Doces virais acendem alerta para excesso de açúcar e riscos à saúde de pessoas com diabetes

Para quem convive com o diabetes, ferramentas tecnológicas têm facilitado o monitoramento da glicemia.

Bruna Lima
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Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por uma nova febre gastronômica, os chamados “doces do amor”, preparações que combinam frutas, como morangos, mergulhadas em camadas generosas de caramelo ou leite condensado e envoltas por confeitos coloridos. Embora a estética chamativa e o apelo romântico tenham impulsionado a tendência, especialistas alertam para o risco do consumo excessivo desse tipo de guloseima, principalmente para pessoas com condições metabólicas como o diabetes.

“O problema não é o morango, que tem baixo índice glicêmico, mas sim o excesso de açúcar presente nas caldas e coberturas. As redes sociais priorizam o viral, e não a informação de qualidade. Isso é preocupante do ponto de vista da saúde”, afirma o endocrinologista Rubens Tofolo, presidente da regional da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Segundo o médico, o fenômeno dos doces virais ilustra como conteúdos visuais se propagam rapidamente sem que se avaliem impactos à saúde. “Tudo o que é visto, é lembrado. E quanto mais se vê, mais se quer. A trend toma proporções imensuráveis, mas a saúde acaba ficando em segundo plano”, pontua Tofolo.

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Mesmo para quem não possui doenças preexistentes, a ingestão frequente de açúcar pode desencadear alterações preocupantes. “Consumir açúcar em excesso é um risco severo, principalmente em quem já apresenta fatores como obesidade, inflamação e triglicerídeos altos, que elevam o risco cardiovascular”, explica. Ele destaca ainda que a frutose, presente em parte desses doces, é metabolizada pelo fígado, podendo agravar quadros hepáticos.

Para quem tem pré-diabetes ou diabetes tipo 2, o perigo é ainda maior. “Uma bomba de açúcar como o morango do amor pode elevar bruscamente a glicose e complicar muito a saúde desses pacientes”, alerta o endocrinologista.

Tofolo reforça que não existe um limite “seguro” universal para o consumo diário de açúcar. “Eu costumo dizer que nada está proibido, desde que não existam excessos”, afirma. No entanto, em casos de glicemia descontrolada, ele recomenda evitar totalmente doces virais como os que circulam atualmente.

Entre os sinais de alerta para quem pode estar exagerando no açúcar, ele cita picos e quedas de energia, alterações de humor, processos inflamatórios crônicos e perda de peso não intencional, este último, um dos sintomas mais visíveis do diabetes.

O médico aconselha moderação e a priorização de alimentos integrais: “Frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais são aliados. Também é importante reduzir ultraprocessados e monitorar com exames frequentes”.

Logo após o diagnóstico de diabetes, João, que hoje tem 11 anos, começou a usar o sensor de monitoramento contínuo de glicose. A indicação partiu da endocrinologista responsável, assim que os exames de rotina apontaram níveis muito elevados de glicemia.

“Em 24 horas, ele já estava utilizando o sensor FreeStyle Libre, e foi um facilitador incrível para o nosso controle diário”, conta Josiane Pereira, mãe de João. 

“O sensor veio como um total facilitador nesse controle glicêmico. Ele permite correções no momento certo, o que possibilita um controle muito mais eficiente”, afirma Josiane. O aparelho oferece uma atualização a cada cinco minutos dos níveis de glicose, o que ajuda os pais e responsáveis a acompanharem de perto qualquer oscilação perigosa.

Josiane explica que mesmo com a contagem de carboidratos, muitas vezes é difícil acertar a dosagem exata da insulina. O monitoramento contínuo permite intervenções imediatas e evita tanto episódios de hiperglicemia quanto de hipoglicemia. “É um forte aliado no cotidiano da criança e oferece mais autonomia, inclusive para ela mesma entender como seu corpo funciona”.

A tecnologia também permite que os responsáveis acompanhem os dados de glicemia em tempo real por meio de um aplicativo no celular, o que dá mais segurança mesmo quando a criança está fora de casa. “Eu consigo acompanhar enquanto ele está na escola ou em outra atividade. Os alarmes também nos avisam quando a glicose está subindo ou caindo. É um instrumento essencial”. Para Josiane, o mais importante é mostrar ao filho que ele pode ter uma vida saudável e feliz, mesmo com o diagnóstico. “

Controle da glicose e tecnologia

Para quem convive com o diabetes, ferramentas tecnológicas têm facilitado o monitoramento da glicemia. O sensor de glicose, por exemplo, mede continuamente os níveis de açúcar no líquido intersticial e envia os dados para o celular do usuário. “Isso permite agir rapidamente em caso de desequilíbrios e adaptar dieta, medicamentos e atividades físicas”, explica Tofolo. O dispositivo pode ser usado por pessoas com diabetes, gestantes e até indivíduos que desejam compreender como o organismo reage a diferentes alimentos.

Outra inovação importante é a bomba de insulina, dispositivo que administra doses contínuas e programadas do hormônio, proporcionando maior estabilidade glicêmica em comparação às aplicações manuais.

Quem vive essa realidade no dia a dia é a estudante Laura Guimarães, de 18 anos, diagnosticada com diabetes tipo 1 aos sete anos. Após anos utilizando a caneta de insulina, ela encontrou na bomba uma solução para episódios frequentes de hipoglicemia, quedas perigosas de glicose que, à noite, chegavam a colocar sua vida em risco.

“No começo, foi difícil me adaptar. É como ter uma parte a mais no corpo”, lembra. “Mas a bomba mudou minha vida. Eu passei a dormir melhor, sem acordar de madrugada por causa das hipoglicemias. Em festas ou quando estou fora de casa, também ficou mais fácil controlar os petiscos: basta informar o carboidrato no aparelho e a bomba calcula a insulina necessária”, relata.

O equipamento, no entanto, impõe desafios. Laura precisa retirá-lo em atividades aquáticas e lidar com a curiosidade das pessoas: “Eu tinha vergonha na adolescência, mas superei. Hoje vejo que as pessoas perguntam mais por curiosidade do que por preconceito”, diz.

Apesar dos avanços, o acesso à bomba de insulina enfrenta entraves no Pará. Segundo Laura, o dispositivo era fornecido pelo Hospital Jean Bittar, vinculado ao SUS, mas a distribuição foi suspensa após a interrupção de parceria com a empresa que produzia o modelo.

“Quem dependia da bomba pelo SUS ficou sem o tratamento. Muitos pacientes estão se mobilizando para cobrar uma solução do governo”, afirma a jovem. A situação afeta diretamente o controle glicêmico e expõe usuários a riscos maiores em meio a tendências de consumo como a dos “doces do amor”.

Alerta para além das redes

Para especialistas, o caso reforça a importância da educação alimentar e do acompanhamento médico regular. “O açúcar é uma fonte rápida de energia, mas em excesso ele se transforma em gordura e pode gerar inflamação crônica. Não se trata de demonizar o doce, mas de entender que moderação e informação são essenciais”, conclui Tofolo.

Enquanto as redes sociais ditam modas culinárias que mudam a cada semana, pessoas como Laura lembram que, por trás das “gostosuras do momento”, existe uma rotina de cuidados que vai muito além do que aparece na tela.

O que é o sensor de glicose?

Aplicado na pele, geralmente no braço ou no abdômen, o Libre mede a glicose no líquido intersticial, envia os dados para um receptor, geralmente sediado em um smartphone, através de Wi-Fi via aplicativo.

O sensor oferece informações detalhadas sobre as oscilações da glicose ao longo do tempo, permitindo agir rapidamente em caso de desequilíbrio dos níveis de glicose.

O que é bomba de insulina ?

Uma bomba de insulina é um pequeno aparelho eletrônico que administra insulina de forma contínua e programada a pessoas com diabetes, simulando a função do pâncreas de forma mais precisa do que as injeções tradicionais. Ela funciona através de um cateter inserido sob a pele, geralmente no abdômen, que libera insulina de ação rápida de acordo com as necessidades individuais do paciente.

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