frederico, Vera, Valter e Cândida Rosa. Benedita recorda com carinho a relação. “Quando me casei tinha 22 anos, e ele tinha 30 e poucos, e já era um homem bem maduro e vivido. Foi um homem muito bom mesmo. Apareceu, depois que fiquei viúva, uns gaiatos, mas eu nunca quis. Não quis de jeito nenhum. Graças a Deus estou viúva até hoje e sinto muita falta do meu marido”, conta.
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Dona Zizi acompanhou muitos acontecimentos pelas páginas de O Liberal, depois pela Rádio Liberal e, mais tarde, pelos telejornais da TV Liberal. A própria história da família esteve estampada no jornal, com fotos de aniversários nas colunas sociais e até reportagens sobre a origem dos Kleinlein no Pará. Ao longo dos anos, leu inúmeras matérias, mas nenhuma lhe marcou tanto quanto ver os nomes dos netos nas listas de aprovados no vestibular. Desta vez, a matéria sobre sua própria história será motivo de orgulho para toda a família. “Eu vou ficar contente de aparecer nas páginas de O Liberal. Ainda estou bem lúcida, para minha satisfação”, comemora.
Atualmente, os descendentes do casal já ultrapassam 30 entre netos, bisnetos e tataranetos. Uma das netas, Bruna Kleinlein, relembra a influência que o incentivo à leitura de dona Zizi teve em sua vida. “Foi maravilhoso, porque a minha infância foi tendo esse contato com o jornal. Os trabalhos escolares eram baseados nas fotos dos jornais. Ela guardava pilhas de jornais para a gente; como referência de pesquisa, a gente recortava os nossos jornais para fazer algum trabalho”, detalha.
Bruna lembra também que a avó sempre participava das promoções da Rádio Liberal. “Ela equipou uma casa com os prêmios”, brinca. Dona Zizi chegou a ganhar um quarto de boi, eletrodomésticos e outros prêmios. Nos aniversários, todos os locutores da Rádio Liberal desejavam felicidades à ouvinte fiel. No jornal O Liberal, colunistas como Isaac Soares também faziam questão de parabenizá-la. “Ela gostava sempre de colocar quando eram os 15 anos dos netos nas colunas sociais, por ter essa referência do Liberal. E até hoje ainda mantém o hábito da leitura e essa vontade de se atualizar com as notícias”, destaca.
Diariamente, dona Zizi acorda cedo e toma café servido pelos familiares. Em seguida, espera o filho mais velho, Frederico, chegar para jogarem baralho. O primogênito faz questão de visitar a mãe todos os dias, transformando a brincadeira em um momento de lazer e de exercício mental. “É bom para a mente dela”, assegura Fred. Aos domingos, dona Zizi lê o jornal, almoça cedo e depois assiste à TV Liberal. “Eu gosto de ler para saber todas as notícias. Eu fico satisfeita”, enfatiza.
O segredo para a longevidade com lucidez está em uma combinação de alimentação saudável, exercício para a mente e alegria diária. A leitura é um desses segredos. “Ela gosta de ver as principais notícias da capa do jornal, não deixa ninguém ler antes dela. É ela que tem que abrir para ler primeiro e, depois que termina, estamos liberados para ler. É muito bom, porque ela exercita a mente com a leitura. Às vezes, há notícias antigas que ela lembra de ter lido no jornal. Ela se assusta às vezes com algumas notícias da atualidade; para quem tem 100 anos, é surpreendente ver certas coisas acontecerem. É muito bom vê-la ainda ativa e com essa vontade”, conta a neta.
O aniversário será comemorado com a família em casa, após um momento de oração pela vida da matriarca. “Deus tem sido muito bom para mim. É difícil a pessoa ter a felicidade de completar 100 anos, e Deus permitiu que eu completasse. Estou satisfeita! No dia que Ele quiser me levar, eu vou e não fico aborrecida. Fico contente, porque vou direto para o céu”, ensina.
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