Pará registra 164 casos e 2 óbitos pela doença de chagas em 2022; vídeo

A pesquisadora e diretora da Fiocruz, Tânia Araújo-Jorge, que está em Belém, fala sobre o cenário da doença na Amazônia

Laís Santana

O Pará registrou, de janeiro a novembro deste ano, 164 casos e dois óbitos pela doença de chagas, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Estado (Sespa). Em 2020 foram registrados 230 casos de Doença de Chagas no Pará e 2 óbitos. Já em 2021 foram confirmados 285 casos da doença, com registro de 2 óbitos. A cidade de Belém, capital do estado, é considerada o município brasileiro que registra o maior número de casos da doença aguda em todo o Brasil. Por isso, para combater a invisibilidade da doença e promover informações sobre prevenção e tratamento, Belém recebe, nesta sexta-feira (11), a expedição itinerante 'Expresso Chagas XX1', da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que traz atividades de ciência e arte dedicadas à doença de Chagas, além de oferecer oportunidade de diagnóstico gratuito.

Durante a missão acabou descobrindo no sangue de animais e de pessoas da região um novo microrganismo, que chamou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao seu mestre, Oswaldo Cruz. Além do parasita, Chagas descreveu a doença aguda, a doença crônica, o inseto vetor (popularmente chamado de “barbeiro”), os animais reservatórios e as condições sociais de pobreza que propiciam a transmissão do parasita e o desenvolvimento da doença.

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A coordenadora do projeto e diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Tania Araújo-Jorge, explica que o 'Expresso Chagas XXI' está pautado em dois grandes objetivos: falar da doença de chagas pelo Brasil, principalmente nas regiões endêmicas, e ajudar a fazer busca ativa dos portadores crônicos da doença de chagas. Outro objetivo do projeto é constituir e fortalecer a Associação de Amigos e Portadores da Doença de Chagas do Pará. 

"Aqui no Pará temos uma estimativa que existam 200 mil pessoas portadoras da doença de chagas, pessoas que não sabem, que nunca fizeram teste, mas já tiveram em vários contextos em que a transmissão pode ter ocorrido. De modo geral, a transmissão ocorre com uma baixa carga parasitaria, passa despercebido e a pessoa passa pela fase aguda e não sabe que teve a doença de chagas, mas é uma doença tratável quanto mais cedo a gente descobrir", pontua. 

No Pará existem duas principais vias de transmissão: via oral, com açaí e outros alimentos contaminados; e a transmissão vetorial através do barbeiro. O que muita gente não sabe é que existe tratamento para doença de chagas, ressalta a coordenadora. "O tratamento é gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas tem que ser notificado, então não vende na farmácia, é um tratamento que o médico dos hospitais públicos solicita ao Ministério da Saúde. A medicina privada não trata a doença de chagas."

Cenário da doença na Amazônia 

Tania Araújo-Jorge avalia que o cenário da doença de chagas na amazônia inspira muita preocupação por ser uma doença que pode ser controlada, que vai diminuindo, ou aumentar, tudo depende de políticas públicas.

"Temos várias condições ambientais que podem gerar riscos para doença. A gente trabalha com a ideia de cenários de risco e na Amazônia temos muitos cenários de risco. A gente pode trabalhar esse risco tendo os sentinelas como os animais domésticos que a gente pode investigar, a notificação de casos agudos é outro sentinela, aparecimento de problemas no coração muito agudos também. É de muita preocupação a população não saber os riscos que ela corre quando está num ambiente que pode ter o barbeiro e fechar o ciclo", afirma.  

Pesquisas estudam a criação de vacinas e medicamentos 

Em termos de pesquisa, o estudo da doença de chagas tem avançado no Brasil, na Fiocruz e em outras universidades, e no exterior, visando entender melhor os mecanismos, a diversidade dos parasitas, estudos genômicos, questões ambientais, dentre outros. "O número de pesquisas em doença de chagas é cerca de mil vezes menor que outras doenças importantes, isso também mostra uma outra dimensão da negligência com relação à doença", afirma a pesquisadora. Existem ainda pesquisas sobre vacinas e medicamentos desenvolvidas pelo programa Fio-Chagas, da Fiocruz, com uso de selênio encontrada na Castanha do Pará. 

image Pesquisadora Tania Araújo-Jorge, coordenadora do projeto 'Expresso Chagas XXI', defende a necessidade de uma agenda cientifica que possa ampliar as pesquisas com relação à doença de chagas (Filipe Bispo / O Liberal)

Durante a realização do 'Expresso Chagas XXI', a equipe de pesquisadores e facilitadores irá validar o teste rápido que a Fiocruz está produzindo para doença de chagas. A “tripulação do trem” é formada por mais de 90 pessoas, entre profissionais da Fiocruz do Rio de Janeiro, membros da Associação Rio Chagas e Associação Paraense de Portadores de doença de Chagas e por vários profissionais paraenses que realizaram o curso de formação de agentes populares de saúde do Expresso Chagas XXI, com o objetivo de se tornarem multiplicadores do conhecimento.

O 'Expresso Chagas XXI' é um projeto realizado em parceria com a Universidade do Estado do Pará (UEPA), a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Instituto Evandro Chagas (IEC), o Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), as Secretarias de Saúde do Estado do Pará e do Município de Belém, o Instituto Tecnológico Vale, e a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, que realiza o MedTrop 2022 - seu 57º Congresso- em Belém.

A ação será realizada no Centro de Ciências e Planetário do Pará, na Av. Augusto Montenegro, s/n - Km 03 - Mangueirão - Belém. No dia 11, o projeto funcionará das 8h às 17h e no dia 12, das 8h às 12h, com entrada gratuita. 

Serviço:
“Expresso Chagas XXI”, iniciativa de promoção da saúde em doenças de Chagas da Fiocruz
Centro de Ciências e Planetário do Pará
Av. Augusto Montenegro, s/n - Km 03 - Mangueirão - Belém
Dia 11, das 8h às 17h
Dia 12, das 8h às 12h
expressochagas.com

Instagram: @expressochagas

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