Caso Sheila: família vai pedir indenização e pensão após morte da paciente em cirurgia de vesícula
Sheila Belúcio morreu no dia 15 de julho em decorrência de complicações após uma cirurgia no Hospital Rio Mar, em Belém
A família de Sheila Barros Belúcio, de 50 anos, que morreu no dia 15 de junho após complicações decorrentes de uma cirurgia de vesícula no Hospital Rio Mar, em Belém, vai entrar com uma ação na Justiça solicitando indenização por danos morais e materiais contra a unidade de saúde. Além da reparação financeira, os familiares também pretendem pedir o pagamento de pensão ao marido da vítima, Jonathan Belúcio, de 33 anos, com quem Sheila era casada há mais de seis anos.
Sheila era a principal referência da estrutura familiar e provedora do lar. Dois meses após o ocorrido, os parentes de Sheila formalizaram denúncias junto ao Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) e à Polícia Civil. Até o momento, nenhum membro da família foi chamado para prestar depoimento formal na Delegacia do Marco, onde o caso está sendo investigado.
Investigação
A Polícia Civil do Pará está investigando a morte de Sheila Barros Belúcio, conforme confirmado ao Grupo Liberal na última segunda-feira (21). Em nota, a corporação informou que “o caso segue sob investigação”. A apuração foi iniciada a partir de uma notícia-crime protocolada no dia 8 de julho, denunciando suposta falha médica e negligência no atendimento à paciente.
A família de Sheila aponta que os profissionais envolvidos devem ser investigados por homicídio com dolo eventual e homicídio culposo qualificado. Segundo os relatos, Sheila não recebeu atendimento médico adequado após uma cirurgia para retirada de pedra na vesícula, realizada em 12 de junho. O procedimento era considerado simples e eletivo, mas, no dia seguinte, ela apresentou piora clínica, com dores intensas e vômitos constantes.
Agravamento do quadro
Mesmo com repetidos pedidos de avaliação médica durante a madrugada, a paciente só teria recebido atendimento efetivo no dia seguinte, de acordo com a família. No dia 14, Sheila foi transferida em estado grave para a UTI e passou por uma nova cirurgia, após diagnóstico de perfuração intestinal e infecção generalizada.
Outro fator agravante do caso é que, segundo relatos das acompanhantes e do marido da paciente, mesmo com pedidos recorrentes de ajuda durante a madrugada do dia 13, a paciente não foi avaliada por um médico de plantão. Apenas medicações foram administradas por enfermeiros, sem uma análise mais aprofundada do caso.
Diante da gravidade do caso, os familiares acionaram o Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) em 24 de junho, protocolando uma denúncia e pedindo apuração rigorosa. Em nota divulgada no dia 11 de julho, o CRM informou que uma sindicância foi instaurada e que o processo tramita sob sigilo, conforme previsto no Código de Processo Ético-Profissional (Resolução CFM 2306/2022).
Ainda sobre a gravidade do caso de Sheila, uma análise técnica feita no prontuário revelou de forma sintética a existência de um risco previsto, a partir da descrição cirúrgica, ao relatar "múltiplas aderências no abdômen e a necessidade de liberação dessas aderências" - relacionando à primeira cirurgia feita por Sheila.
Riscos na cirurgia
Ainda segundo a análise feita no documento, apesar da complexidade e dos riscos agregados por esta extensa manipulação, a nota operatória concluiu que o procedimento transcorreu "sem intercorrências" e a previsão de alta foi estabelecida para 24 horas. Após a cirurgia, os registros médicos e de enfermagem disponíveis tornam-se escassos e protocolares, falhando em descrever uma evolução clínica que, inevitavelmente, deve ter sido de progressiva piora.
Já na tarde do dia 14 de junho, segundo a análise do prontuário, a paciente apresentou um quadro de "abdômen agudo perfurativo" e "choque séptico de foco abdominal", sendo indicada uma laparotomia de urgência. A paciente foi levada ao bloco cirúrgico já em estado gravíssimo, "cianótica, hipotensão e taquicardia, sem débito urinário quantificável". Por conta desse agravamento, a segunda cirurgia foi necessária.
O procedimento, iniciado às 19h34 do dia 14 de junho, revelou a causa da complicação: "aderência intestinal ocasionando torção e isquemia de segmento de delgado com perfuração do mesmo". Após o procedimento, foi transferida para a UTI, onde, apesar de todas as medidas de suporte intensivo, evoluiu com parada cardiorrespiratória e óbito às 16h17 do dia 15 de junho.
Em nota reforçada na sexta-feira (1º/8), a Polícia Civil do Pará informou que o caso segue sob investigação.
Nota do hospital
Procurada pela reportagem, a assessoria do Hospital Rio Mar divulgou uma nova nota na noite da sexta-feira (1º/8). Confira a nota na íntegra:
“O hospital se solidariza com a família e os amigos da paciente neste momento de dor, compartilhando o sentimento de tristeza e respeito diante da perda. Todo o atendimento necessário foi prestado, com acompanhamento contínuo de uma equipe multidisciplinar e monitoramento permanente durante toda a internação. Todas as informações sobre o quadro clínico e as condutas adotadas foram comunicadas à família. Após a realização do procedimento cirúrgico, diante de uma complicação clínica, a equipe agiu prontamente, adotando todas as medidas e protocolos assistenciais adequados ao estado de saúde apresentado.Reforça-se o compromisso permanente com a transparência e a responsabilidade no cuidado à saúde. Informa também que não foi notificada oficialmente, mas qualquer manifestação, se necessária, será feita dentro dos autos. Uma equipe de acolhimento está dedicada a prestar todo o suporte necessário à família, estando à disposição para quaisquer esclarecimentos”
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA